segunda-feira, março 18, 2019



Em Maçonaria, os símbolos e rituais servem para colocar ao dispor do maçom os conhecimentos, os temas, os valores com significado e importância no ideário maçónico. O que cada maçom aprende ou não aprende, reflete ou não reflete, assimila ou não assimila em face desses símbolos ou rituais é com ele. Cada um é como é e livremente aproveita (ou não) da forma que melhor entende o que lhe é proporcionado. 

Ao longo do seu percurso, o maçom é confrontado, simbólica e ritualmente, com a morte. Desse confronto, fará a reflexão que quiser ou for capaz, tirará a lição que conseguir tirar. Mas é importante que ese confronto exista.

A morte - sabemo-lo, embora mutos o procurem esquecer pelo máximo de tempo possível... - é inevitável. A todos chegará, a cada um na sua hora. Normalmente, quanto mais novos somos, mais afastamos esse tema do nosso pensamento. É uma desagradável questão distante com que esperamos não ser confrontados por décadas - se nos detemos a pensar nisso ainda vamos deprimir e mais vale mas é pensarmos no que vamos fazer hoje e amanhã e esta semana e nas próximas férias...

No entanto, os maçons são confrontados com a morte e assisado é que reflitam sobre esse tema. Desde logo, porque fazendo-o quando a morte não lhes está iminente, tal lhes permite racionalmente fazerem a sua análise e, sem urgências, ficarem em paz com a certeza de que um dia ela os atingirá.

A morte faz parte da vida. O ciclo natural do nascimento, crescimento, maturidade, declínio, morte está presente em todos os seres vivos, é ínsito à Vida. Quanto mais cedo e melhor aceitarmos isso, mais cedo e melhor estaremos em condições de aproveitar e viver plenamente a vida.

Para o crente, a morte não é o fim, mas uma Passagem. Mas, deste lado da mesma, forçoso é reconhecer que é uma Passagem para o Desconhecido...

A morte, o reconhecimento da sua inevitabilidade e, portanto, a sua aceitação, é, desde logo um importante fator de consciência da fundamental Igualdade entre todos nós.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama, logo no seu art. 1.º, que todos os seres humanos nascem livre e iguais em dignidade e em direitos. Mas, ao contrário do que possa parecer, a parte final desta proclamação ("em dignidade e em direitos") restringe o alcance da primeira parte da frase. E fá-lo bem, porque, em bom rigor todos os seres humanos, sendo essencialmente iguais, são individualmente diferentes. Uns nascem em berço de ouro, outros em pobres enxergas. Uns são geneticamente dotados de saúde, outros têm a infelicidade de virem a este mundo com doenças congénitas. Uns são inteligentes, outros nem tanto assim. Uns são belos, outros nem por isso. Pese embora a proclamada igualdade "em dignidade e em direitos", temos que reconhecer que, parafraseando George Orwell em O Triunfo dos Porcos, "uns são mais iguais do que outros". Uns, bafejados pela genética, mas também condições sociais, partem para a jornada da vida com vantagem. Outros terão de superar deficiências, insuficiências, simples acasos como o lugar de nascimento ou de colocação social dos seus genitores para lograrem atingir os mesmos objetivos e patamares muito mais facilmente atingidos pelos bafejados pela sorte na sua conceção e nascimento.

Quer queiramos, quer não, apesar da fundamental Igualdade entre os seres humanos, a verdadeira, a completa, a material Igualdade só existe na morte! A morte é o encerrar do ciclo neste plano de existência para o milionário e para o indigente, para o belo e para o feio, para o inteligente e para o menos dotado. A morte é a Grande Igualizadora!

Entender a nosa finitude e aceitá-la, mas também entender a fundamental Igualdade que a todos junta na morte é essencial para entendermos e fruirmos completamente a Vida.

A essencial Igualdade da morte é que todos, rigorosamente todos, quando chega esse momento tudo deixam para trás: riquezas, estatuto, honras, mas também dívidas, condenações e opróbrios.

Acumular riquezas, obter estatuto, receber honras implicam esforços, escolhas, renúncias. Ter suficientes bens materiais para poder proporcionar a si e aos seus uma vida segura e confortável e fazer sacrifícios para isso é entendível. Prescindir de fruir plenamente a vida só para acumular riquezas muito para além dessa medida e que, chegada a hora da morte, para trás ficarão, não será, para muitos, uma prioridade. O mesmo quanto ao estatuto, que inexoravelmente termina com a morte física, e com as honras, que gradualmente se desvanecem nas memórias dos que ficam até inevitavelmente desaparecerem, ou, quando muito, e em reduzido número de casos, se limitarem a referências nos livros de história ou de uma qualquer especialidade. Mesmo os grandes, celebrados e recordados artistas, heróis e criadores desconhecem, após a sua morte, que permanecem celebrados e recordados...

Portanto, a consciência e a aceitação de que a nossa vida é finita e que, chegada a morte, tudo deixamos para trás, em bom rigor não são pungentes, não são atemorizadora, são libertadoras, porque essa consciência e aceitação nos permitem viver e fruir plenamente a Vida.

A vida á para ser vivida da forma mais livre, mais pujante, mais compensadora, que nos for possível.

A VIDA É BELA! Mas só temos total consciência disso e a plena capacidade de a fruir depois de termos encarado a nossa finitude e de estarmos em paz com a nossa morte.

Rui Bandeira

segunda-feira, março 11, 2019



Há alguns anos, fazia uma viagem por automóvel entre Dubrovnik, na Croácia, e Mostar, na Bósnia-Herzegovina. Receoso do alcance das redes móveis de dados, naquela região, tinha-me preparado, baixando para o meu telemóvel uma aplicação de GPS que funciona com mapas pré-instalados e que, assim, dispensava a necessidade de recurso a redes de dados móveis.

Cruzada a fronteira entre a Crácia e a Bósnia-Herzegovina, o GPS deu indicação para abandonar a estrada principal e tomar uma estrada secundária. Estou habituado a confiar nas indicações do GPS, que muitas vezes nos apontam insuspeitos caminhos mais curtos ou mais rápidos. Assim, não hesitei e abandonei a estrada principal e enveredei pela secundária.

Alguns quilómetros adiante, a estrada cruzou uma aldeia, com ar de semi-abandonada. Gente, muito pouca - e só idosos. Mas o que mais chamava a atenção era a visão de muitos edifícios semidestruídos. Não por algum abalo de terra, mas evidenciando marcas de terem sido atingidos por projéteis de artilharia. A guerra nos Balcãs terminara há já mais de vinte anos, em 1995. Mas aquela meio deserta povoação ainda exibia abundantes e expressivas cicatrizes do que então sofrera com o conflito.

Um pouco mais à frente dessa povoação, a estrada encontrava-se visivelmente deteriorada, esburacada e invadida por vegetação. Mas - pior! - de ambos os lados da vereda (já não era uma estrada...), viam-se, a intervalos regulares, uns "simpáticos" sinais ostentando o conhecido ssímbolo da caveira entre duas tíbias, acompanhado do aviso de "cuidado - minas". Foi a altura de reanalisar a decisão de seguir o caminho indicado pelo GPS! Ter-me-ia enganado a colocar o destino? Haveria alguma outra Mostar que não aquela a que me pretendia dirigir? Reintroduzi o destino no GPS, assegurei-me de que só havia uma Mostar no mapa da aplicação. O GPS continuou, imperturbável (como as máquinas são...), a indicar que o melhor percurso era prosseguir em frente. Refleti um pouco. Os locais onde haveria ainda minas estavam devidamente assinalados e situavam-se fora da estrada. Desde que me mantivesse nesta, não deveria haver problema. O caminho estava visivelmente deteriorado, mas, afinal eu já verificara que atravessava uma zona que sofrera uma guerra e ainda não estava recuperada dos estragos. E, afinal, já por várias vezes o GPS me indicara caminhos com troços em mau estado, mas que depois voltavam a ser boas ou razoáveis estradas. Decidi prosseguir.

Porém, trezentos ou quatrocentos metros adiante, subitamente... deixou de haver estrada. Um matagal obstruía completamente o caminho. Sai do carro e fui ver mais de perto. Logo atrás do matagal, e encoberto por este, vi um novo aviso de "cuidado - minas". Só que agora não estava do lado da estrada. Daí para a frente, a estarada, a vereda, já não era mais do que... um campo de minas!

Clar que fiz inversão de marcha, refiz de volta toda a estrada secundária e, ignorando o GPS, retomei a estrada principal! Uns quilómetros mais à frente, no alto de uma elevação, parei para apreciar a paisagem e tirar umas fotos. Foi então que vi um letreiro, em madeira, virado para o território de onde vinha, escrito em língua local, mas percebendo-se bem que o seu significado era qualquer coisa como: "Está a entrar na Republika Srpska". Tinha atravessado o território dos independistas sérvios da Bósnia, uma das zonas de maior ferocidade da guerra civil decorrente do desmantelamento da antiga Jugoslávia! A tal estrada secundária que acabou obstruída por um campo de minas atravessava o cerne dessa zona de guerra. Os sérvios da Bósnia foram vencidos nesse conflito e, vinte anos depois, a zona estava abandonada, ou quase, e sem preocupação da sua recuperação - e limpeza de minas! - por parte dos vencedores. Ai dos vencidos...

Mais tarde, procurei apurar o que causara aquela informação errada da aplicação de GPS. Tinha baixado dois mapas diferentes da aplicação: o da Croácia e o da Bósnia-Herzegovina. Como é habitual, cada um dos mapas não se limite às fronteiras do respetivo país e tem ainda alguns quilómetros do território do país vizinho. Só que o mapa da Croácia, na parte do outro lado da fronteira, estava desatualizado mais de vinte anos e indicava ainda os percursos de antes da guerra!. Como só quando terminasse o alcance do mapa da Croácia é que a aplicação passaria a utulizar o (atualizado) mapa da Bósnia-Herzegovina, eu, vindo de Dubrovnik, fui, logo a seguir à fronteira direcionado para uma estrada que, antes da guerra, era o caminho mais curto e mais rápido, mas que já não o era e, em rigor, já não conduzia a nada mais do que a um campo de minas. No sentido inverso (de Mostar para Dubrovnik) não teria recebido essa falsa indicação, pois o mapa deste último país estava atualizado e  indicar-me-ia a atual, segura e bem conservada estrada principal...

Este episódio simboliza as opções que temos de tomar na vida. Temos constantemente de escolher o caminho a seguir. Fazêmo-lo em função das informações de que dispomos. Mas nem sempre acertamos. Porque, por mais ponderada que seja a nossa decisão, a informação em que se baseou não estava correta. Quando tal sucede, ainda que não desistamos à primeira dificuldade e perseveremos na nossa convicção, deveremos estar sempre atentos e não cair na obstinação. Quando os dados que formos recolhendo contrariarem inequivocamente os que fundamentaram a decisão, é tempo de arrepiar caminho!

Quando se verifica que se errou, não vale a pena chorar sobre leite derramado. Inverte-se a direção, toma-se outro caminho, e pronto.

Também é escusado - e contraproducente - recriminarmo-nos pelo erro cometido. Ao longo da nossa vida, tomamos centenas de milhar ou milhões de decisões. Não podem ser todas certas, todos temos o nosso quinhão de decisões que se revelam erradas.

Mas o que vale a pena, sempre que concluímos que tomámos uma decisão errada é analisarmos o que causou o nosso erro, o que nos levou à decisão que seria melhor não termos tomado. Só assim conseguimos evitar repetir sucessivamente o mesmo erro ou erros de idêntica natureza. Só assim nos aperfeiçoamos no nosso processo de tomadas de decisão. Por vezes, verificaremos que o erro é de nossa responsabilidade, que não atentámos devidamente nos dados da situação, que errámos no processo lógico de apreciação da mesma. Nalgumas ocasiões, porém, concluiremos que o erro não decorreu de culpa nossa, que resultou de circunstâncias que razoavelmente não poderíamos prever. Nessas circunstâncias, deveremos conformar-nos e entender que, por muito cuidadosos que sejamos, não conseguimos prever nem antever tudo. Devemos assim, aceitar humildemente as nossas limitações e aprender que é aconselhável, no nosso processo de tomada de decisão, dar um desconto para a imprevisibilidade, para a nossa incapacidade de tudo prever - aquilo a que um engenheiro meu conhecido dizia que incorporava no cálculo da capacidade das estruturas suportarem forças e tensões e a que chamava "coeficiente de cagaço"...

Somos humanos e, logo, imperfeitos. Aspiramos à perfeição, devemos esforçar-nos por nos aproximar dela o mais possível, mas sabemos que, por mais que nos aproximemos, nunca a alcançaremos.

Constantemente temos de escolher caminhos. Façamos sempre as nossas escolhas com ponderação de todos os elementos disponíveis, para errarmos menos vezes. Mas aceitemos que nos será sempre impossível acertar sempre. Porque, por muito cuidado que tenhamos, há sempre a possibilidade de algo nos escapar, de algo não conseguirmos prever. Por isso, embora nunca devamos desistir à primeira dificuldade, embora devamos persistir perante os obstáculos, nunca devemos ser obstinados, para que possamos reconhecer quando errámos a tempo de arrepiar caminho, remediar o erro e tomar nova direção.

A vida vive-se de muitos caminhos. Às vezes mais rápidos e diretos. De outras mais sinuosos e difíceis. De vez em quando conduzindo a becos sem saída ou levando-nos a desvios indesejados. Nunca nos esqueçamos que embora costumemos dizer que "para a frente é que é o caminho", também temos de saber rodear obstáculos e, quando necessário, dar meia-volta e procurar outra solução. Mas - sempre! - procurando aprender algo com o que fazemos, sempre buscando tirar algo de bom do que de mau fazemos ou nos sucede. Afinal de contas, ao ter eu decidido seguir por aquela estrada secundária que me acabou por obrigar a voltar para trás, se é certo que perdi algum tempo na minha viagem, também pude viver um pouco de algo que felizmente nunca vivi e que espero nunca viver: estar numa zona que foi de guerra e verificar, ao vivo e a cores, com estes dois que a terra há de comer, a destruição que ela traz. Essa noção não a teria adquirido se não tivesse percorrido aquele caminho...

Rui Bandeira

segunda-feira, março 04, 2019

Christopher Wren. Controvérsias sobre sua participação na maçonaria.

A medida que a pesquisa histórica sobre a maçonaria avança, levantamos dúvidas antigas sobre temas que já nos pareciam consolidados, afinal quanto mais informações, mais questionamentos e quanto maior a rigorosidade do método de pesquisa, mais nos é exigido a comprovação de fatos. Para que sejam criadas as histórias e formar uma “linha do tempo”, trabalhar com o material que temos acesso, formatando assim um cenário plausível.
Todo maçom que já estudou o início da maçonaria “especulativa” na Inglaterra, já ouviu falar do famoso arquiteto chamado Christopher Wren e do seu trabalho após o grande incêndio de Londres em 1666. A sua participação na maçonaria já foi contada e escrita por diversos autores, como um maçom operativo que participou deste período de transição e/ou evolução para a especulativa.
O motivador do texto a seguir é a dúvida sobre a real participação de Christopher Wren na maçonaria. Neste intuito, analisaremos alguns documentos antigos no que tange ao famoso arquiteto.
Quem foi Christopher Wren?
Sir Christopher Wren é, sem dúvida, o arquiteto mais célebre da Inglaterra; para os maçons, há muito tempo atrás, também se diz que ele era um irmão.
Os contemporâneos afirmaram claramente que ele havia se tornado um maçom e, no entanto, muitos escritores consideram isso pouco mais que uma fábula.
Contudo, as evidências revelam que há um erro fatal na forma como os historiadores abordam a história das origens do Ofício, e apresenta o relato da participação pretendida por Wren sob uma nova perspectiva.
Após o Grande Incêndio de Londres, em 1666, a cidade foi reconstruída pela primeira vez em pedra, e por toda uma geração, Londres parecia ser o quintal dos construtores.
Além de cinquenta e uma novas igrejas, o matemático e astrônomo Sir Christopher Wren, também foi contratado para projetar uma nova catedral para substituir aquela catedral medieval destruída pelo fogo.
Em 1675, após uma série de rejeições repentinas, seu projeto recebeu aprovação real e a pedra fundamental foi colocada, iniciando a construção.
A catedral levou cerca de trinta e cinco anos para ser concluída e, com o avanço do trabalho, o antiquário John Aubrey, registrou em seu diário que em 18 de Maio de 1691, Wren foi feito um Maçom.
“Naquele dia … … uma grande convenção na Igreja de São Paulo da Fraternidade de Maçons Aceitos, onde o Sr. Christopher Wren foi adotado como irmão …”
A declaração de Aubrey foi posteriormente copiada para os registros da Royal Society, da qual Wren era membro fundador (presidente de 1680 a 1682); Wren não fez objeção a essa história.
John Evelyn registrou uma história semelhante e após a morte de Wren em 1723, vários jornais se referiram a ele como “aquele digno maçom”.
Mais tarde, seu neto escreveu que “quando o filho de Sir Christopher Wren colocou a última pedra da lanterna (1) em 1708, foi … na presença de um excelente artesão, Sr. Strong, seu filho e outros Maçons Livres e Aceitos que foram empregados na execução da obra”.
Significativamente, o filho Christopher Wren, também chamado Christopher, é conhecido por pertencer à Old St.Paul´s Lodge e de ter sido o Mestre da loja em 1729.
A partir de 1691, aquela loja reuniu-se na taverna “O Ganso e a Grelha”, onde a primeira Grande Loja foi formada em 1717, de acordo com James Anderson.
O “excelente artesão” a que ele se refere era o mais antigo pedreiro de Oxforshire, Edgard Strong, um empreiteiro muito importante no trabalho da catedral. Edgard Strong pertenceu a uma loja “Livre e Aceita” que se reunia na taverna “The Swan” (O cisne) em East Street, Greenwich.
Claramente, a chave para entender nossas origens aparece nas palavras “Livre e Aceito”. Deve-se notar que uma falsa distinção foi feita, consagrada em nossos rituais, entre maçons operativos e especulativos; no século XVII o termo “especulativo” nunca foi usado, o termo foi mencionado pela primeira vez em 1755 e se referia a pedreiros “livres e aceitos”.
O que exatamente essas palavras significam?
Maçons Livres e Aceitos
O termo freemason emergiu no final do século XIV, na Inglaterra, como corrupção de “freestone masons”, e desde então há vestígios da “irmandade” ou “Company of Masons” (Companhia dos maçons).
Em 1654 eles mudaram seu nome para “London Company of Masons” por razões que não são claras. No entanto, os artesãos continuaram individualmente usando o termo “freemason” no século XVIII.
O termo Aceito, no entanto, é o mais difícil de ser situado.
Havia três formas de admissão para todas as empresas de Londres; servidão, patrimônio e redenção. A servidão era garantida após o aprendizado; patrimônio significa que alguém poderia se juntar a um membro da família; e a redenção denota que a associação foi obtida comprando-a.
Curiosamente, a única Companhia que tinha uma categoria adicional de membros era a Companhia dos Maçons, e isso foi chamado de “Aceitação”.
Entre 1630 e 1677, os registros da Companhia identificam 13 nomes daqueles “aceitos”, todos eles artesãos experientes. Um em particular, Nicholas Stone foi Mestre da Companhia duas vezes e foi o Mestre Maçom do Rei na época em que foi aceito.
Depois de 1677, não há menção dessa prática misteriosa nos registros da Companhia.
Cinco anos depois, o antiquário Elias Ashmole registrou uma relação sedutora em seu diário. Ele escreveu que, em 10 de março de 1682, recebeu uma convocação para comparecer a loja no dia seguinte, no Masons Hall, em Londres, sede da Companhia dos Maçons.
“ … Eu fui e foram admitidos à Sociedade de Maçons, Sir William Wilson, Capitão Borthwick, Sr. William Woodman, o Sr. William Gray, Sr. Samuell Taylour & Sr. William Wise. Eu era o Companheiro mais antigo entre eles (35 anos desde que fui admitido). Os próximos Companheiros nomeados estavam presentes ao meu lado. Sr. Thomas, Sr. Shorthose, Sr. Rhomas Shadbolt Esquire de Waindsford, Sr. Willian Stanton. Nós jantamos na Taverna Media Luna em Cheapside, em um Jantar Nobre preparado a cargo dos Novos Maçons Aceitos”.
Ashmole aqui refere-se a uma “loggia” da “Irmandade de maçons” ou “de Maçons Aceitos”, a que pertencia há trinta e cinco anos.
Isso se refere claramente à sua própria iniciação em Warrington, em outubro de 1646, e indica que as duas lojas pertenciam à mesma irmandade, as evidências sugerem que a loja de Warrington também fazia parte dos “Aceitos”.
Uma análise da história contradiz essa visão e produz resultados fascinantes
Sir William Wilson, um renomado maçom, esculpiu a estátua do rei Carlos II na catedral de Lichfield. Não se sabe muito do capitão Richard Borthwick, mas William Woodman também foi membro da Sociedade dos Maçons e mais tarde pertenceu ao Horn Tavern Lodge em Westminster.
William Gray, Samuell Taylour e William Wise também eram membros da Companhia, o último, filho do Mestre.
Ainda mais revelador é a composição da loja em si: Thomas Wise, Mestre Mason do Rei e Mestre da Sociedade de Londres, acompanhado por John Shorthose e William Stanton, os Vigilantes da Loja neste ano.
Thomas Shorthose era um Past Master que foi “aceito” em 25 de janeiro de 1650 e o resto da loja incluía um Past Master e dois Past Vigilantes. Sabe-se que todos eram maçons operativos que trabalhavam com Sir Christopher Wren.
Uma falha de conhecimento
Essa análise expõe um erro fatal profundamente enraizado na erudição maçônica: é errado dizer que os maçons aceitos não eram artesãos, quando na verdade a “aceitação” parece ter admitido tanto os artesãos altamente qualificados, quanto aos Senhores/nobres, em algum tipo de corpo exclusivo.
Portanto, é altamente provável que Wren não estivesse em contato com essas tradições, mas que os artesãos buscassem ativamente seu patrocínio. Além disso, o Mestre da Companhia dos Maçons em 1691 foi John Thompson, cuja oficina trabalhou para Wren, e que, como o registro do Diário de Ashmole, foi membro da Loja de “Aceitos” nove anos antes.
Embora não se saiba em que consistia a “Aceitação”, é evidente que Ashmole conhecia o termo “pedreiro livre” (freemason) como se referindo aos artesãos.
Em 1672, ele registrou em um livro sobre a Ordem da Jarreteira, como a abóbada do Coro em Windsor foi executada por dois “pedreiros livres” (freemasons) em 1508.
Em uma publicação mais antiga de Elias Ashmole, Theatrum Chemicum Britannicum de 1652, há um relato ainda mais intrigante: o volume de texto alquímico, que incluía o Ordinall de Alchemy, de Thomas Norton, escrito em 1747. Significativamente, Norton tentou dissuadir as pessoas não qualificadas na arte misteriosa da alquimia e cita uma série de profissões artesanais, incluindo os maçons como “os Senhores que amam esta profunda filosofia”.
É impossível conceber que Ashmole não tenha apreciado as implicações do texto: ele havia sido um “maçom” por vários anos e tinha profundo amor pela alquimia.
Com o estabelecimento da ciência moderna, tal como a Royal Society, da qual Wren e Ashmole eram membros fundadores, os aspectos físicos da alquimia começaram a formar a base da química. No entanto, seu foco espiritual na transformação do indivíduo, através de um processo de morte e renascimento simbólico, permanece na obscuridade.
Isso ocorreu apesar do fato de que, em uma reputada Royal Society, cientistas como Robert Fludd e Sir Isaac Newton procuraram incansavelmente o fabuloso elixir, a pedra filosofal, frequentemente descrita como uma Fênix e comparada ao Cristo ressuscitado.
Curiosamente, no topo do lado sul da Catedral de St. Paul há um nicho com uma fênix, simbolizando o renascimento da catedral após a conflagração do fogo.
É talvez revelador que este foi o trabalho de um perito escultor de Wren, Caius Gabriel Cibber (que era filho de um maçom) e herdou sua oficina do maçom Nicholas Stone, que havia sido admitido pelos Aceitos em 1638.
Então, se lembrarmos que as cerimônias maçônicas mais antigas são datadas antes da pretensa iniciação de Wren e que esses ritos foram centrados em noções veladas de morte e renascimento, teremos dado um passo à frente para entender as origens e o significado de nossa Arte.
Royal Society
A busca nos arquivos da Royal Society lançou novas informações em relação à alegação de que Sir Christopher Wren havia sido iniciado na Maçonaria em Londres em 8 de maio de 1691.
Tal afirmação é apoiada por uma nota manuscrita, acrescentada ao manuscrito de John Aubrey, “Naturall Historic of Wiltshite”, de 1685, agora mantido pela Biblioteca Bodleiana de Oxford. O manuscrito tem duas partes, arquivado como MS. Aubrey 1 e MS. Aubrey 2
Na segunda parte há um breve relato da Maçonaria:
“Sir William Dugdale me disse há muitos anos, que na terceira parte da época de Henrique (o rei), o Papa deu uma Bula ou diploma (escrito em cima, uma patente) a uma companhia de arquitetos italianos (escrito acima, Maçons) para viajar por toda a Europa para construir igrejas, o que levou à Fraternidade dos Maçons (escrito acima, maçons aceitos).
Eles agora são uns e outros por certos sinais e marcas e palavras de reconhecimento: e continuam até hoje. Eles têm várias lojas em vários países para sua recepção: e quando um deles cai em desgraça, a irmandade o ajuda. O modo de sua adoção é muito formal e com uma promessa de sigilo”.
A página à esquerda dessa relação foi deixada em branco e sobre ela, em algum momento posterior, três notas foram adicionadas a mão por Aubrey.
Uma dessas notas diz respeito à Maçonaria e pode ser lida:
“Memorando, neste dia (18 maio de 1691), sendo segunda-feira após domingo de Rogativas houve uma grande convenção da Fraternidade de maçons aceitos na Igreja de St. Paul onde Sir Christopher Wren foi adotado como um irmão, e Sir Henry Goodric … De la Torre e outros & houveram reis que pertenceram a esta Sociedade”.
John Hamill, em 1986, em seu livro “The Craft” foi mais cauteloso, concluindo que a possibilidade existia, mas que “não foi comprovado”.
Como pode ser visto, o texto pode ser adaptado a diferentes graus de veracidade. Para entendê-lo, é necessário rever a história do manuscrito de John Autrey.
O manuscrito de John Aubrey
John Aubrey (1626-97) foi um dos membros fundadores da Royal Society e aparece registrado na lista de Fellows (Companheiros) em 20 de maio de 1663.
Em 1685, ele escreveu seu “Naturall Historic of Wiltshire”, nunca publicado, mas preservado como um manuscrito. Sem dúvidas, a Royal Society que admirava seu trabalho, e considerando o valor que teria para os seus membros, ordenou que se fizera uma cópia e fosse guardada nos arquivos da sociedade para que os membros não precisassem viajar para Oxford para consultas.
O Dr. Michael Hunter, em sua biografia de John Autrey, escreveu:
“… Acima de tudo, a Royal Society teve a honra de John Aubrey transcrever seu Naturall Historic of Wiltshire em 1690-1, em um gesto único e extraordinário para mostrar sua estima, que custou a soma considerável de sete libras” (832,65 libras a preços atuais).
Essa cópia foi feita pelo secretário da Royal Society, Mr. B.G. Cramer que iniciou a tarefa em 1690 e completou em meados de 1691 e é mantido nos arquivos da Royal Society como MISC. MS 92 e consiste em 373 páginas.
Quando Cramer recebeu a ordem de fazer a cópia, Aubrey teve a oportunidade de fazer acréscimos e emendas e supervisionou a inclusão no novo texto.
Isto é indicado por uma breve nota, a mão de Aubrey adicionada à página 124, da segunda parte do manuscrito original: Aubrey escreve, referindo-se a um panfleto impresso em tela ao qual havia sido adicionado:
“Sr. Cramer! Sobre este Tratado em tela, transcreva apenas a apresentação do Grande Júri em Brewton em Somersetshire “.
Quando Aubrey escreveu o manuscrito original, ele usou apenas a primeira metade de cada página, consequentemente, uma página em branco apareceu à esquerda de cada um com o texto à direita.
Portanto, pode-se supor que todas as mudanças feitas para o propósito da nova cópia de Cramer foram incluídas na nova cópia, embora não haja certeza.
Poderíamos dizer que foi assim. Em sua cópia, Cramer incluiu o seguinte no corpo principal do texto:
“Memorando, neste dia (18 maio de 1691), sendo segunda-feira após domingo de Rogativas houve uma grande convenção da Fraternidade de maçons aceitos na Igreja de St. Paul onde Sir Christopher Wren foi adotado como um irmão, e Sir Henry Goodric … De la Torre e outros & houveram reis que pertenceram a esta Sociedade”.
Pode-se aceitar, então, que Aubrey, Wren e a Royal Society concordaram com seu agregado, citando a iniciação de Wren na Maçonaria, e parece razoável aceitar que se trata de uma afirmação verdadeira.
John Aubrey era amigo íntimo de Sir Christopher Wren, ambos pertencentes à Royal Society, Wren foi membro fundador da Royal Society e serviu como seu presidente no período de 1680-2.
Ele permanecia ativo na Sociedade em 1691, a data da cópia de Cramer.
Alguns sugerem que talvez Wren tenha tentado que eles o iniciassem, mas naquele dia era impossível que ele tivesse participado.
No entanto, em 18 de maio de 1691, a data de iniciação e o texto adicional relativo à Maçonaria, Cramer pode ter trabalhado em páginas mais antigas de sua cópia.
Levando em conta que a data está escrita no dia em questão, e que Cramer copiou a página em uma data posterior após os eventos, não houve tempo suficiente para modificar o texto e refletir qualquer variação dos eventos.
Que isso não tenha sido feito, fala de uma boa evidência de que Wren não perdeu sua “adoção”. Em conclusão, uma vez que nenhum desses homens se opôs a essa afirmação, nem a alterou antes de sua cópia, pode-se aceitar que o que realmente aconteceu, aconteceu.
Podemos confiar, então, que Sir Christopher Wren foi iniciado na Maçonaria em 1691.
Devemos agradecer aos bibliotecários e seus assistentes da Biblioteca Bodleiana e da Royal Society por sua ajuda em disponibilizar este manuscrito para nós.
Vista interna da Catedral de St. Paul em Londres
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1.Lanterna é uma pequena torre com janelas, normalmente circulares, que está localizada no topo de alguns edifícios, geralmente terminando em um telhado ou cúpula, para fornecer luz e, às vezes, ventilação.
2. Rogativas – Procissão pública para implorar a Deus a cura de uma grave necessidade.
Bibliografia
– Bernard Williamson & Michael Baigent. Sir Christopher Wren e a Maçonaria: Novas Evidencias, Ars Quatuor Coronatorum, 109 (1996).
– Diário de Elias Ashmole, 1682.
– John Hamill & R. A. Gilbert, Freemasonry, A Celebration of the Craft (1992).
– Elias Ashmole, Institutions, Laws and Ceremonies, of the Most Noble Order of the Garter (1672)
– Elias Ashmole, Theatrum Chemicum Britannicum (1652).
 – Matthew Scanlan, Nova luz sobre Sir Christopher Wren (2001).
Luciano Rodrigues e Rodrigues
www.oprumodehiram.com.br

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