Espaço oportunizado para aquele cuja a mente é inquieta e busca ir mais longe no conhecimento sem reservas de qualquer natureza. M. Aesculapius
terça-feira, janeiro 31, 2012
África: um novo canto é preciso
30/1/2012 23:33, Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro
A fome é um dos piores flagelos de parte do continente africano
Os números são tão astronômicos quanto aterrorizantes. Cerca de 150 milhões de habitantes africanos não têm acesso à quantidade mínima de calorias diárias, sendo que, deste total, 23 milhões deverão morrer defome. No nordeste do continente, segundo levantamento da ONU, 10 mil crianças morrem mensalmente em decorrência da seca. Ou seja, o número de vítimas supera, e em muito, o número de mortos nos 14 anos de guerra no Vietnã.
Segundo o diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos da ONU, James Morris, “a escassez de alimento na África provoca a instabilidade política, desse modo, a fome é, ao mesmo tempo, causa e conseqüência da pobreza. Além disso, é causa e conseqüência dos conflitos”. Segundo estudos do Instituto Internacional de Pesquisa em Alimentação nos próximos 20 anos o continente africano terá uma redução na produção de alimentos em cerca de 20%, fato desencadeado pelos conflitos internos.
A magnitude do drama costuma vir acompanhada de explicações que vão do crescimento demográfico desordenado à desertificação e conflitos étnicos O que se busca ocultar é a responsabilidade de europeus e norte-americanos que, ao longo do tempo, mudaram radicalmente a estrutura de produção e consumo no continente africano, deixando como resultado a escassez, subnutrição e fome, com altos lucros para as grandes corporações.
Em verdade, estamos assistindo ao preço pago pela herança colonial e pela desorganização da produção agrícola provocada pelos complexos agroindustriais dos países ricos ocidentais. Em vários países, o cultivo intensivo de áreas com uma débil fertilidade acabou destruindo a camada de húmus. Com isso, regiões imensas se tornaram estéreis, não tanto pela falta de chuvas, que sempre foi escassa e irregular, mas pelo manejo totalmente predatório do solo.
Uma experiência promovida pelo colonialismo europeu não pode ser esquecida. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, os franceses resolveram investir no Mali, num momento em que o algodão e o amendoim entraram em crise no mercado mundial. O pequeno rebanho malinês foi rapidamente multiplicado. Após quatro ou cinco anos de bons resultados veio a seca. Os bois tiveram que se concentrar em áreas muito pequenas. O resultado foi que as milhares de cabeças aglomeradas em poucos poços de água acabaram com todo o pasto, comendo, inclusive, as raízes. Quando as chuvas voltaram, o solo era areia pura, o rebanho ficou reduzido a um sexto e o pasto nunca mais se recompôs. A política de terra arrasada sempre foi uma vantagem comparativa para europeus e estadunidenses.
A fome africana não pode ser reduzida a uma formulação malthusiana. Se o acelerado crescimento demográfico em algumas regiões influi no equilíbrio alimentar, não é a taxa de natalidade que produz o elevado número de subnutridos. As razões para a fome endêmica devem ser buscadas em estruturas agrárias moldadas no período colonial e “aperfeiçoadas” posteriormente para atender aos centros consumidores do Ocidente. Mas a danação do continente envolveu outros fatos
Ainda há o legado da Guerra Fria. Na área político-econômica, as “guerras por procuração”, promovidas pelas superpotências na África, devastaram a economia, destruíram as já precárias redes de saúde pública e causaram grandes fluxos migratórios e fomes epidêmicas que contribuíram para a disseminação de moléstias infecto-contagiosas. Sarampo, cólera e malária, doenças que matam as crianças africanas, não serão erradicas sem que se promova uma profunda mudança nas condições ambientais que favorecem sua instalação, aí incluída a ecologia social.
Redefinir a inserção da África exige uma reformulação completa da estrutura produtiva vigente no mundo capitalista. O problema da fome deixou de ser uma questão assistencialista para se tornar um ponto de inflexão em estruturas multisseculares. Não basta cantar “We are the world”. É preciso construir um mundo alternativo ao que aí está.
Beau Geste
"A pior das ditaduras é a que se escuda na lei" (Raul Pilla)
terça-feira, janeiro 24, 2012
Palavras Insurgentes - [Elaine Tavares] A televisão é uma usina ideológica. Gera milhares de megawatts de ideologia a cada programa, por mais inocente que pareça ser.
E ideologia como definiu Marx: encobrimento da realidade, engano, ilusão, falsa consciência. Então, se considerarmos que a maioria da população latino-americana, aí incluída a brasileira, se informa e se forma através desse veículo, pensá-la e analisá-la deveria ser tarefa intelectual de todo aquele que pensa o mundo. Afinal, como bem afirma Chomsky, no seu clássico "Os Guardiões da Liberdade", os meios atuam como sistema de transmissão de mensagens e símbolos para o cidadão médio. "Sua função é de divertir, entreter e informar, assim como inculcar nos indivíduos os valores, crenças e códigos de comportamento que lhes farão integrar-se nas estruturas institucionais da sociedade". Não é sem razão que bordões, modas e gírias penetram nas gentes de tal forma que a reprodução é imediata e sistemática.
Um termômetro dessa usina é a famosa "novela das oito", que consolidou um lugar no imaginário popular desde os anos 60, com a extinta Tupi, foi recuperado com maestria pela Globo e vem se repetindo nos demais canais. O horário nobre é usado pela teledramaturgia para repassar os valores que interessam à classe dominante, funcionando como uma sistemática propaganda que visa a manutenção do estado de coisas. É clássica, nos folhetins, a eterna disputa entre o bem e o mal, o pobre e o rico, com clara vinculação entre o bem e o rico. Sempre há um empresário bondoso, uma empresária generosa, um fazendeiro de grande coração, que são os protagonistas. E, se a figura principal começa a novela como pobre é certo que, por sua natural bondade, chegará ao final como uma pessoa rica e bem sucedida, porque o que fica implícito que o bem está colado à riqueza, vide a Griselda de Fina Estampa, a novela da vez. Outro elemento bastante comum nas novelas é o da beleza da submissão. Como os protagonistas são sempre pessoas ricas, eles estão obviamente cercados dos serviçais, que, no mais das vezes os amam e são muito "bem-tratados" pelos patrões. Logo, por conta disso, agem como fiéis cães de guarda. Um desses exemplos pode ser visto atualmente na novela global. É o empregado-amigo (?) da vilã Tereza Cristina. Ele atua na casa da milionária como um mordomo, cúmplice, saco de pancadas, dependendo do humor da mulher. Ora ela lhe conta os dramas, ora lhe bate na cara, ora lhe ameaça tirar tudo o que já lhe deu. E ele, premido pela necessidade, suporta tudo, lambendo-lhe as mãos como um cachorrinho amestrado. Tudo é tão sutil que não há quem não se sinta encantado pelo personagem. Ele provoca o riso e a condescendência, até porque ainda é retratado de forma caricata como um homossexual cheio de maneios, trejeitos e extremamente servil. Mas, se o servilismo de Crô pode ser questionado pela profunda afetação, outros há que aparecem ainda mais sutis. É o caso da turma da praia que, na pobreza, hostilizava Griselda e, agora, depois que ela ficou rica, passou para o seu lado, vindo inclusive trabalhar com a faz-tudo, assumindo de imediato a postura de defensores e amigos fiéis. Ou ainda a relação dos demais trabalhadores com os patrões "bonzinhos", como é o caso do Paulo, o Juan, o homem da barraquinha de sucos, e o Renê. Todos são "amigos" e fazem os maiores sacrifícios pelos patrões, reforçando a ideia de que é possível existir essa linda conciliação de classe na vida real. O grupo que atua com o cozinheiro Renê, por exemplo, foi demitido pela vilã, não recebeu os salários, viveu de brisa por um tempo e retomou o trabalho com o antigo chefe por pura bem-querença. Coisa de chorar. Nesses folhetins também os preconceitos que interessam aos dominantes acabam reforçados sob a faceta de "promoção da democracia". O negro já não aparece apenas como bandido, mas segue sendo subalterno. No geral faz parte do núcleo pobre, mas é generoso e sabe qual é o "seu lugar". É o caso do ético funcionário da loja de motos. Um bom rapaz, que, no máximo, pode chegar a gerente da loja. As pessoas que discutem uma forma alternativa de viver aparecem como gente "sem-noção", no mais das vezes caricaturada, como é o caso da garota que prevê o futuro, a mulher negra que era bruxa, o rapaz que brinca com fogo ou os donos da pousada que em nada se diferem de empresários comuns, a não ser nas roupas exotéricas. Ou o personagem do Zé Mayer, numa antiga novela, que via discos voadores, não aceitava vender suas terras e, no final, "fica bom", entregando sua propriedade para a empresária boazinha que era dona de uma papeleira. Os homossexuais também encontram espaço nas novelas, dentro da lógica da "democratização", mas continuam sendo retratados de forma folclórica, como é o caso do Crô, na novela das oito, ou do transexual da novela das sete. Já o índio, como é invisível na vida real, tampouco tem vez nas tramas novelistas e quando tem, como a novela protagonizada por Cléo Pires, vem de forma folclórica e desconectada da vida real. E assim vai... Gente há que fica indignada com os modelos que as telenovelas reproduzem ano após ano, mas essa é realidade real. Os folhetins nada mais fazem do que reforçar as relações de produção consolidadas pelo sistema capitalista. Até porque são financiados pelo capital, fazendo acontecer aquilo que Ludovico Silva chama de "mais-valia ideológica". Ou seja, a pessoa que está em casa a desfrutar de uma novela, na verdade segue muito bem atada ao sistema de produção dessa sociedade, consumindo não só os produtos que desfilam sob seu olhar atento, enquanto aguardam o programa favorito, mas também os valores que confirmam e afirmam a sociedade atual. Prisioneira, a pessoa permanece em estado de "produção", sempre a serviço da classe dominante. Assim, diante da TV – e sem um olhar crítico - as pessoas não descansam, nem desfrutam. É certo que a televisão e os grandes meios não definem as coisas de forma automática. Como bem já explicou Adelmo Genro, na sua teoria marxista do jornalismo, os meios de comunicação também carregam dentro deles a contradição e vez ou outra isso se explicita, abrindo chance para a visão crítica. Momentos há em que os estereótipos aparecem de maneira tão ridícula que provocam o contrário do que se pretendia ou personagens adquirem tanta força que provocam um explodir da consciência. E, nesses lampejos, as pessoas vão fazendo as análises e podem refletir criticamente. Mas, de qualquer forma, esses momentos não são frequentes nem sistemáticos, o que só confirma a função de fabricação de consenso que é reservada aos meios. Um caso interessante é o do transexual que está sendo retratado na novela da Record, que passa às dez horas. "Dona Augusta" é nascida homem e se faz mulher, sem a folclorização do que é retratado na Globo. É "descoberta" pelo filho que a interna como louca. Toda a discussão do tema é muito bem feita pelos autores, sem estereótipos, sem falsa moral. Mas, é a TV dos bispos evangélicos, que, por sua vez, na vida real pregam a homossexualidade como "doença". São as contradições. De qualquer sorte, a teledramaturgia brasileira deveria ser bem melhor acompanhada pelos sindicatos e movimentos sociais. E cada um dos personagens deveria ser analisado naquilo que carrega de ideologia. Não para ensinar aos que "não sabem", mas para dialogar com aqueles que acabam capturados pelo véu do engano. Assim como se deve falar do que silencia nos meios, o que não aparece, o que não se explicita, também é necessário discutir sobre o que é inculcado, dia após dia, como a melhor maneira de se viver. Pois é nesse entremeio de coisas ditas, malditas e não ditas, que o sistema segue fabricando o consenso, sempre a favor da classe dominante. Elaine Tavares é jornalista.
AS CARACTERÍSTICAS DO JULGAMENTO ACERCA DO BELO SEGUNDO KANT
Kant escreveu três críticas dividindo o conhecimento nos seus três grandes campos: epistemologia (teoria do conhecimento), ética (teoria do comportamento) e estética (teoria do belo). Para cada um desses campos, ele escreveu uma Crítica (investigação). Assim teríamos: (1) Crítica da razão pura, tratando das questões do conhecimento, da epistemologia; (2) Crítica da razão prática, tratando das questões éticas; (3)Crítica da faculdade do juízo, tratando das questões estéticas, ou seja, nossos julgamentos acerca do belo e do sublime.
Kant inicia a Crítica da faculdade do juízo procurando estabelecer a especificidade do julgamento estéticos quando comparado a outros tipos de julgamentos. Essa reflexão, ele a chamou de “analítica da beleza” e a dividiu em quatro momentos. Faremos uma análise desses quatro momentos procurando explicá-los em seus movimentos conceituais e suas idéias essências.
O Primeiro Momento compreende os parágrafos de um a seis (§ 1-6). Neles, Kant afirma que os julgamentos acerca da beleza estão baseados em sentimentos de prazer. Entretanto, é uma espécie muito particular de prazer. Trata-se de um “prazer desinteressado”. Isto significa que o sujeito que faz um julgamento estético sobre um objeto não tem nenhuma necessidade de possuir ou consumir esse objeto, ou seja, o objeto não desperta qualquer desejo no sujeito que o contempla.
Também os juízos baseados no sentimento de beleza se distinguem dos juízos cognitivos, os quais são determinados pelas “sensações objetivas” como a percepção de que as folhas de uma árvore são verdes. Nos juízos cognitivos são associadas propriedades às substâncias. Por exemplo, o verde à folha da árvore. Eles são passíveis de serem testados em sua veracidade. Já quando emito um juízo acerca da beleza da forma de uma folha ou de uma determinada coloração não estou associando propriedades e substâncias. Estou comunicando um sentimento derivado de uma determinada sensação.
O fato dos julgamentos acerca da beleza serem baseados em um sentimento desinteressado os distingue também daqueles julgamentos baseados em interesses ou desejos. Juízos acerca de um gosto estão ligado a um desejo e produzem um sentimento de agradável que não é desinteressado, pois ele engendra o desejo de possuir o objeto ou de usufrui-lo. Então os juízos acerca da beleza são baseados em sentimentos agradáveis, porém se distinguem daqueles sentimentos agradáveis que possuem alguma relação de desejo ou instrumental com o objeto qualificado de belo. Exemplos mais comuns de juízos de gosto interessados são aqueles acerca de comida ou bebida, nos quais o desejo de posse ou consumo do objeto está na essência do próprio juízo.
Na estética moderna houve muitas críticas acerca do conceito kantiano que caracteriza o julgamento estético como desinteressado. Muitos consideram até impossível o surgimento de um tal juízo. Outros alegam que esse conceito estético tornaria a arte algo muito elevado, distante da vida cotidiana e impossibilitando o prazer estético em objetos utilitários do dia-a-dia. Entretanto, recentemente no âmbito da estética ambiental, voltou-se a se utilizar o conceito de “prazer desinteressado” para caracterizar um tipo de relacionamento estético com a Natureza. Esse relacionamento estético estaria em antítese com um relacionamento interessado, ou instrumental, no qual a natureza é apenas entendida como um fim para a satisfação das necessidades humanas produzidas pela sociedade de consumo.
Também, para Kant, os juízos acerca do belo se diferenciam dos juízos de caráter moral ou ético, ou seja, juízos acerca do Bem e do Mal. Nesses últimos está sempre presente um interesse finalista. Espera-se que o uso do objeto proporcione um fim almejado, alcançando um bem ou evitando um mal.
Se no primeiro momento Kant distinguiu os juízos estéticos dos juízos interessados e juízos morais, no Segundo Momento (§§2-9) trata-se de fornecer uma dimensão “universal” para os juízos acerca da beleza, retirando-os da total subjetividade. Assim, ao fazer um julgamento sobre a beleza de algum objeto pretendemos que todos possam perceber essa beleza e compartilhar do mesmo sentimento. Entretanto, a universalidade do juízo acerca da beleza não é baseado em conceitos. Ou seja, quando alguém propõe compartilhar o sentimento de beleza, não pretende convencer os outros por meio da subsunção desse objeto (singular) em um conceito (universal). Por exemplo se digo que uma determinada forma é azul e circular, no juízo estético isso não significa que estou associando a propriedade, ou conceito, azul a uma forma circular. Assim, julgamentos acerca da beleza não podem, a despeito de sua validade universal, ser provados. Segundo Kant, não existem regras pelas quais alguém pode ser compelido a julgar uma determinada coisa bela. Essa é uma questão difícil no pensamento kantiano: como podem existir julgamentos universais que não são baseados em conceitos? Kant parece estar se movendo entre antinomias: sentimento de prazer, mas desinteressado, universalidade, mas sem conceito.
O que Kant procura é o específico do julgamento estético acerca do belo, distinguindo esses julgamentos daqueles baseados no simples prazer ou gosto. Também Kant distingue os juízos acerca do belo dos juízos cognitivos. Em uma passagem mais adiante na Crítica da Faculdade do juízo, ao tratar das “antinomias do gosto”, Kant irá descrever a universalidade dos julgamentos acerca da beleza como um conceito em repouso, mais é “um conceito indeterminado”, portanto diferente da espécie de conceito representado nos juízos cognitivos. De qualquer forma, essa universalidade sem conceito será rejeitada por parte da modernidade, a qual procura trazer para a esfera da arte uma dimensão cognitiva de conhecimento do mundo.
No Terceiro Momento (§§10-17) da busca da especificidade do juízo acerca do belo, Kant diferencia esses julgamentos dos julgamentos acerca do Bem. Juízos acerca da beleza não pressupõem um fim [Zwech] que o objeto deva satisfazer ou alcançar. A “intencionalidade” [Zweckmässigkeit] dos juízos acerca do belo não se relaciona com o objeto visando obter dele um bem moral qualquer.
Discordo dos comentadores e analistas que vêem no juízo estético kantiano uma fundamentação moral ou ética. Esse terceiro movimento deixa claro a diferença entre os juízos acerca do belo e os juízos finalistas da intenção moral. O que atesta os movimentos analíticos em sua procura pela especificidade do juízo estético é o esforço kantiano em estabelecer uma autonomia para esse tipo de juízo. Assim, se existem enormes diferenças e críticas da estética moderna em relação à estética do belo kantiana, não resta dúvida que a busca da autonomia estética colocam lado a lado modernidade e a teoria do belo kantiana.
Existe uma semelhança entre o imperativo moral kantiano de tomar o homem com fim em si mesmo e não como meio e o juízo estético, pois ambos formulam o conceito de “valor-em-si”. Porém o valor-em-si ético pressupõe um finalismo, o homem como um fim; enquanto o valor-em-si do juízo estético pressupõe um prazer desinteressado, portanto não finalista.
No Quarto Movimento (§ 18-21) Kant acrescenta a idéia de necessidade para caracterizar a especificidade do julgamento acerca da beleza. A necessidade refere-se a dimensão da universalidade desses juízos. Sempre que eu emito um julgamento acerca da beleza de um objeto qualquer, espero que uma outra pessoa concorde com esse juízo. É claro que ao pretender que meus julgamentos sobre a beleza tenham validade universal, não pretendo que todas as pessoas percebam essa beleza a qual faço referência, mas pretendo que todos deveriam perceber. Trata-se do “dever-ser” que, eventualmente pode não estar presente, momentaneamente, no ser. Assim, os juízos acerca da beleza possuem uma dimensão pública, não são subjetividades privadas.
Após a analítica do juízo estético na qual Kant procura a especificidade do sentimento estético, resta a pergunta: como os juízos acerca da beleza são possíveis? A resposta de Kant a essa questão é complexa e exige a articulação das três críticas.
De forma resumida, podemos dizer que para Kant existem quatro faculdades principais no homem, as quais realizam a produção de conceitos e processos teóricos e práticos no que poderíamos chamar de “sistema da mente”. São elas: (1) a intuição sensível, que para Kant significa os mecanismos perceptivos e sensitivos (portanto diferente do uso que hoje fazemos dessa palavra); (2) o entendimento o qual é responsável por “trabalhar” os dados da experiência sensível, ou seja, da intuição, produzindo as idéias e os conceitos; (3) a razão que possui autonomia e a possibilidade de extrapolar, ir além da experiência sensível; (4) a imaginação, que possui a capacidade de sintetizar as percepções fornecidas pela intuição. Para Kant as percepções não são passivas elas são sintetizadas pela faculdade da imaginação. Assim, a imaginação tem um importante papel no sistema da mente. Ela esquematiza os conceitos do entendimento e os conecta com os dados da intuição sensível. A imaginação estética liga a sensibilidade com um modo de saber que não é apenas conceitual.
Em cada uma das três críticas kantianas existe uma determinada faculdade que se torna legisladora, coordenando as atividades das outras faculdades. Assim, na Crítica da razão pura, o entendimento é a faculdade legisladora coordenando as atividades das outras faculdades e, dessa maneira, o conhecimento científico é possível. Já na Crítica da razão prática, a razão torna-se a faculdade legisladora. Para Kant, a liberdade é o fundamento da ética e sua experiência está além da experiência sensível. A razão é a faculdade responsável pela lógica e pela orientação quando se trata de extrapolar o mundo sensível em direção ao mundo cultural e moral. NaCrítica da faculdade do juízo, não existe exatamente uma faculdade legisladora. A imaginação não pode cumprir esse papel. Então o juízo estético somente é possível graças a uma “harmonia” entre as faculdades, ou a um “livre jogo” entre elas. Nesse sentido, a Crítica da faculdade do juízo é o corolário da analítica das faculdades. É o “jogo livre” das faculdades que nos proporciona esse estranho “prazer-desinteressado” na fruição do que é belo.
Referências
KANT, Immanuel. Critique of Judgment, trans. Werner Pluhar, Indianapolis: Hackett, 1987.
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do juízo, trad. Valério Rohden e António Marques – 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura, trad. Valério Rohden e U. Baldur Moosburger , com introdução sobre a vida e a obra de Kant por M. de Souza Chauí. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
São Paulo, 16 de Janeiro de 2011
Prof. Dr. Eduardo Cardoso Braga
terça-feira, janeiro 17, 2012
Encontrando Atlantis ...
Athanasius Kircher (1601 ou 1602 - 1680) (às vezes erroneamente escrito Kirchner) foi um alemão do século 17 estudioso jesuíta que publicou cerca de 40 obras, mais notadamente nas áreas de estudos orientais, geologia e medicina. Kircher foi comparado ao companheiro jesuíta Roger Boscovich e Leonardo da Vinci para a sua enorme gama de interesses, e foi homenageado com o título de "mestre de uma centena de artes"
O último exemplo conhecido de hieróglifos egípcios data de 394 dC, após o qual todo o conhecimento de hieróglifos foi perdida. Até Thomas Young e Jean-François Champollion encontrou a chave para hieróglifos no século 19, a principal autoridade era o quarto gramático grego do século Horapollon, cuja principal contribuição foi a idéia errada de que os hieróglifos eram "escrita de imagem" e que futuros tradutores devem procurar simbólica significado nas fotos. O primeiro estudo moderno de hieróglifos sem sentido veio com Piero Valeriano Bolzani de Hieroglyphica (1566), mas Kircher foi o mais famoso dos "decifradores" entre os tempos antigos e modernos e egiptólogo mais famoso de sua época. Em sua Lingua aegyptiaca Restituta (1643), Kircher chamada hieróglifos "esse desconhecido linguagem até então na Europa, em que há quantas imagens letras, como muitos enigmas como sons, em suma, muitos labirintos para ser escapado como montanhas para ser escalado ". Enquanto algumas de suas noções são há muito desacreditadas, as parcelas de seu trabalho tem sido valioso para os estudiosos mais tarde, e Kircher foi pioneiro Egiptologia como um campo de estudo sério.
Interesse de Kircher em egiptologia começou em 1628 quando ele ficou intrigado por um conjunto de hieróglifos na biblioteca em Speyer. Ele aprendeu copta em 1633 e publicou a primeira gramática dessa língua em 1636, o Prodromus aegyptiacus coptus sive. Kircher, em seguida, rompeu com a interpretação Horapollon da linguagem dos hieróglifos com sua Lingua aegyptiaca Restituta. Kircher argumentou que copta preservado o último desenvolvimento da egípcia. Para este Kircher foi considerado o "fundador da egiptologia" verdadeiro, porque seu trabalho foi conduzido "antes da descoberta da Pedra de Rosetta prestados hieróglifos egípcios compreensível para os estudiosos". Ele também reconheceu a relação entre o hierático e hieroglífica.
Apesar de sua abordagem para decifrar os textos foi baseada em um equívoco fundamental, Kircher fez estudo pioneiro graves de hieróglifos, e os dados que ele coletou mais tarde foram usadas por Champollion, em seus esforços bem sucedidos para decodificar o script. Kircher se estava vivo para a possibilidade de os hieróglifos que constituem um alfabeto;. Ele incluiu em seu sistema proposto (incorreta) derivações do alfabeto grego de 21 hieróglifos [carece de fontes?] No entanto, segundo Joseph MacDonnell, foi "por causa do trabalho de Kircher que os cientistas sabiam o que procurar ao interpretar a pedra Rosetta ". Outro estudioso do antigo Egito, Erik Iverson, concluiu:
É, portanto, o mérito incontestável Kircher, que ele foi o primeiro a ter descoberto o valor fonético de um hieróglifo egípcio. A partir de um humanista, bem como um ponto de vista intelectual Egiptologia pode muito bem se orgulhar de ter Kircher como seu fundador. Kircher foi também activamente envolvidos na construção de obeliscos nas praças romanas, muitas vezes, acrescentando fantástico "hieróglifos" de seu próprio projeto nas áreas em branco que estão agora intrigante para os estudiosos modernos.
Em 1669, Kircher apresentou o mapa de Atlantis em uma de suas grandes obras "Subterranei Mundi".Este mapa foi capturado pelos romanos em 30 aC, do antigo Egito:
.. E que nos traz aqui. O vídeo a seguir apresenta uma análise em que statstics que seriam responsáveis por:
1. o jogo alto percentual da forma da massa de terra
2. a localização da massa de terra
3. a direção na qual a massa de terra está enfrentando
seria suficiente em ceder Atlantis que é / era real e pode ser mostrado como você vai ver. Desenhos mapa antigo foram, por vezes, não escala e cada mapa foi baseado em localização viajou para. O destino foi elaborado maiores porque esse era o objetivo e precisão foi importante na chegada.
Kircher propositadamente mudou o rumo do sul ao norte, como você pode ler também no wikipedia como fizeram no Egito e foi uma das maneiras que eles foram capazes de dizer a autenticidade do mapa. Nota no diagrama abaixo norte está sendo apontado abaixo e não acima. Por isso devemos fazer o mesmo com o mapa do google e vê-lo de cabeça para baixo para corresponder.
Similar a conclusões moderna forçado pela atual compreensão da geologia na Dorsal Meso-Atlântica, mapa de Kircher descreve Atlantis, e não como um continente, mas uma ilha.
Para uma análise profunda, você pode ainda assistir a este vídeo também:
Se você quiser ver um vídeo que se expande na área que abrange Atlantis e incluir a população pode ver este vídeo. Isso leva em conta a população e os números de Platão de 370 km x 555 km.
segunda-feira, janeiro 16, 2012
A Mulher na Maçonaria - História de Lutas e Vitórias
Brenda Taylor a Grão Mestre da Order of Women Freemasons
"QUANDO FORMARDES OS DOIS UM, E O INTERNO COMO O EXTERNO,
E O ALTO COMO O BAIXO, A FIM DE FAZER O MACHO E A FÊMEA
EM UM SÓ, PARA QUE O MACHO NÃO SE FAÇA MACHO, E A FÊMEA
NÃO SE FAÇA FÊMEA, INGRESSAREIS ENTÃO NO REINO".
(dito 23 do Evangelho segundo São Tomás)
A participação da mulher na maçonaria é muito pouco conhecida por historiadores de nossa época, tendo em vista as dificuldades interpostas, dentre as quais a destruição de uma grande parte dos documentos que comprovavam tais fatos; os próprios maçons de lojas exclusivamente masculinas, resistiam e ainda resistem a idéia de que as mulheres possam fazer parte da sociedade maçônica.
A bem da verdade, posso afirmar que a relação entre a mulher e a maçonaria, marcada por separações e reconciliações, sempre foi conturbada e polêmica.
Esta pesquisa busca resgatar, dentro do possível, através de registros e depoimentos, a incansável luta de algumas, muito poucas, posso afirmar, mulheres que através dos movimentos feministas, desafiaram os preconceitos e conquistaram o direito de igualdade, tanto políticos como sociais.
Vamos pela linha do tempo:
Na Idade Média (final do século XVI), havia restrição quanto ao ingresso da mulher na maçonaria e o motivo, segundo pesquisa, se dava principalmente pela dificuldade de ofícios, já que era uma sociedade caracterizada pela miséria e falta de empregos, e os homens, receando que as mulheres se tornassem operárias e ganhando menor salário, reduzissem desta maneira suas oportunidades. Maria Oliveira Alves, secretária de relações Públicas do Grande Oriente, declara em entrevista a uma conhecida revista, que a proibição de mulheres nos rituais coincidiu com o período de "caça às bruxas", - era o tempo em que as mulheres só podiam desenvolver o INTELECTO nas labaredas da inquisição, - disse ela.
Antes desse período, nas tradições das sociedades secretas antigas, tanto homens como mulheres de qualquer posição social e cultural podiam ser iniciados na maçonaria e seus mistérios, e a única exigência era a de que deveriam ser puros e de conduta nobre. A perseguição da mulher começou na Inglaterra por influência dos mistérios Judaicos-Mitro-Romanos e algumas agremiações operativas da Idade Média, que viviam na clandestinidade, para escapar das cruéis perseguições eclesiásticas e políticas.
Em nenhuma escola pesquisada anteriormente, foi encontrado algo que proibisse o ingresso da mulher na ordem; pelo contrário, nos antigos mistérios do período operativo, a mulher desempenhava funções em igualdade com o homem, com a diluição desses mistérios pelas religiões, principalmente a Igreja Católica, as mulheres acabaram sendo discriminadas e inferiorizadas, e o clero feminino limitou-se a prestar serviços aos dirigentes eclesiásticos. Alegavam, nas sociedades antigas que a posição de inferioridade da mulher era devido à sua fragilidade física, sendo que até a esterilidade conjugal era indevidamente associada à mulher, pois não poderia comprometer o macho da espécie perante seus congêneres.
Na Magazine Freemason, publicado em 1815, aparece o texto de um pequeno livro chamado Manuscrito "Poema Régio", datado de 1730, descoberto por um antiquário, com 794 versos, nada consta nesse manuscrito que revele que a ordem seja restrita aos homens, pelo contrário, pois em seu art. 10º, versos 203 e 204, diz: "Que nenhum Mestre suplante o outro, sendo que procedam entre si como irmão e irmã". No item 9º, versos 351 e 352, encontra-se:"Amavelmente servimo-nos a todos, como se fôssemos irmão e irmã". Somente no verso 154 existe uma proibição, que é a de admitir servo como aprendiz. Há também uma citação das ordenações da Loja Corporação de Corpus Christi, em York, d 1408, que diz: "Nenhum leigo será admitido na corporação, exceto apenas aqueles que exercem uma profissão honesta, mas todos sejam clérigos ou leigos e de ambos os sexos, serão bem recebidos se forem de boa reputação e de bons costumes". No mesmo manuscrito, se indica que os irmãos e irmãs deverão prestar juramento sobre o livro e várias vezes se faz alusão a dama, particularmente no juramento do aprendiz, onde ele jura obedecer ao Mestre ou a Dama. Acredito que isso seja suficiente para provar que existiam sim, mulheres em seus canteiros de obras.
A exclusão da mulher só aconteceu a partir dos "Landmarks" que contrariavam as tradições e sociedades secretas antigas. Proibições estas, impostas pelo presbítero James Anderson, supostamente maçom, que no art. 18 de sua constituição de 1723, após a mudança da maçonaria operativa para especulativa, em 1717, vetou também a iniciação de escravos e deficientes físicos.
Sobre estas reformas de 1717, o maçom Miguel André Ransey diz: - Muitos dos ritos e costumes, quando contrários aos reformadores, foram mudados ou suprimidos. Também, segundo alto maçom Charles Sotseran, "As constituições de 1723 e 1738, do suposto maçom James Anderson, foram adaptadas para a então recém formada Primeira Grande Loja de Livres e Aceitos Maçons da Inglaterra.
Anderson adulterou estas constituições, e para fazê-las atuar legalmente, alegou que quase todos os documentos relativos à maçonaria haviam sido destruídos pelos reformadores, em 1717. Charles admite: "A maçonaria especulativa tem muitas tarefas e uma delas é a de admitir a mulher como colaboradora em suas atuações como fizeram os Húngaros com a condessa Haiderik. Quanto ao presbítero, não provavelmente maçom, seguindo os costumes clericais, e sua própria inclinação, tirou da mulher um direito que foi dela durante centena de anos.
A maçonaria, não se conformando com essa discriminação, em 1730, sete anos depois da constituição de Anderson, criou na França um movimento, a Maçonaria de Adoção, destinada à mulher, sendo então fundada a ordem da Fidelidade, e que tinha apenas quatro graus. Em 1732, surgiu a Ordem dos Cavaleiros e Herínas da Âncora, dos Cavaleiros e Ninfas da Rosa, que não aceitavam mulheres como membros regulares, mas que lhes comunicavam sinais de reconhecimento e aceitavam suas presenças em determinadas cerimônias.
Em 1738, surgiu na Alemanha a Ordem de Moisés, em 1747, a Ordem dos Lenhadores, ordem esta que tomou suas principais cerimônias dos Carbonários, que na época existia na Itália. O lugar de reunião era chamado Corte Florestal, como se diria em tempos atuais "Pedreiros da Floresta", o Mestre tinha o título de Pai-Mestre e seus membros eram tratados por primos e primas. Esta ordem foi muito popular, e as senhoras de França nela foram muito bem acolhidas. Segundo um Historiador, o sucesso desta ordem foi grande, ocasionando a criação de outras; entre as muitas distinguiram-se a Ordem do Machado e a Ordem da Felicidade, as quais aproveitando-se da galanteria com que as senhoras se destacavam, combateram fortemente o exclusivismo da Franco-Maçonaria.
Em 1774, o Grande Oriente da França, percebendo que essas sociedades contavam com inúmeros membros, e que podiam prejudicar de alguma forma moral a que se propunha, criou um novo rito chamado de Adoção, que estabeleceu regras e leis para seu governo, prescrevendo que só os Franco-Maçons pudessem comparecer as suas reuniões, que cada Loja de Adoção estivesse sob o jugo de uma Loja Maçônica regularmente constituída, e que o Venerável desta última, ou seu deputado, fosse o oficial que presidisse acompanhado da presidente da Loja de Adoção.
Em 1775, com as regras acima, foi estabelecida em Paris uma Loja sob o título de Santo Antonio, sob a presidência da Duquesa de Bourbon, a qual foi também nomeada Grã-Mestra do novo rito e meses depois foram fundadas as lojas "Candura" e "Nove Irmãs".
Em 1778, é fundada a Loja Estrela do Oriente, o rito de adoção tinha apenas 4 graus: Aprendiz, Mestra e Perfeita Mestra.
Em 1786, o conde Cagliostro, iniciado em 1760, na antiga maçonaria, pelo conde Saint Germain, fundava a Loja chamada Maçonaria Egípcia, para homens e mulheres; alegavam que se as mulheres haviam sido admitidas nos antigos mistérios, não havia razão para excluí-las das ordens modernas. A ordem de Moisés se espalhou pela Alemanha e o Rei Frederico I querendo proteger as mulheres, pôs a ordem sob sua proteção. A ordem cresceu, transpôs fronteiras e chegou a França, onde entrou sob forma de maçonaria de adoção.
Os argumentos usados pelos homens segundo Luciana Andréia Araújo, não convenceram as mulheres a ficar fora dela, ao contrário, afirma Luciana, acabaram ouvindo rituais atrás de portas, iniciaram-se nos mistérios e criaram suas próprias lojas.
Segundo narrativas de fontes orais, a senhora Beaton, escondeu-se no forro de madeira de uma loja de Norfolk, na Inglaterra, surpreendendo os segredos maçônicos. Foi então iniciada. Esta mulher guardou os segredos até sua morte em 1802.
Madame Xaintrailes (não se tem data precisa), numa festa de adoção, antes da entrada dos membros da loja, entre os visitantes estava um jovem oficial, em uniforme de cavalaria. O maçom encarregado do exame dos visitantes, pediu-lhe o certificado de maçom para ser examinado pela loja. O oficial entregou um papel dobrado que foi encaminhado ao orador da loja, o qual, ao abri-lo descobriu que se tratava de uma patente de ajudante de ordens, outorgada pelo Diretório (1795 - 1799) à esposa do general Xantrailles, uma mulher que, com várias outras naqueles tempos conturbados, tinha revestido o traje masculino, alcançando uma graduação militar pela espada.
O historiador H. de Oliveira Marques conta que, em 1764, a arquiduquesa Maria Tereza da Áustria proibiu a ordem maçônica em seus domínios, depois de ter sido impedida de participar dos rituais secretos. O motivo pela qual a Rainha Elizabeth I teria perseguido a ordem na Inglaterra seria o mesmo.
Depois da revolução Francesa os aventais femininos novamente foram excluídos. No final do século passado Marie Deraisme, feminista de primeira grandeza, fundou a primeira escola de obediência oficial, com o nome de a Grande Loja Simbólica Escocesa Mista "O Direito Humano". A potência estendeu suas raízes pela Suécia, Inglaterra, Holanda, Itália e Argentina, sendo também fundada no Brasil em 1919, registrada como Isis, em homenagem a deusa do sol. Não há muitos registros sobre sua difusão.
A Grande Loja Feminina da França, tornou-se a primeira potência legítima para administrar a maçonaria feminina Francesa.
A maçonaria era antigamente regida pelos Old Charges (antigas obrigações ou deveres), Old Charges, nome em Inglês dado a mais de cem manuscritos existentes atualmente, que contém a história legendária da maçonaria operativa antes de 1717.
Cagliostro registrou sua esposa, Laurenza, Grão Mestre de uma Loja adotiva feminina; são daí iniciadas várias damas da nobreza. Em 1786, Catarina II, imperatriz da Rússia, presidiu a Loja Clio, conforme cita Vera Facciolo, soberana Grã-Mestra da Grande Loja Arquitetos de Aquário, do Grande Oriente de São Paulo, em sua tese "A mulher na maçonaria", apresentada no V congresso Maçônico Internacional de História e Geografia, realizado no Rio de Janeiro em março de 1990. A controvertida figura do conde Calistro, ou José Bálsamo, como afirmam alguns historiadores, criou em Lyon em 1786, o rito egípcio da maçonaria andrógina, que teve a princesa Lambelle como primeira Grã-Mestre honorária.
A revolução Francesa foi brutal para os maçons, assim como para a princesa Lambelle que foi massacrada em 1792 na prisão da forca; outras permaneceram no cadafalso; uma grande parte imigrou. Não parece Ter havido lojas no período Jacobino, mas a partir do consulado elas se reconstituem. Deu-se uma grande importância a certa tradição, segundo a qual Josephine Beauharmais, membro de uma loja adotiva, tinha sido encarregada pelo seu segundo marido, Bonaparte, de reconstruir essas lojas. Tornado-se imperatriz, assistiu pessoalmente a iniciação da condessa de Canisy, sua dama de honra, numa assembléia que teve lugar em Estrasburgo no ano de 1810. A partir daí não mais existiram lojas femininas na França até 1810.
A criação de lojas femininas tornou-se tão presente depois de 1871, e desde então foi tão fortemente apoiada por certos maçons que ela suscita uma criação exemplar, o que vem a acontecer através de Marie Deraisme, nascida em 1828, em Bourbon. Marie Deraisme é uma excelente escritora com talento de oradora, e as belas frases tanto escritas como faladas surgem com facilidade. Esta faculdade permite-lhe servir com eficiência a causa feminista.
Na Segunda metade do século XIX, a emancipação da mulher é uma realidade, e é nesta corrente de pensamento que Marie Deraisme se envolve. Marie é convidada para fazer uma série de conferências no Grande Oriente. Ela ia recusar quando um artigo de um jornal, que criticava as mulheres de letras, lhe chama atenção. Indignada com a afronta do masculino contra o feminino, ela muda de idéia. Sua luta pela emancipação da mulher se estende por mais 20 anos.
Em 14 de janeiro de 1892, na loja "Les Libres Penseur", em Pec, na Normandie, Marie Deraisme recebe a luz maçônica, e no mesmo dia recebe os graus de companheiro e mestre maçom. A Grande Loja da França, ao tomar conhecimento deste fato, expulsou esta loja e seu Venerável Mestre, Obram. Dr George Martin, persuadiu este Venerável Mestre a fundar uma organização aberta a homens e mulheres, em pé de igualdade, juntamente com a escritora e jornalista Marie Deraisme. O Franco-Maçom, George Martin, Senador da República, que vinha trabalhando pela admissão da mulher na maçonaria, ofereceu sua ajuda a Marie Deraisme, que está resolvida a ver seu sonho realizado.
Esses três seres complementares reúnem seus conhecimentos para enfim, depois de tantos obstáculos criados por alguns franco-maçons, Marie Deraisme realiza sua grande obra; nasce oficialmente, em 04 de abril de 1893, a Grande Loja Simbólica Mista da França. A nova potência foi denominada "Le Droit Humain" (O Direito Humano). A escritora, Marie Deraisme fundou ainda a primeira loja feminista durável que levou o nome de "O Direito Humano"; é uma loja mista de rito Escocês, mas que só inicia mulheres.
Em Portugal, o boletim oficial do Grande Oriente Lusitano, registra em 1881, a existência em Portugal de uma loja de adoção, com o título de "Filipinas de Vilhena", aprovada pelo decreto nº 18 de 29 de dezembro de 1881, autorizando a instalação e regularização, sob os auspícios desse Grande Oriente, como filial 01 da loja "Restauração de Portugal". Essa loja teve vida agitada dentro da maçonaria, sendo expulsa deste Grande Oriente pelo decreto 9 de 10 de junho de 1883. Ingressaram então na nova Grande Loja dos maçons livres e aceitos de Portugal.
Esta loja feminista abandona a Grande Loja em 29 de outubro de 1884, indo a seguir, filiar-se à Grande Loja Departamentel de Fortaleza do Grande Oriente da Espanha, até que em junho de 1885, a Venerável é expulsa, acabando assim a agitada vida da 1ª loja de adoção de Portugal. Somente em 1904, é que voltam a aparecer lojas de adoção em Portugal, e pouco a pouco as senhoras conquistaram sua independência, passando a se organizar em lojas femininas independentes, tal como as lojas masculinas, com representação própria e nitidamente apoiada pela "Le Droit Humain" Francesa.
Em São Paulo, a 4 de janeiro de 1871, irmãos das lojas "Amizade", do Grande Oriente Beneditino, fundaram a loja feminina, "Sete de Setembro" da qual foi a primeira Grã-Mestre, Francisca Carolina de Carvalho.
Vera Facciolo, em sua tese, cita uma relação de nove lojas femininas, fundadas sob a jurisdição do Grande Oriente Unido, e que tiveram vida entre 1874 e 1903. Em Campos, a loja "Anita Bocaiúva"; no Rio de Janeiro, "A estrela Fluminense" e as "Filhas do Progresso"; em Curitiba a loja "Filhas de Acácia"; em Juiz de Fora a loja "As Filhas de Hiran"; em Bagé, "Fraternidade"; em São João da Barra (RJ) a "Perseverança"; em Barra do Itapemirim (ES), "Teodora". Dessas lojas, uma foi dissolvida, uma eliminada pela ordem, três simplesmente desapareceram, e uma teve o pedido de regularização indeferido, as três restantes foram dissolvidas e cassadas por ato de Grão-Mestrado em 25 de setembro de 1937. Segundo a Grã-Mestre Vera Facciolo, entre 1874 e 1903, existiu em Bagé (RS), a loja mista "Fraternidade", portanto pode-se afirmar que as lojas mistas do Rio Grande do Sul, existiam antes de 1937. Até este ano foi encontrado provas de tais lojas.
Em Porto Alegre, até 1937, havia uma loja mista denominada "Verdade e Justiça nº 659", trabalhava em um prédio na rua República, e era filiada a "Le Droit Humain", da França. Desapareceu durante o regime discricionário do Estado Novo. Ainda em Porto Alegre, a loja mista "Vanguarda"; em Santa Maria a loja "Aor"; em Santana do Livramento, trabalhava uma loja mista filiada ao "Direitro Humano", e "Lautaro". Quer nos parecer que estas lojas tiveram atividades até 1960. (os dados encontrados são vagos), contudo, segundo informa o maçom, José Jorge de S. Marques, que a A.R.L.S. Verdade e Justiça 659 "O Direito Humano", ainda funciona em Porto Alegre, sob os auspícios do O.M.M.I. - Le Droit Humain.
Em 1902, foi fundada nos Estados Unidos da América do Norte, a ordem Maçônica Mista Internacional "O Direito Humano", e em 1919, no Rio de Janeiro, foi fundada a loja mista "Ísis". A Federação Brasileira "O Direito Humano", filiada a Maçonaria Mista Internacional, "Le Droit Humain", foi fundada em 1929.
Na França, e em outros países, existem atualmente, lojas femininas masculinas e mistas. Em nosso país, as potências masculinas regulares não reconhecem as lojas femininas e mistas e no entanto, estas aceitam como regulares as potências masculinas. O Grande Oriente do Brasil, em 1940, suprimiu de sua legislação as lojas de adoção, ficando assim evidente a sua aceitação posterior.
Há mais de 75 anos, espalhadas pelo mundo, funciona a Ordem Internacional "As Filhas de Jó", para jovens filhas de maçons de 11 a 20 anos, desenvolvendo em seus núcleos um ritual puramente devocional (lunar).
Na atualidade o tema "Mulher na Maçonaria", tem sido assunto de muita controvérsia, muitas opiniões já foram publicadas pela Imprensa Maçônica, algumas favoráveis ao ingresso da mulher na maçonaria regular masculina, e, em grande maioria são opiniões contrárias a esse procedimento.
A revista "Acácia", dedicou em várias edições, artigos de profundidade sobre o tema, alguns assinados por respeitáveis irmãos maçons.
Comentários de alguns autores:
Friedrich Nietzche, em "Oeuvres Posthumes" (Mercure de France, 1934, 156p) vê na mulher emancipada uma masculinidade, uma degeneração dos instintos femininos que arruínam seu poder.
A Grande Loja da Suíça, publica em seu nº 30, de Cayer bleu, que a mulher deve possuir seus próprios rituais, correspondentes à sua sensibilidade.
Em Paris, a loja Heptágono, elabora um ritual baseado nos ritos da tecelagem, com a simbólica das tramas e dos entrelaços.
A maçonaria de 1717, só pode refletir em suas constituições de 1723, um sentimento geral de servilismo da mulher, em um século puritano, dependente de seu marido ou de seu tutor. Ela não é livre no sentido jurídico.
Dentro desta incompreensão André Bousine define esse aporte feminino em "La Franc-Maçonnerie Anglo-Saxonne et les Femmes". Seu texto é abundante de ensinamentos, tirados de suas próprias fontes, dos rituais, das conversas e de sua freqüência nas lojas. Em sua tese de doutorado de história, sustentado em Dijon, a 22 de janeiro de 1990, conservou mais que o pensamento tradicional, o aspecto ao mesmo tempo espiritual e histórico, baseados em valores iniciáticos, que particularmente nos Estados Unidos, se inscrevem em um contexto sociológico, no respeito de usos e costumes de um país. O maior interesse desta obra é traçar um paralelo entre as lojas de adoção Francesas do século XVIII, e nossas lojas femininas atuais, face as lojas feministas Inglesas e Americanas.
"O progresso em nossos dias estabeleceu entre homens e mulheres, igualdade de direitos sociais, políticos e jurídicos. Poderá este novo status influir para a reconsideração de uma posição que faltam as bases tradicionais que colocavam a mulher sob a dependência e a tutela do homem?"
Esta matéria foi publicada originalmente no nº 4 de 1995 da edição Francesa L'Initiation.