A Ordem DeMolay, uma misteriosa fraternidade masculina - Revista ÉPOCA
Depois de se posicionarem como um triângulo, os meninos se ajoelham para uma breve oração, um Pai Nosso. As velas se acendem, uma a uma, e o juramento de fidelidade às Sete Virtudes Cardeais começa: amor à família; reverência pelas coisas sagradas; cortesia; pureza de coração; patriotismo; fidelidade e companheirismo. Um golpe de malhete anuncia que, no recinto, mais um rapaz está prestes a se tornar um novo membro, um DeMolay.
Jacques DeMolay, mártir que dá nome à Ordem, foi condenado à fogueira no século XII pelo Rei Filipe, O Belo, por não revelar os segredos da seita medieval dos Templários, da qual fazia parte, nem o nome de seus companheiros. Seu exemplo é seguido por rapazes com perfis tão diferentes quanto um professor de Inglês, um músico, um estudante universitário de Filosofia, um médico, Bill Clinton e Walt Disney. Todos são cavalheiros da Ordem DeMolay, uma fraternidade masculina internacional patrocinada pela Maçonaria e que tem como um de seus objetivos a formação de líderes.
Os participantes desta Ordem, que é envolta em mistérios como uma seita secreta, são rapazes de 12 a 21 anos, indicados por outros DeMolays ou por maçons, aos quais chamam de tios. Para ser aceito no grupo, é preciso passar por um processo de seleção e um rito de iniciação, como o descrito, que tem passagens públicas e outras confidenciais. "As velas, capas e afins são apenas uma tradição, uma inspiração para nós. Não há nada de macabro nisso", diverte-se o DeMolay Rafael Chaves, 19 anos, iniciado há 2 no Capítulo Frank Marshall, um dos mais participantes da Ordem, na Ilha do Governador. Ele conta que a família se assustou com a perspectiva de que o jovem professor de Inglês e estudante de História pudesse estar envolvido com alguma espécie de ocultismo: "Minha tia viu o filme Sociedade Secreta e me ligou desesperada. Tive que explicar que, na prática, é tudo muito diferente", lembra Rafael.
Dinheiro, carrões e modelos
Em Sociedade Secreta, William McNamara, personagem do ator Joshua Jackson, é um promissor atleta convidado a integrar uma fraternidade masculina. Ao ser iniciado, em uma cerimônia que marca a ferro seus participantes, ele recebe alguns mil dólares em sua conta bancária, passa a dispor de carros tão fabulosos quanto Porsches e Ferraris, além de participar de festinhas com moças belíssimas. "É realmente muito parecido conosco, principalmente as partes da grana, dos carrões e das modelos", ironiza Bergson Marques, 18 anos, DeMolay do Capítulo Ajuricaba, em Manaus, Amazonas.
Daniel Rinaldi, 19 anos, apressa-se em explicar que não há nada que deponha contra a integridade física e moral dos membros da fraternidade, e que o papel dos tios é o de patrocinadores: "A ritualística secreta não envergonha ou põe em perigo nosso novo irmão, que não será um aprendiz de maçon. Os membros da Maçonaria não nos dirigem, apenas nos ajudam financeiramente, dão algumas orientações e emprestam o local de reuniões", esclarece o estudante de Filosofia e Mestre-Conselheiro (uma espécie de presidente ) do Capítulo Frank Marshall.
Voluntários sociais anônimos
Ser um DeMolay, na prática, é questão de liderança, comunhão com os amigos, responsabilidade social e valorização dos próprios estudos e empregos. Há os que crêem em predestinação ("O sol nasce para todos, mas a sombra, só para os DeMolays. Ser DeMolay é ter um dom", afirma Bergson Marques) e os que confiam no bom comportamento como um diferencial, incluindo nisso as ações sociais, que são regra e freqüentes. Os projetos realizados pelo Capítulo Frank Marshall, por exemplo, englobam distribuição de alimentos à população de rua, noções de higiene para os carentes, doação de brinquedos a abrigos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e limpeza de áreas que sofreram impacto ambiental, como os manguezais da Baía de Guanabara.
O espírito humanitário é compartilhado por irmãos de todo país. Para o músico Aldrin Izidoro, 22 anos, iniciado há 7 no Capítulo Caruaru, em Pernambuco, ter preocupação com o social é característica do DeMolay: "Fazemos filantropia sem divulgá-la. Não precisamos fazer marketing disso, como tantas organizações", alfineta ele, que é acordeonista das bandas de Zé Ramalho e Belchior.
No Paraná, o Capítulo Campo Mourão, do qual faz parte o médico Marcelo Brito, moderador da lista nacional de e-mails da Ordem, também desenvolveu projetos filantrópicos expressivos: "Apoiamos portadores de HIV, deficientes visuais, neoplásicos e idosos", garante Marcelo.
O cotidiano: vestibular, rock e namoradas
Apesar de receberem títulos carregados de seriedade, como Mestre-Conselheiro, e de terem nas personalidades de projeção mundial exemplos, estes meninos estudam, trabalham, praticam esportes e se divertem como convém à sua faixa etária. "Saio com meus amigos para jogar futebol, vou a festas e adoro o rock progressivo do Rush", diz Mauri Kassick, 18 anos, DeMolay do Capítulo Frank Marshall, e vestibulando de Informática.
Estar com os irmãos, administrar o Capítulo e desenvolver projetos filantrópicos são atividades vistas como entretenimento, pelo prazer de participar da fraternidade e não como obrigação. "Sabemos que algo tem que ser feito pela sociedade e tentamos ser o marco inicial de uma atitude, dando o exemplo para que as boas ações se multipliquem", crê Luis Henrique Noguera, 20 anos, estudante de Engenharia Química e unanimidade na filial da Ilha do Governador por seu comportamento diferenciado.
O irmão caçula do Capítulo Frank Marshall, Gabriel de Albuquerque, de apenas 13 anos,vê em Luis e nos outros meninos o grande estímulo para a participação: "Fico contando os dias para chegar a data das liturgias e do encontro com os colegas", diz ele, que também é conhecido como "o terror das menininhas de 5° série".
Os planos destes garotos para o futuro são os mais diversos. Alguns pretendem se tornar maçons, outros, seguir as carreiras às quais se dedicam. O importante é saber não há como deixar de ser um DeMolay. Nas palavras de Bergson Marques, "já se nasce DeMolay; é uma questão de espírito. A iniciação é apenas uma conseqüência."
De fato, ser DeMolay não significa dizer que estes não possuem vida própria e comum. A maioria das pessoas, infelizmente, tem ideias bastante alienadas quanto à Maçonaria e suas ordens paramaçônicas.
ResponderExcluirSou Past Honorável Rainha, Membro de Maioridade e Guardiã do Bethel #001 Princesas do Sertão, da Ordem Internacional das Filhas de Jó, tenho dois irmãos que são Demolays e Maçons, Tios sanguíneos que são Maçons e até namorado é Maçom.
Preciso dizer que amo e admiro a Família Maçônica?
Rs!
Abraços Fraternos
Ps.: sigo o blog há algum tempo.
Só acho esquisito a Revista época não dizer que os Templários, não eram um ordem secreta e sim uma instituição Católica,que depois de seu desmonte originou a companhia de Jesus, através de Ignacio de Loyola(mais conhecida como os Jesuítas) um ex-templário, quem leu o Livro "O Papa Negro" sabe do que estou dizendo. O que levou a condenação dos Templários, foi o fato de eles serem credores do Rei Felipe O Belo e de que o mesmo estava "Falido" (detalhe" Jaqcques De Molay era "Cumpadre" do Rei Felipe...)
ResponderExcluirLeiam "Jacques de Molay" e "Papa Negro" de Rizzarzo Da Camino, onde conseguir?? Na Rodoviária de Campinas-Sp comprei quase toda a coleção deste autor, muito bom por sinal..
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