RECONHECIMENTO_E_REGULARIDADE_MAÇONICA
Elias Mansur Neto
Past
Master Imediato da Loja Maçônica Cavaleiros Templários e
Membro
Efetivo da Loja Maçônica Cel José Persilva.
RECONHECIMENTO E REGULARIDADE
MAÇÔNICA
INTRODUÇÃO
A Loja Maçônica Cel. José Persilva, por ser
uma Loja de Pesquisa, dedica-se à produção
de artigos que visam contribuir para o esclarecimento de temas importantes,
os quais vêm preocupando
a comunidade maçônica em geral.
Devido à grande quantidade de lojas e potências maçônicas
espalhadas pelo planeta, estabeleceu-se uma discussão sobre
quem dispunha de autoridade para reconhecer uma loja ou potência maçônica como regular. Este é
um tema realmente importante, que deve ser esclarecido, face as sucessivas divergências que
costumam ocorrer entre as diversas Lojas e potências: Quem
é regular e quem pode ser considerado maçom?
Estudos neste sentido vêm sendo
realizados, e contam com a valorosa contribuição dos irmãos: José Vicente Menezes, Hiroito Torres Lage, Alceny
José Mendes, José Wyllen Fontes e Elias Mansur Neto, que elaboraram trabalhos
sobre o tema, com palestras apresentadas em reuniões da Loja
Maçônica José Persilva.
Com o propósito de apresentar uma contribuição ainda mais efetiva, recorremos a
outras fontes, que se encontram listadas na relação de autores
consultados, ao final deste artigo.
OBJETIVO
Fornecer informações sobre Reconhecimento e Regularidade maçônica, de modo a permitir que cada membro possa avaliar
sua a real importância.
DESENVOLVIMENTO
O mundo maçônico está
dividido em dois blocos. De um lado, estão as potências Regulares, ou seja, aquelas que possuem a chancela da Grande Loja Unida
da Inglaterra (GLUI) e, do outro, as Irregulares, potências que não
reconhecem a GLUI como instituição reguladora da Maçonaria Universal.
Dentre as
regras de regularidade e reconhecimento que a GLUI tenta impor, algumas têm origem na
maçonaria operativa, mas outras foram criadas após 1717, e tinham por objetivo submeter as potências da maçonaria
mundial sob a tutela daquela instituição. O critério que a GLUI utiliza
para reconhecer uma potência maçônica é complexo e, por vezes, até incoerente.
As contradições são muitas. Segundo as palavras do ir:. Bartlomeu M. dos
Santos, MI, da ARLS Cavaleiros e Antares:
A Grande Loja
Unida da Inglaterra vê-se hoje obrigada a aceitar que a ponderosa
Maçonaria
Norte Americana emita Warrants (certificados) de “regularidade”, por tabela. E
tem mais: em situação recente, a Inglaterra retirou o reconhecimento do Grande Oriente da Itália (dirigido por Virgilio
Gaito), e os EUA ( 1994 ) o manteve. Situação semelhante ocorreu na
Grécia.
Tal balbúrdia nos
obriga a buscar respostas para as seguintes perguntas: a) o que é Reconhecimento e Regularidade? b) Quais documentos
maçônicos abordam este tema, e quais autorizam uma instituição maçônica
a reconhecer outras? c) Será que os critérios de reconhecimento e regularidade
estão baseados nos Landmarks?
Ao
explorarmos este tão polêmico tema, tentaremos responder a estas e a
outras questões, analisando com
profundidade o porquê desta divisão imposta pela GLUI, de modo a nos
certificarmos de sua validade.
Definição de regularidade e reconhecimento – 1) Regularidade: os dicionários fornecem as
seguintes designações para este verbete: “que e ou que age conforme as regras,
normas, as leis, as praxes; relativo a regra”. 2) Reconhecimento: também
segundo o vernáculo: “declarar (um governo)
reconhecido legitimamente; admitir como bom, verdadeiro ou legitimo;
admitir como certo; admitir como legal.”
Para a GLUI, Regularidade e
Reconhecimento são condições distintas: uma
potência pode ser regular e não ser reconhecida. Em
contrapartida, se uma potência não for regular, ela não poderá ser reconhecida.
Desta forma, segundo aquela instituição, a primeira providência para o
reconhecimento de uma potência é certificar-se de sua regularidade.
Documentos históricos – Os documentos datados de 1248 a 1782 (Estatuto de
Bolonha, Manuscrito Regius, Manuscritos de Cook, etc.) tratam de assuntos
importantes, tais como comportamento dos maçons no trabalho e no convívio
social, processos e prazos de admissão e permanência como aprendiz, tratamento
das viúvas, eleições, assembléias, etc. No entanto, nenhum deles nomeia
qualquer loja ou instituição que tenha a incumbência de reconhecer uma potência
como Regular. É importante ressaltar que
“somente após 1782 é que existem atas e documentos dos quais se tem
conhecimento e certeza de data ou ocasião, autor, objetivo e público alvo”, e
que em nenhum desses documentos há registros sobre qualquer acordo entre
lojas ou potências, informando que uma determinada potência possa ter
autoridade para reconhecer outra.
Reconhecimento e regularidade nos dias de hoje - Para um melhor entendimento desta questão,
tomaremos como referência a Grande Loja da Inglaterra (GLI). Estabelecida em
1717, e considerada como a responsável pelo aparecimento da Maçonaria Especulativa, a GLI se julgava no
direito de controlar a maçonaria em todo o mundo. Aquela instituição, conhecida
na época como Grande Loja dos Modernos, e que fundiu-se com a Grande
Loja dos Antigos em 1813, tendo recebido o nome de Grande Loja Unida da
Inglaterra(GLUI), determinou que o primeiro requisito para o Reconhecimento de uma potência maçônica é que
esta seja Regular. Desta forma, em 4 de setembro de 1929, a GLUI
declarou os seguintes Princípios de Regularidade:
1 - A crença num DEUS revelado; o Grande
Arquiteto do Universo.
2
-
Fazer juramentos sobre o Livro da Lei.
3
- Trabalhar somente na presença das três grandes luzes: o Livro Sagrado, o Esquadro e o Compasso.
4
-
Abster-se de discussões políticas e religiosas em Loja.
5
-
Somente admitir membros do sexo masculino.
6
- Ser soberana no exercício de sua autoridade sobre as Lojas Azuis e seus graus (aprendiz,
companheiro e mestre).
7
- Respeitar as tradições. Ou seja, fazer com que em sua obediência sejam respeitados os
Landmarks, os antigos regulamentos e os usos e costumes praticados pela Franco-maçonaria.
8
-
Ser regular em sua origem, o que pressupõe ter sido
obrigatoriamente fundada por uma potência
já constituída, que possua pelo menos três lojas regularmente consagradas por
uma Potência Regular.
E quanto ao reconhecimento? Quais são os
critérios? Parece que não existem critérios estabelecidos para se reconhecer uma loja ou potência. Se
existem, não foram divulgados; e se não foram
divulgados, não devem ser transparentes.
Potências maçônicas não reconhecidas pela GLUI – A maioria das potências regulares do mundo não é reconhecida pela GLUI. Por exemplo, no Brasil somente são
reconhecidas o Grande Oriente do
Brasil e a Grande Loja dos estados de São Paulo,
Mato Grosso do Sul e Rio de
Janeiro. As demais Grandes Lojas do Brasil não são
reconhecidas pela GLUI. Também não o são
todos os Grandes Orientes estaduais da COMAB no Brasil. A França possui
atualmente treze potências maçônicas, das quais somente uma é reconhecida pelo GLUI. Detemo-nos
por aqui, pois a lista é interminável.
Cabe ainda salientar que os critérios
estabelecidos pela GLUI são também muito complexos, o que torna quase impossível a sua
aplicação. Como exemplo desta complexidade, tomemos o princípio da territorialidade,
o qual determina que somente uma potência por país pode ser reconhecida. Sua aplicação, na prática é tão
controversa que, no território francês, somente a Grande Loja Nacional da França
(GLNF) foi reconhecida, ao passo que nos EUA são reconhecidas
mais de cinqüenta potências estaduais. Diante de tal fato, é inevitável
questionar: por que somente a GLNF foi reconhecida na França?
Existiria alguma regra especial para os americanos, velhos
aliados da Inglaterra?
Os Landmarks – O Ir. Michael A. Botelho, grau 33, presidente do
Conselho de Kadosh de Arkansas, EUA, afirmou em artigo recente que
“saber o que é e o que não é
importante nos Landmarks é uma das
questões mais debatidas atualmente.” Segundo ele, o termo “Landmarks” foi criado por Albert Mackey, em 1865, quando o eminente
escritor declarou: “os antigos
e universais costumes da Ordem, aprovados e implantados pela autoridade competente, vêm de uma
época tão distante que não foi possível localizar registros escritos a
seu respeito ao longo da história”.
Assim, Mackey definiu três requisitos básicos dos Landmarks, os quais continuam a ser adotados até
hoje: 1) universalidade; 2) irrevogabilidade; 3) existência desde tempos
imemoriais.
Ainda, segundo o ir: Michael Botelho, em
1856, o Dr. Albert Gallatin Mackey, grau 33, tentou implantar os atuais
Landmarks conforme a ótica de sua época, definindo um
total de vinte e cinco Landmarks. Sete anos mais tarde, em 1863, George Oliver
publicou o livro Freemason’s Treasury, no qual listou quarenta Landmarks. No
século passado, algumas Grandes Lojas americanas
se lançaram na difícil tarefa de
quantificá-los, o que gerou o seguinte resultado: As Lojas do Estado da Virgínia Ocidental definiram sete; as Lojas de Nova Jersey a Nevada,
dez; e as do Kentuck encontraram cinqüenta e
quatro.
O ir: Joseph
Fort Newton, em seu livro The Builders, tentou definir os landmarks com
uma simples declaração: “ A
certeza de que Deus é pai, a irmandade dos homens, a lei
moral, a
regra de ouro, e a esperança da vida eterna”. Dentro de
uma linha de raciocínio semelhante, encontramos os seis Landmarks listados por
Roscoe Pound:
1- A
crença num ente supremo.
2- A
crença na imortalidade da alma.
3- A
obrigatoriedade de se manter o Livro da Lei no altar da Loja.
4- A
manutenção da Lenda de Iran no terceiro grau.
5- A
manutenção do simbolismo herdado da maçonaria operativa.
6- O
maçom tem de ser livre e de bons costumes.
Como é possível observar pelo acima exposto, não se sabe com certeza quantos
e quais são os verdadeiros Landmarks, ficando, por conseguinte,
muito difícil adotá-los como referência para se estabelecer critérios de Reconhecimento
e Regularidade.
O componente
político do problema - Algum tempo depois do nascimento da
maçonaria
especulativa, a antiga e bem conhecida rivalidade política entre a França e a
Inglaterra veio à tona. O Grande
Oriente da França (GOF), seguindo as tradições progressistas de seu país, e sob a
alegação de que não queria discriminar os homens livres e de bons costumes, retirou de sua Constituição a
obrigatoriedade de se crer em Deus para que um candidato pudesse ser feito maçom. Como
conseqüência, o GOF foi excomungado pela GLUI.
Segundo as palavras do ir:. Bartlomeu M. dos
Santos, da ARLS Cavaleiros e Antares, “a citação
da Bíblia como Livro Sagrado foi um dos obstáculos históricos que
provocaram o cisma entre a Maçonaria
Francesa e a Maçonaria Inglesa”. Oswald Wirth complementa-o dizendo que “ os anglo-saxões, ao exigirem a Bíblia, e somente a
Bíblia, negam a universalidade da Maçonaria e, se encararmos o problema
desse ponto de vista, a ‘irregularidade’ está do lado deles, e não do nosso”. Wirth afirmava
ainda:
“Somos
obrigados a nos inclinar diante dos fatos. Os anglo-saxões querem ter sua
Maçonaria
particular e renunciam ao universalismo proclamado em 1723”.
A maçonaria, não sendo propriedade de ninguém, não pode ser controlada por
um poder central mundial. A esse respeito, Morivaldo C. Fagundes ressalta:
Embora a maçonaria seja
universal no sentido filosófico e doutrinário, não o é administrativamente,
pois não possui uma organização mundial única. Nessas condições, em cada país e
muitas vezes, em cada estado membro ela se organizou soberanamente, com ampla e total autonomia administrativa. O fato
ensejou, como não poderia deixar de acontecer, o aparecimento do fenômeno
político dos reconhecimentos ou tratados de amizade interpotências, em
conseqüência do qual surgiu o discutido e discutível conceito de regularidade maçônica.
Voltando à questão do Princípio da Regularidade, analisemos então a sua
legitimidade, segundo o estabelecido pela GLUI:
Os Princípios 1, 2,
3, 4 e 5, anteriormente mencionados, parecem ser oriundos da Maçonaria operativa; são universais e compatíveis
com o que se entende por Maçonaria Universal. O Princípio 7, que exige
respeito às tradições, parece ter sido baseado nos chamados Old Charges, e o
Princípio 6 trata de uma questão administrativa.
Conforme os
critérios unilateralmente estabelecidos pela GLUI, todas
as lojas e potências do Brasil, que não
aceitam mulheres e atuam em conformidade com os oito princípios
estabelecidos por aquela instituição, são regulares. Logo, a pergunta
que precisa ser respondida é: Porque a COMAB (GOMG e demais orientes
estaduais), a GLMMG e tantas outras entidades não são reconhecidas? .
Nos
documentos da maçonaria operativa não se encontra nenhum registro onde
qualquer loja ou instituição tenha
autoridade para reconhecer outras como regulares. Esta conclusão também
é válida para os documentos produzidos pela maçonaria especulativa.
Finalmente,
vale ressaltar que a GLUI, ao exigir a adoção da
Bíblia como condição indispensável para que uma Loja ou potência possa ser
reconhecida, nega a universalidade da
Maçonaria. De acordo com a tradição maçônica, é a presença, não somente da
Bíblia mas também do Alcorão, ou de qualquer outro Livro Sagrado, que garante
a universalidade da maçonaria. Se consideramos a questão por este lado,
chegaremos à conclusão de que quem é irregular é a GLUI.
CONCLUSÕES
Em nenhum dos documentos históricos da maçonaria há registros sobre qualquer acordo entre lojas ou
potências, informando que uma determinada potência possa ter autoridade
para
reconhecer outra. Não sabe com certeza quantos e quais são os verdadeiros Landmarks,
ficando, por conseguinte, muito difícil adotá-los como referência para se
estabelecer critérios de Reconhecimento e Regularidade.
A maçonaria não é propriedade de ninguém, não pode, portanto, ser controlada
por um poder central mundial.
Uma vez que nem a GLUI e nem qualquer outra
potência tem autoridade para exercer o
Reconhecimento, o fato de ser ou
não ser reconhecido por ela ou por qualquer outra potência do planeta não é significante. O que importa é que cada loja ou
potência esteja ciente de sua idoneidade e espírito
maçônico, de forma a poder reconhecer a si mesma como membro da Maçonaria
Universal.
O restante vem por acréscimo.
Elias
Mansur Neto
Past
Master Imediato da Loja Maçônica Cavaleiros Templários e membro efetivo da
Loja
Maçônica Cel José Persilva.
LITERATURA
CONSULTADA
1. DA SILVA, José Vicente
Menezes. Regularidade e Reconhecimento Maçônico – Trabalho
apresentado em Loja
2. LAGE, Hiroito Torres. A
Regularidade e o Reconhecimento Maçônicos - Trabalho apresentado em
Loja.
3. MENDES, Alceny José. Reconhecimento
e Regularidade: reconhecendo a certeza da dúvida - Trabalho apresentado em Loja em 17/10/06.
4. FONTES, Wyllen
José – Da Regularização e do Reconhecimento Maçônico, de acordo com as
Normas da Maçonaria
Universal - Trabalho apresentado em Loja.
5.
BOTELHO, Michael A., gr 32, K.C.C.H., Os Landmarks DOS SANTOS.
6-
Bartlomeu Martins. Irregularidade, um aspecto meramente político.
Ótimo trabalho meu ir.'., só reforça nossos estudos e afirmações.
ResponderExcluirCaro Irmão Edson, receba nossos parabéns pelo trabalho que realizas um prol da Cultura Maçônica. tomamos a liberdade de indicar o blog A Maçonaria Revelada no Blog do Consistório Nº 1 (http://blogdoconsistorio1.blogspot.com.br/2014/06/a-maconaria-revelada-edson-de-souza-couto.html).
ResponderExcluirReceba o nosso tríplice, fraternal e sincero abraço.
MILTON ANTÔNIO GRAÇA DO SACRAMENTO
Comandante-em-Chefe do Consistório Nº 1.
P.S.: Visite o blog do Consistório Nº 1 (http://blogdoconsistorio1.blogspot.com.br/)
Querido Ir. fico muito honrado pelo comentário e estamos de braços abertos para receber críticas, sugestões de temas de pesquisa e assuntos, bem como de textos para publicação. Fiquem à vontade para reproduzir o que achar conviniente, irei visitar o Blog com muita satisfação. TFA
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