A
GRÉCIA E AS SUAS INFLUÊNCIAS. QUAL É A HERANÇA GREGA PARA A MAÇONARIA? O QUE
SÃO MISTÉRIOS? AS RELIGIÕES DE MISTÉRIOS E OS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS.
“A contribuição da mística, da filosofia e da
mitologia dos antigos gregos é de real importância na doutrina e na ciência
maçônicas; estilos arquitetônicos, atributos dos deuses, de sua mitologia e o
cerne do pensamento filosófico da Grécia antiga são encontrados em toda a
extensão dos catecismos maçônicos.” (Passagem
extraída do verbete GRÉCIA, que consta no “Vade-Mécum Maçônico” de autoria do
Irmão João Ivo Girardi)
INTRODUÇÃO
Vários motivos ensejaram uma vontade minha
em escrever sobre a Grécia, e talvez o principal deles resida no fato do
bombardeio com o nome Grécia, que vínhamos sofrendo, via meios de comunicação,
em virtude de acontecimentos recentes. Uma coisa puxa a outra, e o nome Grécia,
que nos últimos tempos tem ocupado as manchetes dos jornais do mundo todo, em
vista dos seus problemas de ordem econômica, que, aliás, se arrastam desde o
ano de 2010, faz com que, pensemos na Grécia de uma forma solidária, afinal,
como não levarmos em conta, ou não pesarmos e sopesarmos tudo o que a
civilização grega legou à humanidade. Quem um dia, não estudou, ou no mínimo
ouviu falar, quando da nossa passagem pelos bancos escolares e estendendo-se
até a faculdade, sobre os feitos e as contribuições dos gregos? Diante dos
fatos mais recentes, e dos seus desdobramentos, é até possível detectarmos o
velho espírito helênico presente, em virtude da resposta dos gregos aos
poderosos, que foi a de um povo que não quis ser submetido aos ditames da
austeridade, traduzidas nas imposições da Comissão Europeia.
Mas, em tempos de crise mundial, a
Grécia atualmente vive a sua verdadeira tragédia contemporânea.
Há tanto para dizer sobre a Grécia
antiga, o “berço da civilização”, pois, a Grécia está presente em nossas vidas
desde muito cedo, a mesma Grécia que inventou e viu nascer através de alguns
dos seus expoentes máximos como Sófocles e Ésquilo, o gênero tragédia. Sinais
dos tempos.
Este
trabalho quer ser um pouco diferente somente em sua introdução, não deixar de
lado, ao mesmo tempo em que o foco principal reside no passado desse país,
comentar ligeiramente os momentos atuais, concomitantemente falar da Grécia e
as suas importantes contribuições para a civilização, e também através de
alguns “flashs” mostrar sobre a necessidade de ficarmos atentos
aos problemas que atingem outros países, até pelo simples fato de que hoje,
principalmente no terreno da macroeconomia, tudo acaba, mais cedo ou mais
tarde, repercutindo pelo mundo afora. E até nisso, a Grécia ainda pode
ensinar-nos alguma coisa.
O objetivo maior seguirá sendo, ao
longo do trabalho, falarmos um pouco da civilização grega e daquilo que, sem
deixar de levar em consideração os prós e os contras, realmente podemos
considerar como contribuição dessa mesma civilização para a Maçonaria.
Antes, como forma de mostrar um
panorama geral das contribuições da Grécia à humanidade, passo à reprodução de
alguns trechos referentes ao editorial que o filósofo Lúcio Packter escreveu
para um número especial da revista “Filosofia”, e que versou sobre a Grécia:
“O
Islã não tinha então uma teologia desenvolvida; o aprofundamento veio da mesma
fonte onde o cristianismo buscara sua inspiração: o pensamento grego. Já entre
as tradições que chegam ao ocidente, o direito ao voto é um dos elementos mais
notórios. (…) Também a História nos foi deixada por Heródoto como mais uma
contribuição grega. (…) Os gregos inovaram nas ciências e na matemática
conferindo um rigorismo pouco usual se os compararmos com a matemática
babilônica, por exemplo. A herança grega afeta em diferentes graus desde o modo
como hoje pensamos, nosso vestuário, nossas relações com religião e
religiosidade, a ciência, a Filosofia, a cultura, as relações sociais, a
educação, e avança em direção a elementos como Arquitetura, Física, Biologia.
Dificilmente encontraremos uma área das atividades humanas que seja deserta das
inclinações gregas.”
A TÍTULO DE ILUSTRAÇÃO: DOIS BRILHANTES
COMENTÁRIOS, O DO PROF. ROBERTO S. KAHLMAYER–MERTENS E DO PROF. FERNANDO
GAY DA FONSECA
Conforme
havia prenunciado antes, mais motivos se somaram para que eu fosse compelido a
escrever sobre a Grécia. A leitura que havia feito a alguns meses, de uma
entrevista com o Doutor em Filosofia e Professor Roberto S. Kahlmayer-Mertens,
que em uma análise do cenário da filosofia no Brasil, aproveitou para fazer um
convite ao estudo dos gregos. Antes, porém, o professor Kahlmeyer-Mertens citou
uma passagem folclórica envolvendo o grande filósofo alemão Martin Heidegger.
Resumidamente é o caso de um jovem que perguntou a Heidegger o que seria
necessário para se fazer filosofia, ao que ele teria respondido: “Leia os gregos e não vá à universidade.” O episódio em
si denotaria as críticas pesadas de Heidegger ao academicismo de sua época.
Porém, após a sua leitura, o que não me saiu da cabeça é que no conselho dado
por parte do grande Heidegger ao jovem aluno, esteve implícita terminantemente
a ideia de que ler os gregos é fundamental, e ao que o Prof. Kahlmeyer-Mertens
após, reforçou, como sendo um saudável conselho, embora revelasse também
possuir dúvidas quanto a parte em que Heidegger desaconselha a ida à
universidade. Fica disso tudo, porém, não o que Heidegger teria dito, mas a
maneira com que o Prof. Kahlmeyer-Mertens rematou a questão: “Leia os gregos e vá à universidade”.
COMENTÁRIOS:
Confesso que sendo Maçom, e sendo
apaixonado pela leitura e pelo estudo, não conseguiria visualizar o perfeito
entendimento daquilo tudo que até aqui assimilei nessa caminhada (e que falta
muito ainda), do conhecimento que julgo ter adquirido, das analogias,
principalmente, que pude estabelecer, enfim da própria facilitação do que ouvi
e aprendi ao longo da estrada maçônica, sem ter recorrido aos gregos, sem ter
contado com a ajuda dos gregos, sem ter lido alguns dos gregos ou não ter
bebido das fontes gregas. Quem poderia refutar a assertiva de que somos
dependentes dos pensamentos dos filósofos gregos, e em todos os momentos das
nossas vidas estamos mergulhados no universo de um ou de outro desses
filósofos? O que nos direciona também, para o universo maçônico, pois, são
muitos os canais de ligação. Portanto, leiam os gregos, meus Irmãos!
Prosseguindo
com os comentários dos professores citados, agora é a vez de outro professor,
que escreve eventualmente artigos em jornais, Fernando Gay da Fonseca, em um
artigo recente que intitulou “A dívida da Grécia e a dívida
com a Grécia”, onde comentou a rejeição do povo grego, na consulta
popular que foi realizada para que respondessem sobre se aceitariam ou não as
condições a serem impostas pelos seus credores, e do qual destaco essa
passagem:
“Na
consulta popular, saiu vitorioso o “não” por mais de 60%. Não entendo de
microeconomia, quanto mais de uma macroeconomia, mas sei o que é galhardia e
independência. Nesta decisão o povo grego honrou essas qualidades. A velha
Grécia está sempre jovem pela riqueza da sua história, na qual temos a presença
de pensamentos dos seus maiores filósofos, como Anaxímenes, Anaxágoras,
Heráclito, seguindo na direção de Sócrates, com sua maiêutica, Platão e o seu
mundo das ideias que foi traduzido para o cristianismo por Santo Agostinho. E o
grande Aristóteles, preceptor de Alexandre, que foi a luz que iluminou o
pensamento de São Tomás de Aquino. Tudo isso reporta a esse povo que disse não
a uma limitação que queriam que fosse aceita, limitando a sua liberdade de
avaliação. Essa gente é aquela que busca o húmus debaixo das pedras, para
plantar suas oliveiras, e dança quebrando pratos, como querendo destruir tudo o
que lhe é adverso. Eles continuam fiéis à mensagem de um Paulo de Tarso, que
pregou, por todos os cantos do seu território, a história do Deus desconhecido.
Atenas, o seu Partenon, Ágora e tantos outros monumentos refletem no povo que
fez história e conta histórias, como a do Minotauro, para alimentar firmeza. Os
credores buscam elementos para retomar negociações. Como disse inteligentemente
um presidente francês, a Europa sem a Grécia não é Europa.”
Esses motivos já valem por si sós,
uma viagem no tempo pela Grécia, aquela para rememorarmos o muito que
representa da sua contribuição para a humanidade, ainda que, como já disse, o
foco maior é tudo aquilo que possa guardar referência ao que a Maçonaria pôde
colher, assimilar ao longo da sua existência e reparte hoje com os seus
adeptos.
Como saber a real dimensão do que a
Maçonaria teria bebido dessas fontes, e o quanto nós Maçons sabemos dos
tesouros do conhecimento grego?
A Grécia deixou três legados
fundamentais para o mundo, entre outros tantos, conforme o que foi citado
anteriormente pelo filósofo Lúcio Packter. Mas, vejamos sob outro ângulo: a
Filosofia, a Democracia e o Teatro. Na Filosofia há a liberdade de pensar sem
ter de obedecer às imposições de cunho religioso. Na Democracia, podemos
conviver socialmente de forma que os opostos se reconheçam e se respeitem. No
Teatro, podemos vivenciar os horrores desta vida, com base na representação,
sem que haja a culpa ou o risco de sequelas. (Vasconcellos, pág. 3, Jornal ZH,
21.07.2015)
Com certeza, o Teatro exprime a
liberdade, e como na Filosofia e na Democracia essa liberdade está implícita,
conforme o exposto acima, podemos dizer então, que a Grécia nos deixou áreas
bem definidas para que exercitemos as ideias sobre o que seja ou o que se
imagine que seja a liberdade.
Há muito para ser avaliado no que se
refere às contribuições extraordinárias da civilização grega para o progresso
da humanidade, e no que tange aos ensinamentos maçônicos, o Irmão Theobaldo
Varoli Filho, já se manifestava escrevendo sobre o cabedal que interessa à
Maçonaria e que é proveniente dessa civilização, aliás, isso envolveria
assuntos tão variados como: a filosofia, as três ordens arquitetônicas, a
mitologia, a iniciática, o desenvolvimento da democracia, o simbolismo e o
alegorismo, as artes, os templos e as construções. Frente a isso tudo, a vontade
seria mesmo poder abordar cada um dos tópicos que foram elencados acima. De
alguns deles já estamos falando desde o começo, seja nas entrelinhas, seja
diretamente: democracia, liberdade… O resto virá, durante o desenvolvimento do
trabalho, e não necessariamente na ordem disposta.
A HERANÇA GREGA NA MAÇONARIA
Muitos dos nossos Irmãos estudiosos
se debruçaram sobre o assunto, desenvolvendo pesquisas mais amplas e detalhadas
sobre as influências que a Maçonaria recebeu da Grécia antiga, reconhecendo a
dimensão disso tudo, e melhor ainda, com as devidas ressalvas, publicaram seus
resultados. Disse o Irmão Theobaldo Varoli Filho:
“As
boas lojas maçônicas do mundo contemporâneo já não se limitam a recitar para os
obreiros as ininteligíveis instruções e não mais ocultam as fontes gregas que
os maçons aceitos do passado foram rebuscar, para introduzi-las nos rituais. A
maçonaria moderna não engana. Demonstra desde logo a verdade e deixa as
conjecturas para quem quiser. Assim, por exemplo, quando os maçons tenham de
referir-se aos quatro elementos – ar, água, terra e fogo, que os antigos
consideravam corpos simples e fundamentais da formação do universo, não
deixarão de mencionar o hilozoísmo e o panteísmo da escola jônica de Tales de
Mileto (624-428 a.C.), Anaximandro (611-547 a.C.), Anaxímenes (588-524 a.C.), e
a notável evolução para os ensinamentos de Heráclito (535-475 a.C.), Empédocles
(495-435 a.C.) e Anaxágoras (500-428 a.C.). Não mais apresentarão certas
teorias como segredos, como faziam, por exemplo, com a tétrada pitagórica,
figura mencionada em qualquer livro de história da filosofia. O simbolismo
maçônico não mais comporta licenciosidade de interpretações e ocultação das
origens nas quais se inspirou. Essa verdade pode desagradar a muitos maçons que
precisam dormir para sempre, se não quiserem acompanhar a verdadeira maçonaria.
A mitologia é relevada pelos maçons, não só como fonte de inspirações
alegóricas, simbólicas e éticas, como também pelo fato de representar uma das
grandes fases na evolução das crenças e fornecer elementos de comparação
entre diversas religiões. Sendo a maçonaria uma ordem a serviço da democracia,
nada mais seria preciso dizer em abono da recomendação que se faz aos maçons,
no que tange às conquistas populares e democráticas da antiga Hélada.”
OS MISTÉRIOS GREGOS
Não saberia dizer até onde nós Maçons
temos isso que poderia ser classificado como um conhecimento razoável sobre o
que eram os Mistérios e como funcionavam. A iniciática grega, digamos assim,
acho que não é um tema abordado regularmente, e mesmo possibilidades de se
fazerem analogias ou referências com as nossas Iniciações, não são
aproveitadas, ou pelo menos, não me lembro de haver presenciado qualquer coisa
nesse sentido em Loja, sendo assim, tomo a liberdade de dizer que dependendo do
Mistério e mesmo no caso dos que guardam supostamente semelhanças com passagens
dos rituais maçônicos, não são de domínio dos Irmãos encarregados de
ministrarem instruções, e não são mais explorados pelo próprio desconhecimento,
onde podem ser incluídos aí, um certo desinteresse e a falta de leituras mais
aprofundadas. Então, a título de ilustração, é importante que tenhamos uma
noção de como eram, e é importante frisar, dos seus significados maiores, para
entendermos as origens das nossas próprias iniciações. No mínimo, devemos
abordar aqui, ainda que sucintamente, os mais importantes deles. E sempre com
as devidas ressalvas.
MAS, O QUE SÃO MESMO, OS MISTÉRIOS?
Sempre
que me deparei com a palavra “Mistérios”, presente
nos títulos de textos, livros ou até mesmo de filmes eu quis desvendá-los. Uma
propensão que eu diria é dada a todo ser humano. A palavra por si só, atrai.
Quando comecei a me deparar com ela, e não foram poucas as situações, lembro
particularmente das pesquisas para os trabalhos maçônicos, por ter me utilizado
bastante do “Dicionário Maçônico” do Irmão Joaquim Gervásio de
Figueiredo, (era o único que eu possuía tempos atrás) onde seguido dava com a
palavraMistério, já que há quase trinta páginas na obra citada
se referindo ao assunto e verbetes desfilando ao longo delas contendo a
palavra Mistérios. Há coisa de alguns meses atrás, andei
incursionando por ali e, escrevendo sobre os “Mistérios Judaicos’, mas, eu não
me detive no trabalho respectivo em fazer maiores esclarecimentos sobre o que
significam os Mistérios, isso eu pretendo fazê-lo a partir de agora. Depois,
iremos penetrar nos Mistérios Gregos que, me parece, envolvem mais detalhes,
assim como parecem ter exercido maiores influências que os outros. Começarei
definindo o que são os Mistérios, então.
Do
“Dicionário Enciclopédico do Pensamento Esotérico Ocidental”,
e do que consta no verbete MISTÉRIOS, retiramos as seguintes passagens:
“Situados
entre os mais famosos aspectos da antiga religião grega e romana, os Mistérios
eram rituais tradicionais de iniciação, muitos deles transmitidos desde épocas
bem mais remotas. O mundo grego tinha uma rica variedade de Mistérios, e no
passado alguns estudantes de misticismo tinham por hábito serem iniciados no
maior número possível de mistérios. Os Mistérios mais famosos eram os Mistérios
Eleusianos, realizados uma vez ao ano na pequena cidade de Elêusis. (…) Estavam
associados ao mito da procura de Deméter por sua filha Perséfone. (…) Os ritos
de iniciação dos Mistérios eram secretos, e só restaram referências esparsas e
imagens para que os estudiosos modernos arrisquem palpites sobre o seu
conteúdo. (…) A maioria dos Mistérios estabelecia apenas um estágio de
iniciação. Os Mistérios Eleusianos eram diferentes porque tinham duas fases, a
Myesis, ou Mistérios menores, e os Teletai, ou Mistérios Maiores. (…) Os
Mistérios eram um importante aspecto da religião pagã do mundo antigo, e, como
a maioria dos outros aspectos do paganismo clássico, aparentemente se
extinguiram quando o cristianismo assumiu o controle do mundo romano e as
práticas pagãs tornaram-se ilegais. Certos elementos dos Mistérios foram
preservados em círculos mágicos, como atestam os papiros mágicos
greco-egípcios. (…) Como muitos dos magos, gregos e romanos mais filosóficos
também eram iniciados nos Mistérios, esses empréstimos eram possíveis, e podem
ter permitido que fragmentos das práticas dos Mistérios passassem para as
tradições mágicas posteriores. Tentativas de identificar os trechos específicos
dos Mistérios no ocultismo posterior, porém, tem sido bem problemáticas. Parece
que pouca atenção foi dada aos Mistérios durante a Idade Média e o
Renascimento, mas o aparecimento da Maçonaria no século XVIII tornou os rituais
de iniciação um tema de grande interesse. Tal interesse se manifestou de
diversas maneiras. Primeiro, foram feitas tentativas de demonstrar (sem muitas
evidências) que a Maçonaria ou alguma outra ordem fraternal seria
a descendente direta de uma tradição específica de Mistérios, ou então dos
Mistérios como um todo. Em seguida, foram criados novos rituais de lojas
baseados nos fragmentos de informação restantes sobre os Mistérios, um projeto
que pode ter atingido o zênite com a invenção do Sétimo Grau dos Patrons of
Husbandry (The Grange). Uma tentativa vitoriana de reencenar os Mistérios
Eleusianos. Em terceiro, os Mistérios foram interpretados com a leitura dos
hábitos e tradições das lojas fraternais dos séculos XVIII e XIX nas antigas
Grécia e Roma. Esses três elementos tiveram um importante efeito sobre o
desenvolvimento da história mítica do ocultismo no período moderno.”
Uma
verdadeira introdução ao assunto Mistérios, e ainda,
sobre as possíveis conexões com a Maçonaria, usando do equilíbrio que o assunto
requer, consta no “Grande Dicionário Enciclopédico…”
do Irmão Nicola Aslan, de onde extraio o seguinte:
“Segundo
Frau Abrines, os mistérios da antiguidade consistiam em uma série de símbolos,
de parábolas e de sentenças obscuras, cujo conhecimento era reservado às
classes sacerdotais e que se transmitiam por tradição e através de uma série de
iniciações. A iniciação era uma escola na qual eram ensinadas as verdades da
religião primitiva, a existência e os atributos de um Deus único, a
imortalidade da alma, os castigos e as recompensas de uma vida futura, os
fenômenos da natureza, as artes, as ciências, a moral, a legislação, a
filosofia, a beneficência, o magnetismo animal, etc. Em todos os mistérios eram
apresentados ao iniciado, por meio de imagens, a felicidade do justo e a
desgraça do mal, depois da morte; as provas a que era submetido impressionavam
o seu espírito temperando-o, para que fosse capaz de compreender as grandes
verdades.
Grande
parte do Cerimonial Maçônico de Iniciação tira a sua origem dos mistérios da
antiguidade. Este Cerimonial foi adaptado às circunstâncias e exigências
modernas. Na Maçonaria, dá-se o nome de mistérios às Cerimônias, figuras
alegóricas e emblemas da Maçonaria, como também aos Sinais, aos Toques, e às
Palavras por serem coisas que não devem ser divulgadas. Não existe porém,
qualquer conexão histórica entre os mistérios antigos e a Maçonaria. Como todas
as corporações medievais ou operativas tinham um cerimonial de recepção,
diferente da Iniciação Maçônica moderna.”
O
Irmão João Anatalino Rodrigues em seu livro “O Tesouro Arcano”
escreveu o seguinte:
“Sabemos
que, como estrutura arquetípica, a Maçonaria é contemporânea das primeiras
civilizações. Desde os tempos mais antigos, os povos que alcançaram os mais
altos estágios civilizatórios cultivam a tradição de preservar sua cultura,
seus conhecimentos e suas conquistas mediante a reunião de grupos específicos
de indivíduos que comungam de interesses mútuos. Esses grupos se formam por
cooptação, procurando aglutinar, na forma mais nivelada possível, os ‘iguais’
dentro de uma sociedade, fundamentados na crença de que aqueles que estão mais
envolvidos com determinado sistema é que tem maior interesse em preservar seus
valores. É nesse amplo espectro, que funde religião, política, mitologia e
história, que iremos encontrar, por exemplo, as antigas manifestações culturais
conhecidas como Mistérios, que vários autores maçons costumam invocar como
sendo as estruturas mais antigas da Maçonaria.”
COMENTÁRIOS:
Como podemos ver, ainda que
subentendida, e após a leitura dos textos acima, a herança dos Mistérios Gregos
pode ser bem maior sobre as ciências ocultas do que mais diretamente sobre a
própria Maçonaria. Sem dúvida, seria o caso de discutir, quais os ritos que
absorveram ou tiveram maiores adaptações em seus rituais se utilizando daquilo
que teria sobrevivido dos tempos em que eram praticados, e que pelo que pudemos
ver, não foi muito não. É um terreno perigoso, sem dúvidas, para apontar com
certeza as dimensões dessas influências, e como sabemos alguns autores fazem
questão de ver isso tudo com uma clareza que uma maioria não vê.
OS MISTÉRIOS GREGOS E A MAÇONARIA: O DICIONÁRIO DE
JOAQUIM GERVÁSIO DE FIGUEIREDO
Do
clássico “Dicionário de Maçonaria” do Irmão Joaquim Gervásio de
Figueiredo, extraímos a primeira parte, digamos assim, da sua definição, e que
vem ajudar em nossos propósitos:
“MISTÉRIOS.
Termo genericamente aplicado a antigas religiões e escolas ocultas pré-cristãs,
dos egípcios, persas, gregos, judeus, romanos, celtas e escandinavos. Homens e
mulheres de qualquer posição e cultura podiam solicitar sua iniciação nos
diversos mistérios, que se dividiam em Menores (exotéricos) e Maiores
(esotéricos).”
Retornamos
ao Dicionário de Aslan, para utilizarmo-nos de uma
descrição utilizada por ele, creditada a Albert Pike, que diz assim:
“Onde
começaram os Mistérios? Ninguém o sabe. Supõe-se que vieram da Índia, passaram
para a Caldeia, o Egito, de onde foram transportados para a Grécia. Qualquer
que seja o lugar das suas origens foram praticados em todas as nações da
antiguidade, e, como era o comum, os habitantes da Trácia, os cretenses, os
atenienses disputaram a honra de tê-los inventado e cada um desses povos
pretendeu nada ter tirado do outro. (p.159)”
Já
no tocante, especificamente, aos Mistérios Gregos, também extraímos algumas
passagens do “Dicionário de Maçonaria”, do Irmão Joaquim Gervásio de
Figueiredo, com ênfase para aquelas onde o autor estabelece as presumidas
ligações com a Maçonaria:
“MISTÉRIOS
GREGOS. 1 – Origens – Atribui-se sua origem a Orfeu, que se calcula haver
vivido uns sete mil anos antes de Cristo. Os mais importantes e conhecidos
foram os Eleusinos, cuja influência e excelência foram sempre proclamadas não
só por seus iniciados como pelos maiores homens da era clássica, como Píndaro,
Sófocles, Isócrates, Plutarco, Heródoto, Platão, Cícero e muitos outros.
Todavia, muito escasso é o conhecimento do mundo moderno sobre seus sistemas,
métodos e doutrinas, pois sempre foram mantidos sob rigoroso e juramentado sigilo,
a ponto de a opinião pública, que os respeitava e reverenciava, infligir
terríveis penalidades a quem os violasse. Reduzidas são, pois, as informações
obtidas diretamente das fontes chamadas pagãs; a sua maioria nos chegou através
de antigos escritores cristãos, como Hipólito, Clemente de Alexandria,
Orígenes, Arnóbio e outros.(…) Além do mais, tudo quanto a seu respeito
(Mistérios Eleusinos, grifo meu) que se conhece hoje, restringe-se à cerimônias
e provas externas então aplicadas aos candidatos, e às instruções administradas
ao público através de vários mitos, parábolas e alegorias. E quando os profanos
de então insistiam por informações que os oficiais não desejavam adiantar, só
lhes prestavam as estritamente permitidas e necessárias.
2 –
Mistérios Menores. Estes eram celebrados no Templo de Deméter e Coré ou Kore
(Virgem), em Agra, perto de Atenas, no mês de março, pelo equinócio da
primavera. Os ensinamentos que ali se davam, giravam em torno da vida póstuma
no mundo intermediário ou astral, o Hades, e neste sentido se pode equiparar
estes mistérios ao 1º Grau maçônico, enquanto difiram as respectivas
cerimônias. (…)
3 –
Mistérios Maiores – Celebravam-se estes no mês de setembro (Boedromion), pelo
equinócio do outono, tendo por centro a cidade de Elêusis, distante de Atenas
cerca de 20 quilômetros. Nessa época toda a Grécia entrava em férias, e
realizavam-se pomposas procissões públicas, com a participação dos iniciados de
todas as classes sociais. Estas procissões foram detalhadamente descritas por
escritores seus contemporâneos, mas afora estas descrições exotéricas, nada se
sabe dos Mistérios Maiores no mundo externo, a não ser através de poucas e
obscuras insinuações. Tais procissões duravam toda uma semana, partindo de
Elêusis dia 13 de setembro até o Eleusinion no sopé da Acrópole, cidadela
cercada de altos muros, como a matriz de Elêusis, e aonde só os iniciados
podiam entrar. No dia 19, completadas todas as cerimônias, a procissão
retornava a Elêusis, sempre com grande imponência. Os Mistérios Maiores, cujas
instruções sobre a vida depois da morte abrangiam o mundo-céu, os Campos
Elíseos, correspondiam, de certo modo, ao atual 2º Grau maçônico.
(…)
A Maçonaria não herdou diretamente a sucessão eleusina, porém algo de sua
inspiração e influência foi transmitido às escolas místicas da Idade Média.
Todavia, seus ritos visam a mesma finalidade, relacionam-se com os mesmos
mundos invisíveis e prepararam Almas para a mesma augusta realidade oculta por
trás de todos os verdadeiros sistemas de Mistérios. ”
AS INFLUÊNCIAS DOS MISTÉRIOS NA MAÇONARIA NA VISÃO
DO ESTUDIOSO HERVÉ MASSON
Corroborando,
a importância desses Mistérios como um todo, vejamos um trecho do “Manual-diccionário de Esoterismo” de Hervé Masson:
“Las
‘religiones de misterios’ de la antiguedad se han extinguido. Privadas de su
soporte esotérico, perdieron su carácter de necesidad iniciática. Pero el
mensaje que habián recibido y que constituía su contenido primordial, ha pasado
a otras manos. Hoy como hace miles de años, la via inicática discurre por
los mismos sítios, con variantes, claro está, pero inspirada por el mismo
espíritu y persiguiendo un propósito idêntico. Mitos parecidos (como la leyenda
de Hiram en la Masonería), ritos análogos y un proceso palingenésico semejante
caracterizan a la iniciación de hoy y a la del pasado. No ha existido una
verdadera fractura entre una y outra. En primerísimo lugar, el esoterismo de
las ‘religiones de misterios’ se prolongó en las asociaciones de oficio, tanto
en Grecia como en Roma. Se sacralizaba el trabajo por la afiliación a este o
aquél rito, por la práctica de una iniciación. En estrecho paralelismo com la
obra divina de la creación, la labor humana se elevaba al plano demiúrgico. Se
convertia, también ella, en una ‘creación’. Hemos visto que ciertas
confraternidades y corporaciones estaban afiliadas a los ‘misterios’ de
Dionysos. Los metalúrgicos fueron particularmente dionisíacos.Acasolos ocultos
ritos de las Cabirias legendarias, ancestros de la alquimia guardaban relación
con el culto de Dionysos, o del Zagreo órfico? Más tarde, en Roma, las
corporaciones de talladores de piedra y obreros de la construcción, invocaban
el patronazgo de Jano bifronte. La afiliación a los ‘collegia’ presentaba un
carácter eminentemente iniciático, que será transmitido hasta nuestros días
mediante el Compagnonnage y la Masonería. (Grifo meu) Es evidente que las
formas esotéricas, el soporte religioso, e incluso cultural, han cambiado
profundamente. Pero el mismo esoterismo, los mismos temas iniciáticos, han resistido
a la prueba del tiempo con una simple y transparente transposición.
Intangibles, reaparecen en pleno siglo XX en el seno de las sociedades
iniciáticas modernas especulativas y operativas. La leyenda de Hiram que
resumimos en su capítulo, es un ejemplo de esta vocación iniciática del mito
palingenésico.”
OS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS. EXISTE UMA
HERANÇA NA MAÇONARIA? A OPINIÃO DO IRMÃO E ESTUDIOSO THEOBALDO VAROLI
FILHO
Em
primeira instância, tendo tomado conhecimento do que eram propriamente os
Mistérios de Elêusis, já é possível a partir desta leitura, perceber as
analogias decorrentes que poderão ser feitas com relação à Iniciação Maçônica.
Para isso, transcrevo o trecho referente a estes mistérios em particular,
constante no verbete MISTÉRIOS GREGOS do “Vade-Mécum Maçônico”
da autoria do irmão João Ivo Girardi:
“Nos
Mistérios de Elêusis encontramos: o culto agrário da deusa Deméter, que ensina
o cultivo do trigo, e o culto de sua filha Perséfone, ou Core (Prosérpina, para
os romanos). Deméter, deusa das colheitas amava, de maneira intensa, sua filha
Perséfone, que foi raptada certo dia, enquanto colhia flores no campo, por
Hades, (Plutão para os romanos), deus dos infernos. Após procurá-la pelo mundo
interior, Deméter se encontra com Apolo (o Sol), que a informa de tudo.
Deméter, tomada de cólera contra a Terra, não permite que nela, cresçam os
grãos e os frutos. Diante de tal situação, Zeus resolve interferir junto a
Hades, afim de que devolva Perséfone. Estabelece, entretanto, uma condição: a
de que poderia voltar ao Olimpo, caso não houvesse ingerido nenhum alimento.
Como ela havia ingerido os grãos de uma romã, não pode voltar, sendo-lhe
permitido, somente, que passasse seis meses do ano com sua mãe e os outros seis
meses no inferno. A lenda nos mostra, assim, Perséfone simbolizando as
sementes, que, sob a terra, permanecem durante a metade do ano, frutificando
depois sobre a mesma. Representa, esotericamente, a eternidade e a
imortalidade, segredos que os Mistérios de Elêusis transmitiam aos iniciados e que,
sem dúvida vieram a influenciar o 3º Grau maçônico, quando apresenta a lenda da
morte e da ressurreição de Hiram-Abif. Os Mistérios de Elêusis dividiam-se em
dois Graus: os Mistos – onde eram dados ensinamentos relativos à vida depois da
morte, no mundo astral, como que intermediário entre o material e o espiritual.
Os Epoptas – representava um Grau mais elevado – recebiam instruções mais
profundas sobre a origem do homem e do Universo, e mais sobre o domínio da
mente. O símbolo do Grau era uma espiga de trigo. Nos Mistérios de Elêusis
encontramos algumas analogias com a Iniciação Maçônica. Nesta, as provas, que
representam a morte física do Iniciado e o seu renascimento num plano superior,
são iguais aos ensinamentos ministrados aos Iniciados no culto de Deméter sobre
os mistérios da morte e da ressurreição. No 1º Grau – Mistos – deparamos com
uma grande relação com o 1º Grau Maçônico – Aprendiz. Em ambos, por exemplo, o
Iniciado se dedica ao estudo da evolução racional da espécie humana e da
formação do universo, de acordo com as Doutrinas Iniciáticas. No 2º Grau –
Epoptas – dos Mistérios de Elêusis , bem como o 2º Grau Maçônico – Companheiro
– o símbolo é o mesmo: a renovação constante da vida, através da imortalidade
da alma, tão difundidos na Doutrina Mística da Maçonaria.”
À
página 164, do seu “Curso de Maçonaria Simbólica”,
escreveu o Irmão Theobaldo Varoli Filho:
“Certos
escritores ditos ‘ocultistas’ encarecem os mistérios de Elêusis, como outros, e
fazem conjecturas, as quais, apresentadas com uma certa magnificência
literária, parecem exprimir a verdade. Nas bibliotecas maçônicas sobejam livros
dessa espécie. Muitos deles chegam a afirmar que os próprios maçons não
entendem a Maçonaria. Acautelem-se os Aprendizes contra essa literatura que a
Maçonaria repele. A Sublime Instituição abomina o obscurantismo e a
superstição. Quanto a pretender que a Maçonaria derive também dos ‘Mistérios de
Elêusis’, constitui um atestado de crassa ignorância ou um propósito de
mistificação. O culto a Elêusis foi duradouro, mas instável, como todos os
anteriores ao do Grande Arquiteto do Universo.”
O Irmão Theobaldo Varoli Filho tece
suas considerações, sem se deixar levar por simples influências. Uma pergunta
que ele formula sobre os Mistérios de Elêusis e que ele mesmo responde, é digna
de figurar aqui pelo seu teor. Vejamos:
“Os
cultos de Elêusis estariam para Ceres ou Deméter assim como o culto
da atual Maçonaria mística estaria para o Grande Arquiteto do Universo?
Assim
entendem muitos maçons místicos. Essa comparação, entretanto, não passa de
exagero. Ceres era uma divindade especialíssima, conforme veremos, e o
G.’.A.’.D.’.U.’. é a denominação dada pelo maçons a Deus, Criador Supremo,
conhecido e venerado por vários nomes em diversas religiões. A diferença é tão
grande que não se pode estabelecer comparação. Além disso, a iniciática
maçônica consiste em integrar o iniciado na ética universal e não em preparar o
maçom para alcançar o céu. Este mister a maçonaria deixa aos cuidados dos
próprios crentes das diversas religiões, todas elas respeitadas pela Sublime
Instituição.”
Para fechar este bloco, voltamos a
recorrer ao Irmão João Anatalino Rodrigues, com suas sábias considerações sobre
o assunto:
“A
Influência na Maçonaria – Eis por que tanto os Antigos Mistérios
egípcios quanto os Mistérios de Elêusis são constantemente invocados nos rito
maçônicos, pois ambos evocam a necessidade de uma morte ritual e uma
regeneração do recipiendário, como condição essencial a sua passagem de um
estado de consciência profana para uma consciência superior de iniciado. A
cerimônia de iniciação na Maçonaria tem sido comparada à recepção do neófito
nos Pequenos Mistérios e a cerimônia de elevação ao Grau de Mestre na Maçonaria
Simbólica é, para muitos autores maçônicos, numa corruptela da iniciação nos
Grandes Mistérios. Há inclusive autores que acreditam que a lenda de Hiram
tenha sido diretamente adaptada dessa fonte, pois que o arquiteto do Templo de
Salomão, assassinado por três companheiros traidores, cumpre idêntico papel ao
de Osíris nos Mistérios Egípcios e de Perséfone nos Mistérios Eleusinos. Essas
comparações e analogias são, a nosso ver, um tanto licenciosas. Todavia a
instituição que existia por trás dessas práticas iniciáticas se assemelha
bastante ao que hoje praticamos na Maçonaria Moderna.”
Autor: José Ronaldo Viega Alves
Membro da ARLS Saldanha Marinho,
“A Fraterna”
Inspetor Geral da Ordem, 33º
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