Bela,
Recatada e do seio de uma Loja Justa e Perfeita .
A
mulher e a Maçonaria: parte 1
Por Bárbara Rocha
Após
uma breve reflexão sobre uma pergunta de reconhecimento entre maçons, que se
refere “De onde vindes?”, me vejo novamente buscando nos fatos e atos passados
compreensão para questões do presente.
Há
algum tempo ouvi, que a Maçonaria é a escola mais perfeita e completa que
existe e já existiu. Ela traz em seu âmago a essência de todo o conhecimento
divino das grandes escolas de mistérios. Seus ritos trazem o desvendar de mitos
sobre a natureza humana e a natureza espiritual, ela nos instiga a acender a
centelha divina adormecida dentro de cada um de nós.
Quando
falamos em maçonaria tradicional não nos referimos apenas a tradição de
preservar determinadas regras e costumes, pois vai mais além, nos remetemos a
passar á diante o fogo de Prometeu e não permitir que ele nunca se apague.
Falar
sobre as origens da maçonaria é algo um tanto que complexo, uma vez que este tem
sido o tema de muitos estudiosos e pesquisadores. O que não podemos acreditar é
na triste ilusão que ela tenha sido
criada em 1717 com a fundação da Grande Loja de Londres, pois sabemos que ela
já era praticada há alguns séculos anteriores nos países do Reino Unido (
Escócia, Grã-Bretanha, etc) assim como na Itália e Alemanha.
Mas
vamos voltar ao objetivo desse estudo: o nascimento da Maçonaria Feminina!
Alguns
escritores fazem alusão ao nascimento das lojas femininas com o surgimento do
movimento feminista, o que não é. De alguma forma esse argumento pode ter dado
bases mais firmes para o estabelecimento das lojas no século XIX. Porém, ao
voltarmos nossa pesquisa para documentos mais antigos da maçonaria operativa,
vamos notar que as mulheres já trabalhavam como “obreiras” segundo um dos
documentos mais antigos e respeitados intitulado como Poema Régio ou Manuscrito
de Halliwell de 1390[1] que em alguns pontos de
seus artigos deixa claro o trabalho entre “irmãos e irmãs”, citando os deveres
e a forma de trabalhar entre os maçons.
Os ensinamentos ocultos da
maçonaria também se embasam nos ensinamentos
primitivos da “árvore da vida” (judaísmo e cristianismo primitivo). No
templo encontramos na sua figuração simbólica duas colunas: J e B, uma referindo-se
ao aspecto lunar, coluna negra, e a outra ao aspecto solar, coluna branca, nos
mostrando que as forças do universo são compostas pelo movimento feminino e
masculino, positivo e negativo, dia e noite.
Segundo
os ensinamentos herméticos, as colunas simbólicas estão também relacionadas à
lei de Gênero como vemos a seguir
“O
Gênero está em tudo; tudo tem o seu principio masculino e o seu principio
feminino; o gênero se manifesta em todos os planos”.
Este
principio encerra a verdade que o gênero é manifestado em tudo; que o princípio
masculino e o princípio feminino sempre estão em ação. Isto é certo não só no
plano físico, mas também nos Planos Mental e espiritual. (O Caibalion)
Apesar
das pesquisas sobre maçonaria feminina ser algo mais recente, ela sempre esteve
presente na história de forma oculta ou revelada. A dita “proibição” das
mulheres na maçonaria é algo recente. Corroborando as palavras de Mellor (1976,
p. 99 e 100) nos diz que
Nenhuma
exclusão das mulheres estava escrita nos Old Charges [2]. A regra mencionada,
consequentemente, não procedia absolutamente de “tempos imemoriais”, mas sim,
do primeiro quarto século XVIII,. Ela aparece nas Constituições de Anderson de
1723, pela primeira vez na história. Longe de ser um Landmark, ela é uma
inovação.
É importante salientar que essas
“inovações’” vão contra os próprios princípios da Maçonaria como podemos
perceber em um estudo minucioso dos manuscritos que a compõe.
A
mesma Landmark que proíbe mulheres, proíbe também escravos e aleijados (Mackey,
1807-1881). A maçonaria é uma Ordem evolutiva e progressista, não existem mais
escravos á não ser aqueles que servem apenas a sua própria ignorância e
paixões. Segundo o primeiro artigo da Constituição de Anderson (antes das
aproximadamente 15 alterações) a exclusão das mulheres não lhes tirava o
direito de serem maçons, mas de prevenir outros tipos “paixões” como veremos
Deveres
prescritos aos maçons livres
Aqueles
que são admitidos como membros de uma loja devem estar imbuídos de uma grande
fidelidade, devem ser livres e de idade adulta. Um escravo, ou um homem de
costumes escandalosos e reprováveis não podem ser admitidos à Fraternidade: as
mulheres também são excluídas, mas apenas por causa dos efeitos que seu mérito
produz muito frequentemente sobre os melhores irmãos.
Poderíamos nos aprofundar em
muitas reflexões de moralidade sobre esta questão. Muitos dos homens que estiveram
no comando da maçonaria, principalmente entre o século XVIII e XIX, mantinham
dentro dela interesses políticos e religiosos, a mulher nesse período
encontrava-se de alguma forma a mercê de seus direitos por conta de dogmas
puramente religiosos de submissão.
Voltemos aos tempos remotos das
primeiras escolas de mistérios[3] onde homens e mulheres passavam
por longos processos de purificação e recebiam ensinamentos sobre vida, morte e
o Universo. Segundo a definição da Wikipedia, embasada em textos de Blavatsky,diz que
Os Mistérios eram, em todos
os países nos quais eram praticados, uma série de representações dramáticas,
onde a cosmogonia e a natureza oculta eram personificadas por sacerdotes e neófitos, desempenhando o papel de diferentes
deuses e deusas, repetindo alegorias (cenas) de passagens de suas vidas. As
encenações eram posteriormente explicadas aos candidatos em seu sentido oculto
e incorporadas às doutrinas filosóficas e a vida cotidiana.
A mulher cabia o papel de iniciadora.
Era ela que mantinha o fogo sagrado dos mistérios de Eleusis aceso, e por
iniciar os homens nos sacerdócio. As antigas religiões também celebravam os
ritos da natureza e de fertilidade como forma de representar o processo
iniciático da deusa e do deus (que pode variar o nome de acordo com as culturas
dos antigos povos).
As estatuetas de Vênus datada da
pré-história eram também uma forma de representar o poder da mulher entre os
povos. Ela era representada com seios grandes e abundantes, quadris largos ,
representando a geração e a fertilidade. A Grande mãe que gera, “pari” e
alimenta seus filhos.
As atribuições do homem e da mulher
eram bem definidas nas sociedades primitivas. A mulher como matriarca cuidava
dos assuntos referente a agricultura e organização das aldeias. Ao homem eram atribuídas
atividades de caça e pesca, levando o sustento para as aldeias, ou tribos.
Alguns escritos da Antiguidade Grega e
Romana, a mulher não podia participar de discussões políticas, salve algumas
cortesãs e algumas filósofas notáveis como
Hipácia (Hipátia), [4] e Maria a Judia [5].
A figura da “mulher submissa” como
conhecemos hoje em dia nasceu na Idade Média. Com a propagação de uma nova e
única religião criada através de um acordo político com Concilio de Niceia em
325 d.c, tudo o que iria contra a nova doutrina e que abalasse a nova “fé”,
passaria por um processo inquisitório criado pela própria Igreja. Dessa forma
começam a dissipar a sabedoria das antigas religiões conhecidas como pagãs,
derivado do termo “pagus”, referente às aldeias afastadas da cidade.
A figura feminina era representada sob
três aspectos: Maria, o ideal de pureza , representado pelas mulheres que
abandonavam suas vidas para viver em conventos; Maria Madalena, representava o
ideal de arrependimento, ou seja, aquelas mulheres que para se redimir dos seus
“pecados”, entregavam seus bens a Igreja e começariam a viver uma vida sob a
conduta religiosa. E por fim a representação de Eva, que representava o mal
personificado, a porta de acesso do pecado, eram normalmente as mulheres
julgadas por bruxaria, que não tinham mais salvação. Os julgamentos eram feitos
de acordo com o Malleus Malleficarum [6] .
Compreendendo um pouco mais sobre a
questão do papel da mulher ao longo dessa breve passagem histórica, podemos
concluir que a mulher não está lutando pelo seu papel dentro das Ordens
Iniciáticas, mas sim, reconquistando o seu lugar, reconhecendo novamente seu
poder e sua essência que por algum tempo foi suprimida por uma cultura de subterfúgio
patriarcal.
Sabe-se que muitos documentos não
apenas da história da maçonaria feminina, como da maçonaria em si se perderam,
foram queimados, escondidos e até mesmo alterados. Nem todos os documentos
existentes ainda foram traduzidos e divulgados, por isso existem grandes
dificuldades em fundamentar trabalhos científicos referente ao assunto.
Dentro dos registros históricos,
podemos citar como primeiras maçons, Margareth Wild (1663) ainda na fase
operativa da Maçonaria. Em 1696, encontram-se relatos de duas viúvas iniciadas.
Um dos nomes mais notórios é o de Mary Banister (1713-1714), uma filha de um
barbeiro que trabalhou como aprendiz por sete anos, recebendo posteriormente seu
aumento de salário. Existe um documento intitulado Ms York, de 1693, escrito em
inglês arcaico que diz “ Um dos antigos pegara o Livro (da lei) e aquele e
aquela que vai ser recebido como maçom pousará suas mãos sobre ele, e o
preceito estará dado” São poucos os registros de nomes femininos referentes a
este período, mas muitas são as referências sobre as iniciações maçônicas de
homens e mulheres, sem distinção de gênero, reconhecendo-os como iguais perante
as três grandes Luzes da Maçonaria.
Lembrando
que segundo o artigo 1° da Constituição do Grande Oriente da França: (Mellor,
p. 145)
Art.1.
A Franco Maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e
progressista, tem por objetivo a busca da verdade, o estudo da moral e a
prática da solidariedade. Ela trabalha pela melhora material e moral, pelo
aperfeiçoamento intelectual e social da humanidade
Não podendo negar a existência dessa
história, surgem em meados de 1725, as chamadas Lojas de Adoção, para a
participação de mulheres, sendo os ritos realizados por homens. Uma das
primeiras Lojas de adoção, foi a Loja “Nove Musas”. A ideia se espalhou rápido
por toda a França, Itália e Alemanha. As lojas de adoção abriram espaço para
que as mulheres pudessem iniciar-se também nos altos graus da maçonaria. Uma
das primeiras iniciadas neles, foram J.B Wllermoz, de Lyon, Mille Mochete e
também a esposa de Cagliostro, que juntos fundaram os ritos da Maçonaria egípcia.
Com
o tempo as lojas de adoção foram enfraquecendo com conflitos políticos que
surgiram durante a época de trabalho destas Lojas. Em 1865, o venerável mestre
da Loja “Marte e as Artes”, Léon Richer começa sua campanha pela iniciação de
mulheres e criação de lojas femininas.
Em
1880, iniciou uma nova revolução dentro da maçonaria, a Loja “Os livres
Pensadores” decide iniciar a primeira mulher dentro do rito tradicional REAA.
Foi Maria Deraimes uma literata e mulher livre e de bons costumes, com laços
estreitos de amizade com Léon Richer convidada a iniciar. Sua iniciação
aconteceu no dia 14 de janeiro de 1882, na loja Os Livres Pensadores sob o
malhete do ir. Houbron. Suas palavras após o rito de iniciação foram “ Meus
Irr.´., a porta que me abristes não se fechará após mim, e toda uma legião
seguir-me-á.”
Muitos
questionamentos surgirão desde sua iniciação, nenhuma mulher foi iniciada após.
Maria Dereimes usou os seus livros, formas para propagar e explanar suas ideias
e indignações. Após 10 anos, junta-se a Gaston Martin, fundador do Direito
Humano “Le Droit Humain” [7] (uma obediência maçônica)
criaram a primeira Loja feminina (que se tem registros históricos)
Em
1935 na Assembleia Geral do Grande Oriente da França, foi formalizado a
emancipação das lojas femininas, ou seja, no ato foi realizado uma transição de
“lojas de adoção” para “lojas excepcionalmente femininas”, dando a plena
autonomia do trabalho nas oficinas maçônicas. Podemos acompanhar um trecho da
ata de 1935, transcrito por Mellor.
(1976, p.128 e 129)
A
Assembleia Geral da Grande Loja da França, ao afirmar, mais uma vez, seu desejo
em trabalhar em favor da emancipação da mulher;
Decide
conceber ás suas Lojas de Adoção a mais completa autonomia, auxiliando-as na
criação de uma maçonaria exclusivamente feminina, que tenha por finalidade a
reabilitação moral, intelectual e social
da mulher, por tanto tempo mantida sob tutela de acordo com os costumes e
legislações; [...]
A
Assembléia Geral será presidida por um Conselheiro federal, o Grão-Mestre da
Grande Loja da França, ao término da Assembléia, será portador da adesão da
obediência á criação da Franco-Maçonaria feminina independente .[...]
Confia
em que as Irmãs pertencentes ás Lojas de adoção, por unanimidade, tenham o
nobre orgulho de colocar lado a lado a Maçonaria feminina e a Maçonaria
masculina em um plano de igualdade; que elas possam tornar belas e viáveis as
Lojas femininas, cientes de que seu zelo e seu entusiasmo aumentam na proporção
da grandeza de seu trabalho, e cientes também de que é através desse trabalho
que elas são iniciadas, segundo a formula de seu Ritual: “ o adepto é aquele
que vence pela vontade e pelas obras.”
E
então minhas irmãs, de onde vindes? É necessário conhecer a nossa história, não
para lutar por ideais profanos de igualdade, mas para despertar nossa
consciência e nossa essência e nosso papel dentro desse universo tão justo e
perfeito que é a Maçonaria. Que possamos sempre caminhar em direção a
Sabedoria, sustentar nosso Templo com Força e adorna-lo com Beleza.
Lembremo-nos
de nossas raízes, para poder espalhar nossas sementes.
Nossa
história está apenas começando....
Referência Bibliográfica
MELLOR, Alec. Os grandes problemas da atual
Franco-Maçonaria- Os novos rumos da franco-maçonaria. São Paulo. Ed.
Pensamento, 1976.
[1] O texto original foi grafado em inglês arcaico, com letras góticas,
sobre pele de carneiro. É composto por 64 páginas, contendo 794 versos. A data
de sua produção, segundo especialistas, estima-se como sendo situada na década
de 1390, apesar de que, supõem-se que tenha sido copiado de um documento mais
antigo. O autor é desconhecido e o local de origem, segundo o historiador maçônico Wilhem Begemann, é a cidade inglesa de Worcester
(fundada em 407 DC). (fonte : http://www.ocultura.org.br)
[2] As Old
Charges ou Antigos Deveres ou, ainda, Antigas
Obrigações são, na verdade pergaminhos ou documentos escritos usados, a título
de Constituição, pelos Maçons Operativos das Lojas de Talhadores de Pedra.
Atualmente o
número desses manuscritos, conhecidos e reconhecidos como autênticos, já se
aproxima dos cento e quarenta, dentre os quais, destacam-se: Carta de Bolonha
(1210),O Poema
Regius, de 1390, também chamado de "Manuscrito
de Halliwell" (pode ter sido uma cópia de meados de 1.150)
; O Manuscrito de Cooke, de 1410; Os Estatutos de Schaw, de 1598; O Manuscrito
de Inigo Jones, de 1607; O Manuscrito de Kilwinning, de 1665; O Manuscrito de
Aitchison-Haven, de 1666; O Manuscrito de Melrose, de 1674.
As Old Charges,
por sua importância histórica, serviram para estabelecer na Inglaterra a
existência de uma Maçonaria organizada antes da fundação da Grande Loja de
Londres, embora com finalidades diferentes das que são hoje conhecidas, tendo,
por isto mesmo, influído de modo marcante para a organização da Maçonaria
Especulativa.
[3] As
escolas de mistérios tem sua origem nas
antigas culturas da Pérsia, Grécia, Egito, Babilônia, Suméria, ECT.
[4] Cultivou superiormente as
matemáticas e a filosofia. Manteve viva a chama do pensamento helênico de raiz
ateniense numa Alexandria dilacerada pelas lutas religiosas. Foi brutalmente
assassinada por uma multidão de religiosos fanáticos. Deste período podemos citar também,
Safo de Lesbos (VII-VI a.c); Theano (546 a.c) Aspásia de Mileto (470-410 a.c)
[5] Viveu em Alexandria,
seguidora do culto de Isis é considerada como a fundadora da alquimia. Entre os escritos está o livro de Magia Prática. Atribui-se a ela
a descoberta do ácido clorídrico e é em homenagem às suas descobertas com o ponto de ebulição
da água o nome de banho-maria.
[6] Livro criado através de uma bula
papal, em aproximadamente 1486, na
Alemanha. O livro é dividido em três partes; na
primeira, relata as propriedades do demônio e sua ligação com a bruxaria; a
segunda trata de como lidar com os malefícios durante o dia-a-dia; finalmente,
a terceira parte faz a descrição de como proceder aos julgamentos e como
cumprir as sentenças.
[7]
O Direito
Humano (ou Le Droit Humain) é uma Obediência Maçônica (1) que se constituiu
pelo esforço conjunto de Maria Deraismes e Georges Martin (2) bem como outros
Homens e Mulheres iniciados, os quais conscientes da necessidade de estabelecer
uma Igualdade real entre o Homem e a Mulher, fundaram esta Ordem com o intuito
de trabalhar para o desenvolvimento de correctos valores e princípios em Templo
Maçônico e que se projetassem na Vida, tal vanguardismo pode ser medido ainda
hoje pela postura existente na sociedade mundial, em que o homem e a mulher não
têm, de facto, os mesmos direitos e deveres, nem mesmo na maioria dos países em
que tal está consignado nas suas Leis. (fonte: http://www.maconaria.net/)
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