sexta-feira, agosto 31, 2012



 
 
 
 
Iniciados pelo tempo
Antigamente, nós éramos fortes. Estávamos repletos de ensinamentos transcendentais e praticávamos as artes espirituais.

Vivíamos de acordo com os preceitos iniciáticos e não nos interessava o caminho das multidões desprovidas dos atributos da Iluminação.

Eles estavam perdidos no emaranhado de suas emoções e suas vidas eram limitadas.

Mas, nós éramos privilegiados e o grande arcano nos abraçava e revelava a luz além das ilusões.

Éramos iniciados e nossa ventura estava no estudo das artes espirituais.

Porém, havia em nós um grande problema a ser solucionado e do qual não nos dávamos conta, muito embora os mestres já houvessem nos advertido por várias vezes a esse respeito.

A questão era: quanto maior o acesso às verdades da alma, maior a responsabilidade. Quanto mais profundo o grau iniciático, maior o respeito por quem sabe menos e mais ainda por aqueles que rondam a vida perdidos na noite da ignorância.

Por várias vezes, nós fomos advertidos e esclarecidos quanto a isso, mas não adiantou.

Nossa sede de conhecimento era maior do que o nosso coração.

Nossas mentes ansiavam por mais ensinamentos e práticas, pois o mistério nos fascinava e precisávamos passar pelos portais iniciáticos de acesso aos níveis superiores.

Não percebíamos que o intelecto e a vontade sem o alicerce do amor para sustentá-los não resistiriam às sabotagens internas de nossos egos.

Como não corrigíamos esse problema, os mestres deixaram a dura tarefa desse ensinamento para o "Mestre Tempo" acertar.

Eles sabiam que seus discípulos arrogantes reencarnariam muitas vezes e que as verdadeiras iniciações seriam realizadas no campo da própria vida, templo de todos, e que as experiências mais importantes seriam em meio às pessoas comuns.

Como sempre, eles estavam certos.

O tempo cobrou seu preço e a roda de samsara* capturou-nos em seu giro probatório.

Mergulhamos na ciranda reencarnatória e fomos aprendendo na marra as lições da modéstia e do respeito aos outros.

Caminhamos no meio da multidão e sentimos seus dramas.

Percebemos a dor do vazio espiritual e choramos de saudade da época em que vivíamos sob aquela atmosfera espiritual de outrora.

Nós, os iniciados de outrora, estávamos vivendo no meio da multidão de profanos e aprendendo com eles a arte da humildade.

Para a vida, nós não éramos iniciados, éramos apenas um grupo de pessoas que teve acesso aos conhecimentos espirituais e apenas aumentou o ego do conhecimento e não o amor que liberta e leva à plena sabedoria, muito além dos graus iniciáticos.

No meio do povo aprendemos, vida após vida, que sem amor ninguém segue...

Que as maiores iniciações ocorrem mesmo é no "Templo do Coração".

Que os ensinamentos espirituais precisam ser aplicados na prática do viver diário e que o campo de provas é a própria existência.

Que os grandes iniciados não almejam o desenvolvimento dos poderes parapsíquicos, mas apenas servir ao Grande Plano de Progresso das Muitas Humanidades.

Que os mestres nos acompanham invisivelmente e nos inspiram pensamentos e sentimentos benéficos.

Que todo homem é nosso irmão e parceiro de evolução.

Que todos merecem nosso respeito porque carregam o divino dentro do coração, mesmo que não saibam disso.

O tempo nos ensinou bem o valor das lágrimas vertidas no cadinho da experiência regeneradora.

Hoje somos fortes realmente, por amor!

O véu de maya** foi erguido e nós vimos o PAI-MÃE de todos brilhando em cada ser.

Percebemos o TODO em tudo!

O Amor é maior do que os nossos graus iniciáticos.

O TODO é o hierofante*** de todos os seres. Somos seus eternos neófitos.

E a multidão que caminha na noite da ignorância é nossa irmã e precisa apenas do nosso serviço de esclarecimento espiritual, não de nossa arrogância e desprezo.

Estamos no campo de provas da Terra, mas pela ação do Tempo**** e do Amor somados à paciência de nossos mestres invisíveis.

Não ambicionamos mais nenhum grau iniciático, apenas queremos aumentar o grau de compaixão e servir aos ditames da Luz.

Apenas corrigindo o início desse texto, não éramos fortes realmente, éramos só ambiciosos.

Hoje somos fortes de verdade, por Amor!

E todos os homens, profanos ou iniciados, são nossos irmãos de caminhada.

E o TODO está em Tudo. 

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