Posted: 31 Oct 2016 05:00 AM PDT
Em
inglês, "Land" significa "terra" e "mark" traduz-se por "marca",
"alvo". "Landmark" é, assim, a marca, o sinal, na terra, e, mais
especificamente, os sinais colocados nos terrenos para assinalar a sua
delimitação em relação aos terrenos vizinhos. Em suma, "landmark" é, em
português, o marco, no sentido de marco delimitador de terreno.
Fazendo
a transposição para a Ordem Maçónica, Landmarks são,
correspondentemente, os princípios delimitadores da Maçonaria, isto é,
os princípios que têm em absoluto de ser intransigentemente seguidos
para que se possa considerar estar-se perante Maçonaria Regular.
Ou
seja, os Landmarks são o conjunto de princípios definidores do que é
Maçonaria. Só se pode verdadeiramente considerar maçom quem, tendo sido
regularmente iniciado, seja reconhecido como tal pelos outros maçons e
observe os princípios definidores da Maçonaria constantes dos Landmarks.
Porque definidores do que é Maçonaria Regular, os Landmarks fixados são imutáveis.
Porém,
existe um problema: não existe uma lista “oficial” de Landmarks comum a
todo o mundo maçónico! São conhecidas várias listas de Landmarks,
elaboradas por maçons estudiosos e ilustres, mas… por muito estudiosos e
ilustres que foram, nenhum tinha mandato específico para fazer essa
definição!
Há
listas de Landmarks elaboradas por Albert G. Mackey (25) , George
Oliver (31), J. G. Findel (9), Albert Pike (5), H. G. Grant (54), A. S.
Mac Bride (12), Robert Morris (17), John W. Simons (15), Luke A.
Lockwood (19), Henrique Lecerff (29).
Estas
listas de Landmarks, repito, não vinculam senão os seus autores e
espelham, além dos seus conhecimentos, também os seus preconceitos e os
das suas épocas. É célebre, por exemplo, o Landmark 18 de Mackey que,
além de afirmar a masculinidade da Maçonaria, impõe que nem escravo nem
aleijado possa ser admitido maçom. Perante o evidente preconceito de
Mackey, fruto da época e ambiente em que vivia, modernamente faz-se uma
interpretação “habilidosa” do Landmark e postula-se que o maçom deve ser
“livre de vícios” e não deve ser “aleijado de caráter”. Mas, meus
caros, não foi isso que Mackey quis dizer e disse: Mackey escreveu que
“os candidatos à Iniciação devem ser “isentos de defeitos ou mutilações,
livres de nascimento e maiores”. Manifestamente que se referia a
defeitos e mutilações físicas, não morais. Evidentemente que, para ele,
ser “livre de nascimento” não tinha nada a ver com ser nascido livre de
vícios (pois todos nascemos sem vícios – quem os tem, adquire-os mais
tarde), antes se referia a não ter nascido escravo. Repare-se que nem
sequer os escravos libertos, segundo Mackey, podiam ser maçons…
Percebe-se talvez assim porque é que algumas Grandes Lojas do Sul dos
EUA, ainda eivadas de muito racismo, continuam a defender que Prince
Hall não foi validamente iniciado maçom, pois o homem foi escravo
liberto…
Nos
tempos de hoje, com a evolução de mentalidade que (felizmente) houve no
último século, esta postura preconceituosa não pode ser admitida. Daí a
interpretação “habilidosa” a que me referi. Mas, se os Landmarks são
imutáveis, então tem igualmente de o ser a sua interpretação! Logo, não
há que interpretar habilidosamente o Landmark 18 de Mackey. Há que, pura
e simplesmente afirmar, alto e bom som e de cabeça levantada, que
aquilo não é Landmark nenhum, e ponto final!
Algumas
Grandes Lojas optaram por criar listas de Landmarks próprias. É o caso,
por exemplo, das Grandes Lojas de New Jersey (10), do Tennessee (os 15
de John W. Simons), do Connecticut (os 19 de Luke A. Lockwood), do
Minnesota (26), do Massachussets (8), do Kentucky (os 54 de H. G. Grant)
e a Grande Loja Ocidental de Colômbia (20).
Na
Europa, a Grande Loja Nacional Francesa codificou o que designou de
“Regra em 12 pontos”, pela qual definiu o que se contém dentro do
conceito de Maçonaria Regular – ou seja, definiu os seus Landmarks da
Maçonaria Regular (http://www.glnf.fr/fr/Regle- en-douze-points-franc- maconnerie-238).
Que
tem isso de diferente ou especial, uma vez que, como acima referi,
várias outras Grandes Lojas fizeram o mesmo? A diferença – de que o
tempo se encarregará de nos mostrar a sua real relevância – é que,
enquanto cada uma das Grandes Lojas da América que fixaram Landmarks o
fizeram por si e sem preocupações de alinhamento ou partilha com as
demais, a iniciativa da GLNF tem conduzido a um movimento de expansão da
Regra dos 12 Pontos, de aceitação desta codificação de Landmarks por
outras Obediências.
A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP adotou também a Regra em 12 Pontos (https://www.gllp.pt/index. php/as-doze-regras-da- maconaria-regular). A Grande Loja de Espanha assim o fez também (http://gle.org/la-regla-en- 12-puntos/).
Mas o movimento não é só europeu. Várias Grandes Lojas africanas de
países de expressão francesa também adotaram a Regra em 12 pontos,
designadamente a Grande Loja Nacional Togolesa (http://glnt.tg/e
aí ir a Les principes fondamentaux/ La règle en 12 points). Também a
Grande Loja de Moçambique adotou a Regra em 12 pontos (a GL de
Moçambique não tem ainda sítio na Internet; têm de acreditar na minha
palavra…).
A
Regra em 12 pontos, verdadeiros Landmarks da Maçonaria Regular, vai
sendo progressivamente adotada por Obediências Regulares da Europa e de
África. É tempo de a divulgar junto dos Irmãos da América Latina –
talvez no âmbito da Confederação Maçónica Interamericana.
Rui Bandeira
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