terça-feira, fevereiro 28, 2012


Eros e Thânatos: o casamento como violência simbólica e estratégia de representação feminina na Atenas Clássica 
Sandra Ferreira dos Santos

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 
Orientadora: Profa. Dra. Marta Mega de Andrade 

1. Introdução
Ao realizar pesquisas sobre a Grécia Antiga, sempre me senti intrigada com as semelhanças entre os rituais de casamento e  de funeral e com a confluência das imagens 
destes rituais com as imagens de rapto. Sempre me pareceu estranho que o casamento fosse semelhante à morte ou a um ato de violência e, para compreender esta ligação, 
foi necessário não somente analisar os vasos que contém estas imagens, mas também entender um pouco da mentalidade dos gregos antigos, com grande auxílio da mitologia 
e da filosofia. A presença das estórias de rapto na mitologia grega é constante e a sua exploração pela imagética do século V sugere a presença de um topos recorrente do imaginário.  
O rapto tem sua base em um fenômeno de paixão unilateral, vinculado à violação e ao poder do mais forte, que na sociedade grega corresponde ao homem. Se, como afirma Gras 
(2006, p.71), todos os mitos levam implícito um simbolismo, é necessário questionar se, no caso do rapto, ele carrega uma violência simbólica implícita, uma vez que as estórias de 
deuses e heróis circulavam, formavam consciências, cristalizavam paradigmas e determinavam normas de conduta dirigidas à sociedade. 
A sociedade grega antiga era uma sociedade em que os homens possuíam maiores possibilidades de expressão e  de representação do que as mulheres e, é possível, que justamente 
por este motivo, as mulheres aceitassem algum tipo de submissão para que através do papel social que assumiam após o casamento, pudessem adquirir um espaço de ação dentro 
da sociedade poliade. 
O casamento na Grécia Antiga era uma instituição que pretendia “domar” os instintos selvagens das mulheres e incorporá-las no mundo da cultura, utilizando-se de diversas formas 
de violência simbólica com o intuito de enquadrá-las no modelo considerado ideal para uma esposa grega. Sua incorporação a este papel, no entanto, também lhe conferia formas de 
resistir a este esquema social e à sua suposta inferioridade. 
                                                
1
Mestranda do Programa de Pós‐Graduação em História Comparada da UFRJ (PPGHC‐UFRJ)

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