O Bosque: Uma história para as noites de inverno
Tradução: Renata Gueiros
Ela chegou uma noite com um bando de fantasmas, quando o vento já tinha levado as folhas das árvores e a casa estava trancada contra o escuro, e o fogo estava alto na velha grelha, e havia um banquete sobre a mesa. Os cães dos mortos correram ao redor dos muros e a forma cinza do crânio de um cavalo apareceu no escuro, através das vidraças de chumbo na qual nenhuma cortina se pendurava em oposição à noite. E veio a noite. Uma mão violenta bateu na porta e uma rima foi falada:
Se ao igualar a rima falhar
Deixe-nos para os bolos e a cerveja entrar
O vento assobiou e os cães uivaram, e a noite estava nos corações de todos no aposento. E eles sabiam que deviam responder. Então, Gareth ergueu-se de onde cuidava do fogo, atravessou para a porta, e disse:
Até que os ponteiros do relógio se encontrem
Seus poderes em Annwn permanecem;
Vão-se daqui, atormentar outros corações
Cedo demais chegaram seus cães.
O vento ainda assobiou, mas era agora o único som. Então houve silêncio, seguido de sorrisos e suspiros de alívio na antiga casa da fazenda no alto da colina selvagem do campo, onde as estradas são poucas e as casas mais ainda. Mas o rosto de Gareth ainda estava sério. "Ainda não acabou", disse ele, "eles retornarão à meia noite e se não pudermos igualar rima por rima eles estarão dentro da casa em volta da mesa, e o banquete será deles". "Mas o que...?" disse Eleri, sua voz tremendo entre a fascinação e o medo, "...o que era aquela forma de uma cabeça de cavalo na janela?"
"Silêncio criança" disse sua mãe, sem querer falar de tais coisas naquela noite. Mas Gareth disse, "Se queremos manter esta casa intacta na noite de hoje, todos temos que estar preparados para os poderes que vamos encarar."
Ele sentou na cadeira junto à lareira e ficou em silêncio por um tempo, porém os outros sabiam que ele estava pensando profundamente. Nesse meio tempo, Rhiannon foi ao fogo, ajoelhou-se em frente às chamas, e disse suavemente as bênçãos da lareira e rezou para que todos estivessem bem e a salvo naquela noite. Quando terminou, ela acenou para que os outros se juntassem a ela. Eles sentaram em volta da lareira, e aguardaram. Gareth falou dos poderes da noite e do divertimento dos mortos, apesar de outros dizerem que eles jamais tenham vivido. Mas quem quer que fossem eles vinham com uma matilha de cães e muitas rimas, e apenas uma rima poderia mantê-los fora. Quando eles vinham, também vinha a Mari – a Cinzenta Égua da Noite – e apenas ela pode dizer as rimas com as quais se deve igualar. Então Rhiannon foi até a estante, tirou um livro e começou a ler a história de sua homônima. Havia uma penitência: ela deveria carregar em suas costas qualquer um que chegasse a ela no bloco de descida do cavalo, o qual ficava do lado de fora do portão de sua corte, e que ela precisava carregar até o interior. Rhiannon abaixou o livro e disse: "Por ela cujo nome carrego, e por meu lugar nesta casa, eu irei e farei nossa paz com a noite".
Subiu as escadas e tirou o vestido que estava usando para o banquete, e qualquer outra peça de roupa e ornamento, a não ser pelo colar de coisas acumuladas em mais de treze luas, muitos anos atrás. Ela envolveu o corpo nu em uma capa negra, desceu as escadas e pela segunda vez naquela noite ela se ajoelhou defronte ao fogo e pediu uma bênção de Bride na lareira deles. Então, virou-se para Gareth e eles trocaram algumas palavras antes de se abraçarem. Após isso ela tirou o ferrolho da porta e saiu para adentrar a noite. Logo estava vagando através da bruma cinza, e de lá veio uma forma que era ainda mais cinza. Rhiannon parou e falou para a forma, mas a forma não respondeu. Então Rhiannon se desfez da capa negra, tirou seu colar e o mostrou para a figura diante dela. A figura tornou-se clara, porém brilhou como uma velha lua num céu aquoso: era uma égua idosa carregando uma velha mulher em uma mortalha preta. E a mulher disse "Você fez bem em se desfazer daquela capa, minha querida", e Rhiannon reconheceu a capa como a mortalha nas costas da mulher. "Não vai agora dar um descanso para minha égua?" ela suspirou, acariciando a cinzenta cabeça fantasmagórica abaixo dela. "Com prazer", disse Rhiannon, “eu a carregarei para onde quer que deseje ir”. Então a velha mulher foi até ela e a abraçou, e a chuva sacudiu as árvores, e o vento soprou para longe suas lágrimas, e a bruma cinza clareou, e havia apenas a escuridão.
À medida que Rhiannon vagueava através da escuridão, desesperadamente perdida, uma linha da história que ela tinha lido mais cedo naquela noite correu sua mente: "Mas era casual que permitissem que fossem carregados." Enquanto ela se lembrava disso a lua minguante brilhou através de uma brecha nas nuvens e ela reconheceu um pequeno bosque de árvores, o qual ficava próximo à casa da fazenda. Logo ela podia ver a luz quente do fogo e as lamparinas aparecendo pelas janelas. Ela chegou à casa despida, molhada e salpicada de lama. Os outros pareciam preocupados enquanto ela passava pela porta. Porém, sem parar para se esquentar ou explicar o que tinha acontecido, ela pôs um casaco e levou cada um deles para fora da casa, um de cada vez, e fez com que aprendessem um verso com ela, enquanto o vento cantava em volta de seus ouvidos. Gareth era sábio em conhecimento e aprendizado e fez seu verso com pouca ajuda, mas com o firme aperto da mão de Rhiannon na sua. No entanto, os outros tinham medo da noite sobre eles, e tinham de ser mantidos longa e proximamente antes do verso chegar, e Eleri ela segurou mais próximo de que todos os outros, enquanto criava as palavras que tinha de dizer.
Finalmente terminara, e a porta estava trancada e o fogo ganhou altura, e todos estavam aquecidos em volta da lareira. Bride estava com eles e os inspirava, e o fogo brilhava mais quente que o ataque da meia noite. Então veio a batida na porta e a cantoria das rimas, e Gareth replicou primeiro como tinha feito antes. Um por um seus nomes foram chamados por vozes fantasmagóricas do escuro da noite, e um por um eles disseram suas rimas em resposta, até que, por último, veio a vez de Rhiannon. A voz na noite disse:
Rhiannon Williams venha à porta
Podemos ouvir o tinido da garrafa.
Você aí no chão nos apreciaria
E tomar sua comida e bebida.
Rhiannon não respondeu imediatamente, mas tirou das dobras de seu vestido o colar que ela não tinha colocado novamente em volta de seu pescoço desde que o tinha oferecido à velha mulher na bruma. As treze peças permaneciam como antes, mas agora estavam amarradas no comprimento de uma fina gaze esverdeada. Ela o segurou diante de si, e o ergueu por sobre sua cabeça. Então ela disse esse verso:
Pelo poder da Lua minguante
Eu ordeno que tomem vôo,
Em nome da Rainha de Annwn
Vão agora para a escura e profunda noite.
E enquanto ela colocava o colar em volta de seu pescoço mais uma vez, o som dos cães uivantes desapareceu na distância, e até mesmo o vento tinha parado.
O fogo resplandeceu no momento em que ela retornava para a lareira e reunia todos à sua volta para um abraço, e eles agradeceram a Bride por seu calor e luz, pela firme compreensão dos versos, e pelo amor que compartilharam. O banquete foi alegre e confortável foi a cama por toda a noite, apesar do vento frio ter soprado lá fora através das árvores nuas, e haver um severo inverno à frente.
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Espaço oportunizado para aquele cuja a mente é inquieta e busca ir mais longe no conhecimento sem reservas de qualquer natureza. M. Aesculapius
segunda-feira, abril 30, 2012
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