segunda-feira, abril 30, 2012

Os Dragões nas Diferentes Culturas da Humanidade - Parte I

por Lugus Dagda Brigante

Seres alados com forma draco-ofidiana são encontrados em culturas presentes na Antiguidade, do Oriente ao Ocidente, e muitas dessas manifestações persistem vivas até os dias de hoje, sejam através de mitos, símbolos, cultos tradicionais e até mesmo cultos reconstrucionistas, como é o caso do Paganismo Contemporâneo e suas muitas vertentes.

O objetivo desse texto é introduzir brevemente o conhecimento sobre a presença desses seres tão especiais nas culturas apresentadas a seguir:

Suméria

Localizada na região da Mesopotâmia, historicamente um dos berços da civilização. Buscamos como fonte de culto draconiano a religião suméria e babilônica primitivas (pré-patriarcais), mais especificamente na Deusa Tiamat.

Tiamat é descrita no Enûma Eliš (O Mito de Criação Babilônico) como uma Grande Serpente Marinha, porém contendo cauda, coxas, cabeça, olhos astutos, pescoço e todas as demais características que nos levam a concluir que essa deusa era de fato representada como um Dragão. Segundo o mito, Tiamat deu origem a tudo aquilo que existe, sendo mãe, avó e bisavó de todos os seres e deuses do mundo. Um dos títulos de Tiamat é a "Grande Serpente de Fogo", o que faz clara alusão à sua natureza primordial e criadora.

Posteriormente, com o advento do patriarcado, o culto a Tiamat foi sendo gradativamente substituído pelo culto a deuses masculinos, a maioria reconhecidos como seus descendentes mitológicos, mais notadamente Marduk, que em um período tardio é retratado matando e esquartejando sua própria ancestral Tiamat, para então ele dar origem ao mundo se utilizando de partes do corpo d'Ela - algo bastante característico da ascensão dos mitos patriarcais sobre os matrifocais.

China

Sem dúvidas, uma das culturas de que temos mais notícias documentadas e traços da adoração do culto aos Dragões presentes até hoje, é a cultura chinesa.

Não podemos dizer com precisão como e onde nasceu exatamente a presença dos seres draconianos na China, mas acredita-se que estes surgiram em diferentes locais ao mesmo tempo, atráves do culto de diversas tribos aos seus totens protetores, que na maioria das vezes eram Dragões.

Na Mitologia Chinesa, o Dragão foi um dos quatro animais convocados pelo deus Pan Ku, para auxiliá-lo na Criação do mundo. Outros mitos, possivelmente anteriores aos de Pan Ku, contam que a Criação do mundo se deu pelas mãos da deusa Nu Kua, Senhora da Ordem, que é muitas vezes representada como uma Dragonesa e em outras como uma Velha Senhora.

O Dragão Chinês, diferentemente do Dragão conhecido pela cultura ocidental, é muito mais semelhante a uma Serpente e muitas vezes também é retratado sem asas. É um símbolo de proteção e rege o controle das águas que dão vida à agricultura na China.

O Dragão enquanto símbolo é utilizado até os dias de hoje pelos chineses, seja como protetor, ícone religioso ou motivo decorativo. Algo importante de se mencionar, é que historicamente, o Dragão era o símbolo do Imperador da China, e muitos chineses se identificam como "descendentes do Dragão", fazendo uma referência à sua natureza étnica.

No Horóscopo Chinês, o Dragão também se faz presente como um de seus "signos", sendo todos os anos regidos por ele os mais apropriados para se ter bebês, isto é, trazer à tona, mais uma vez, a Criação.

Índia, Pérsia e Egito

Na Índia existem largas referências sobre o culto às Serpentes e a ligação de divindades com elas. Entretanto, a presença de Dragões não é muito clara, mas podemos afirmar que ela esteve relacionada com o culto aos crocodilos que foi muito presente na região. Em determinadas regiões da Índia, o Dragão é hoje visto como símbolo do "Mal", algo que pode ter sido deturpado através dos tempos com a ascensão dos cultos patriarcais no Hinduísmo, após a passagem das tribos indo europeias.

Os Dragões Persas provavelmente descendem das lendas draconianas mesopotâmicas do período sumério e babilônico, assim como do antiguissimo culto à Tiamat. Na antiga Pérsia, o Dragão era visto como um ser guardião de grandes tesouros. Por outro lado, os mitos da região citam um Dragão chamado Azi Dahaka, que causava terror nos homens por eventualmente destruir suas fazendas, roubar seu gado e incendiar florestas. Alguns historiadores dizem que essa pode ser uma visão deturpada da figura do Dragão, e que na verdade, a figura de Azi Dahaka nada mais era que uma alusão alegórica ao próprio Império Babilônico que por séculos oprimiu a Pérsia durante a Antiguidade Clássica.

Os egípcios relacionavam a imagem do Dragão com a passagem do Tempo e a noção de equilíbrio entre o "bem" e o "mal". Assim como em outras culturas, sua imagem estava na maioria das vezes relacionada com a das Serpentes, que foram largamente cultuadas em todos os períodos e regiões do Antigo Egito. Um dos Dragões mais icônicos da Mitologia Egípcia que podemos citar é Apep, uma espécie de serpente-dragão que vivia no Submundo e todos os dias era morta pelo deus Rá, para renascer novamente, relembrando a ideia de tempo cíclico e equilíbrio.

Na segunda parte desse artigo veremos a presença dos Dragões nas culturas nativas das Américas, nas mitologias européias e seu significado também na mitologia judaico-cristã.

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