quarta-feira, agosto 19, 2015

A Maçonaria ou Viagem ao Centro do Ser

images (3)
Visita Interiora Terræ, Rectificando Invenies Occultum Lapidem
Desde o início, o cenário está colocado. Mas como o candidato compreenderá, ao olhar, espantado, para a sigla V.I.T.R.I.O.L. inscrita na parede da câmara de reflexão, que a «abordagem» empreendida é alquímica, de alguma forma uma tentativa individual de transmutação individual realizado no seio de uma comunidade “de indivíduos” procurando cada um por si – coletivamente – o mesmo objetivo por vias diferentes? Como ele compreenderia que está, sozinho, às voltas com a Obra em Negro, primeiro ato de uma individuação que o levará, se ele assim o desejar, ao Atanor – a Obra em Vermelho – onde ele reencontrará a palavra perdida? Impossível.
Todos aqueles entre nós que que entrevistaram candidatos não puderam, a não ser raramente, perceber na expressão estranha de suas razões, uma espécie de intuição do significado de suas buscas. Eles são capazes de expressar apenas banalidades; a afirmação confusa de uma crença em Deus, é claro, mas sem saber também explicar o porquê e como, juntando-se nisso sem saber à proposta de C.G. Jung: … a menos que não ocorra a alguém a ideia bizarra de pretender saber precisamente o que é Deus”; uma vaga ideia da fraternidade, mas também, muitas vezes, o sentimento de uma frustração religiosa. Talvez aquilo de não ter percebido no seio de sua igreja batismal o discurso que sairia do formalismo e da superficialidade, incapazes de suscitar no seio comunidade eclesial uma percepção ativa de sua alma (psique). Porque é exatamente disso que se trata.
O dogma e a doutrina dentro das igrejas não devem ser vistos somente como elementos de frustrações de liberdades individuais, mas também, reconheçamos, como uma rampa necessária sobre a qual se apoia a maioria dos fiéis, uma estrutura coletiva destinada àqueles sem isso tropeçariam (o dogma da Trindade, por exemplo, não pode ser razoavelmente questionado, correndo-se o risco de negar pura e simplesmente o cristianismo – ainda conviria aqui substituir a palavra dogma pela palavra mito que corresponderia melhor à nossa visão maçônica – Veja abaixo: Mito & Inconsciente).
Dogmas são, consequentemente, as bases sobre as quais se edificam as doutrinas, as espinhas dorsais das igrejas. Por outro lado, o perigo reside em uma projeção fundamentalista e exclusiva de uma prática religiosa equivocada, em uma atitude dogmática radical que subtrairia à alma os seus valores, porque o indivíduo – entendemos por indivíduo o profano que em um dia de sua vida vem bater à porta dos nossos templos – gostaria inconscientemente de participar de sua experiência espiritual dentro de sua igreja, que não se tornou o mais frequente infelizmente, de acordo com a formulação de Kierkegaard, que uma instituição dos sacerdotes-funcionários que ali fazem carreira, reduzindo as Escrituras a um pretexto para belos voos retóricos extravagantes diante de uma audiência sonolenta, um tipo de companhia de seguro para o além; o candidato realmente deseja participar do alimento de sua alma e, a este respeito, coloca sua esperança na Maçonaria, essa Irmandade de homens da qual ele nada sabe, é claro.
Lembremo-nos aqui da doutrina do Mestre Eckhart que destaca o tema do arquétipo (voltaremos a isso) no sentido de que a alma está relacionada com a essência divina pelo seu ponto mais íntimo, onde se situa seu arquétipo eterno, designado pelo Dominicano como um ponto central da alma, a “luz” ou a “centelha”. Portanto, nosso candidato potencial, responsável pela construção de seu próprio templo interior é de fato um buscador – ele procura a luz – pronto para uma busca de seu arquétipo, pronto para preencher o vazio de sua alma e colocar “todo Deus dentro” e não “todo Deus fora”.
Esta visão repousa essencialmente no conceito de regularidade. Ora, todos nós conhecemos a importância do Volume da Lei Sagrada (VDLS), uma das três luzes da Maçonaria, testemunho escrito da Tradição, independentemente de filiação religiosa. A maçonaria, sendo essencialmente ocidental, considera que este Volume é a Bíblia. Ele poderia ser diferente sem alterar a regularidade em si (o Alcorão, por exemplo). Lembremo-nos rapidamente do que seja a regularidade: “O primeiro ponto de regularidade é a crença no Grande Arquiteto do Universo e Sua Vontade Revelada (…) A revelação assim percebida não pertence especificamente a uma religião determinada (…) O Pastor Anderson a formulou perfeitamente em suas Constituições, ao designar o maçom como ‘noaquita’.
Esta formulação pode parecer reducionista. De fato, a revelação é essencialmente um conceito derivado da árvore Abraâmica e, na verdade, não está relacionado com o fato de que o judaísmo, o cristianismo e o islã, todas as três religiões reveladas incluindo transcendência (Moisés, Cristo, Maomé), ela implicaria com isso mais um aspecto teísta que deísta. É claro que a noção espiritual do GADU não é a mesma nas três religiões dos Livros (Antigo e Novo Testamento e o Alcorão) do que no Upanishads ou qualquer outra expressão livresca de doutrinas orientais que não convém analisar no quadro deste estudo. Digamos, por exemplo, que há fortes chances de que, se a Inglaterra não tivesse ido colonizar a Índia por um século, a Maçonaria não existisse.
Neurose, motivações psicológicas do candidado e individualização
Nós acreditamos que o desejo inconsciente de uma busca espiritual na origem de um desejo de aderir a uma organização iniciática como a Maçonaria é da ordem da “neurose consciente”. Entendamo-nos bem. Convém aqui se abster de qualquer raciocínio perigoso, moderar nossas palavras e observar cuidadosamente os caracteres aparentes da neurose – mesmo leve – em outras palavras, não se limitar a uma definição polida desta forma de psicopatia. Como uma brincadeira, poderíamos dizer que o maçom é um “neurótico que não se ignora”, enquanto a maioria das pessoas, mulheres ou homens que encontramos são “neuróticos que se ignoram”. Raros, com efeito, são os seres que podem reivindicar ter um perfeito equilíbrio mental.
A neurose é um estado obsessivo inconsciente. Os diferentes estados neuróticos – mesmo leves, repetimos – apresentam caráter e transtornos comuns resultando em doenças psicológicas e sociais, falta de maturidade emocional (reações inconscientes às situações profissionais, familiares, etc.), neuroses de ansiedade ou outras devido a fatores psíquicos endógenos (educação, condições de vida, circunstâncias externas, etc.). Eles se traduzem por uma necessidade de buscar algum tipo de refúgio, onde pensar e agir como C.G. Jung os define quando aborda a questão das sociedades secretas: “Essas identidades coletivas, (…)” muletas para os paralíticos (…) mas ao mesmo tempo (…) um objetivo glorioso e ardentemente desejado por aqueles que erraram e estão decepcionados…
Deve-se evitar aqui assemelhar os termos sociedades secretas e Maçonaria, uma nada tendo, obviamente, a ver com a outra, senão que ambas reúnem grupos de homens conduzindo uma busca comum. Reconheçamos aqui que nossas oficinas são células onde cada um entre nós se recarrega, se reconstrói, exercita por si mesmo este processo de individuação através do qual se supõe que um ser se torne um “indivíduo” psicológico, ou seja, uma unidade autossuficiente, uma totalidade; esta é uma via que nos convida a nos tornarmos um ser verdadeiramente individual; um retorno à nossa unidade mais íntima.
A individuação não exclui o universo, ela o inclui (“Deus totalmente dentro” de acordo com Mestre Eckhart). A individuação, considerada como o desejo de um aprofundamento do autoconhecimento é um empreendimento único, difícil e longo. Esse desejo metafísico está intrinsecamente ligado a uma reação contra o desvio epistemológico de nosso mundo em desenvolvimento, orientado para o materialismo, o demônio da alma, o criador de angústia. A era gótica, transcendental, aquela onde a alma estava incluída na matéria, o espírito na pedra das catedrais era uma simbiose entre a substancialidade do espírito e a da ciência. O candidato é um nostálgico desta época passada, buscando a via de um retorno ao espírito. Estamos em presença de uma dualidade Matéria-Espírito.
Lembremo-nos a este respeito do simbolismo das diferentes posições sucessivas do compasso e o esquadro sobre o altar dos juramentos. O esquadro, símbolo da matéria é colocado sobre o compasso, símbolo do espírito no primeiro grau; as duas luzes maçônicas cruzam-se no segundo grau, a evocação de um início de modificação na ordem dos valores, esboço de um retorno da supremacia do espírito sobre a matéria, realizado no terceiro grau.
A neurose está diretamente ligada à angústia. O angustiado busca desesperadamente suas referências; ele pretende dar à sua vida o sentido que lhe falta. Quantas vezes não ouvimos: “Eu me realizei em minha vida profissional, mas o resto é um fracasso…”? O homem muitas vezes sofre desequilíbrios psiquicos, nos quais ele se fecha, incapaz de encontrar uma saída para um plano mais elevado que lhe abriria o espírito, onde ele poderia evoluir em uma personalidade mais ampla. Kierkegaard fala da angústia como “grande privilégio do homem” face seu poder manifestado pelo fenômeno da transgressão e expresso no mito de Adão, cuja inocência é confrontada com o imensa possibilidade deste poder; a ansiedade é causada pela proibição e pela ameaça de punição; ela se torna assim, a vertigem da liberdade, uma liberdade prisioneira do desespero. E o dinamarquês ao imaginar esta fórmula descritiva do estado do eu quando o desespero é totalmente extirpado: “ao se orientar em direção a si mesmo, o eu mergulha, querendo ser ele mesmo, através de sua própria transparência no poder que o colocou ali” (5). Cria-se então no individuo o desejo de uma psicologia da alma, vontade que repousa sobre o pressuposto de um espírito autônomo. Essa abordagem e sua realização representam um esforço individual perseverante.
Imago Dei e arquétipo
Como vimos acima, com Mestre Eckhart encontramos a Imago Dei (imagem de Deus), produto do inconsciente, que, do ponto de vista psicológico deve ser entendida como um símbolo do eu, da totalidade psíquica. Nossos trabalhos são abertos à Glória do Grande Arquiteto do Universo, o Volume da Lei Sagrada simbolizando sua presença no espaço sagrado constituído em nossas oficinas entre a abertura e o fechamento dos trabalhos. Jung, sempre, fala claramente sobre este assunto: “É a não ser através da psique que podemos constatar que a divindade age sobre nós; no entanto, somos incapazes de distinguir se estas eficiências vêm de Deus ou do inconsciente, isto é, não é possível determinar a questão de saber se a divindade e o inconsciente constituem duas grandezas diferentes. Ambos são conceitos limitados pelo conteúdo transcendental. Mas pode-se constatar empiricamente que existe no inconsciente um arquétipo da totalidade (…) uma tendência independente do querer consciente que visa colocar outros arquétipos em relação com este centro”. Compreende-se aqui a estreita relação entre a presença da divindade na loja, simbolizada pelo Livro e a íntima percepção do superconsciente do sentimento do indivíduo diante do mistério de Deus.
Mística e iniciação
Devemos aqui distinguir a mística da iniciação, sem no momento rejeitar um em relação ao outro – como faz erradamente, em nossa opinião, Umberto Eco em seu monumental trabalho: “O Pêndulo de Foucault” onde transparecem claramente os pensamentos de Julius Évola, mística e iniciação que cada uma delas, à sua maneira, tende a uma percepção do divino e, portanto, do superconsciente. A mística é um fulgor iluminado, fugitivo; a iniciação uma longa e perseverante busca, mas o propósito da totalidade psíquica é o mesmo. Notemos de passagem que o misticismo pagão nada tem nada a invejar o misticismo cristão; o misticismo sendo de ordem supra-humana, a ele quase sempre as referências místicas estão ligadas às raízes religiosas e ambientais do sujeito e â influência delas sobre seu superconsciente.
Mito & Inconsciente
Convém, com efeito, deve refletir sobre o papel do mito no inconsciente. A expressão metafórica conhecida desde os tempos mais remotos, o mito é uma espécie de psicodrama cujos atores representam nossos diferentes aspectos desconhecidos. Ela nos convida longo do decurso da ação para uma tomada de consciência progressiva. O mito não é um fim em si mesmo, mas um fio condutor até nosso inconsciente, a sugestão de uma meditação sobre nós mesmos sob a forma de um caminho, de uma estrutura de idéias que proporia uma adaptação não mais ao ambiente, mas o significado da vida; uma fuga em direção à saída de um abandono psíquico, criador de angústia e que nos invade. A pluralidade dos rituais obviamente tem por objeto adaptar cada idiossincrasia ao sistema maçônico como um todo, mas o sentido do mito permanece o mesmo. O postulado – nós o vimos mais alto – consiste em admitir que o indivíduo está a priori na escuridão psicológica (mito da queda – Ge. III 1/24)). Qualquer evolução subsequente a esta situação só pode levá-lo para fora daqui. Adão simboliza o intelecto, ou seja, a capacidade própria do homem de agir sobre o mundo exterior, de adaptá-lo às suas necessidades, diferentes nisso do espírito, a capacidade de se orientar essencialmente no mundo interior e diante do sentido da vida.
O mito da queda simboliza a tomada do poder da matéria sobre o espírito:
“Que vimos fazer em loja? – Vencer nossas paixões, submeter nossas vontades e fazer novos progressos na Maçonaria”.
“Quais são os deveres de um maçom? – Fugir do vício e praticar a Virtude”.
Considerando a totalidade de seu funcionamento psíquico, o homem é ao mesmo tempo fraco e forte. Ele será mais forte na medida em que seu impulso evolutivo o levará a se tornar plenamente consciente de si mesmo, a entender tanto as intenções da superconsciência ética quando as intenções patogênicas do subconsciente.
O Mito de Hiram e Prólogo
O conjunto de estruturas iniciáticas da Maçonaria, a exemplo dos “mistérios” da antiguidade são projetados para reviver a emoção diante do Mistério da harmonia universal, ao qual o homem, para seu bem essencial deve se incorporar através da auto-harmonização (iniciar a si mesmo) de onde decorre o senso de ética imanente. É preciso tomar cuidado aqui com toda de qualquer conceituação lógica da natureza de Deus, entender que o Grande Arquiteto do Universo (Deus) deve ser tomado como símbolo indescritível do Mistério absoluto, e não considerado como Entidade, Substância ou Pessoa, mas como abstração, como vácuo. A tradição judaica nos ensina que o “Nome de Deus” (Y-H-W-H) jamais deve ser pronunciado, sob pena de uma personificação que, ao antropomorfizá-lo, dele retiraria seu significado de harmonia infinita do silêncio (abominação salomoniana: não pronunciarás o “Nome de Deus” em vão). Mesmo a imagem de Deus está incluída no homem (Deus em tudo). “Só existe o mistério imanente da existência: a organização harmoniosa do universo e a emoção humana diante deste aspecto misterioso do qual participa tudo que realmente existe, ser e coisa”. Deus é o reflexo da não existência absoluta.
Com isso em mente, revisemos o mito de Hiram. Esta é uma fábula que encena uma situação de psicodrama em relação ao Prólogo lido na sua versão mítica. Paul Diel, com efeito, nos esclarece a este respeito: de acordo com ele, conviria ser feita uma leitura doPrólogo diferente daquela proposta na Bíblia, a qual – sempre segundo ele – leva o leitor a uma interpretação dogmática do texto. Diel propõe uma interpolação da ordem das frases que lhe restitui seu sentido mítico através do deslocamento do versículo 6 após o versículo 18.
Nós mostramos abaixo os dois textos bíblicos e míticos em uma tabela, um ao lado do outro. Pareceu-nos interessante submeter à comparação as duas leituras do Prólogo que demonstra o seu sentido mítico – maçônico – admissível uniformemente por todos sem distinção religiosa; ela permite ainda que um não-cristão tome consciência da dimensão espiritual deste texto bíblico (e maçônico) fundamental:
Comparação segundo Paul Diel da ordem de uma leitura do Prólogo do Evangelho de João em sua versão dogmática de acordo com o Novo Testamento e segundo uma ordem mística
Versão dogmáticaVersão mística
 (1) No princípio era o Verbo (Verbum = Vulgata, logos = Evangelho de João foi escrito originalmente em grego) e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus(1) No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
(2) Ele estava no princípio junto de Deus(2) Ele estava no princípio junto de Deus.
(3) Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. (3) Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
(4) Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. (4) Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.
(5) e a Luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam. (5) e a Luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam.
(6) Houve um homem enviado de Deus e seu nome era João. (6) Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu (10)
(7) Ele veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.(7) Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (11).
(8) Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.(8) Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome;(12).
(9) Este era a luz verdadeira, que alumia a todo o homem, que vem ao mundo.(9) os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade de varão, senão de Deus (13).
(6) (O Verbo) Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu (10)(10) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a gloria do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade(14).
(7) Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (11).(11) E todos nós recebemos também da sua plenitude e graça por graça. (16).
(12) Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; (12) Porque a lei foi dada por Moisés, a graça e verdade foram feitos por Jesus Cristo. (17)
(13) os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade de varão, senão de Deus.(13) Deus nunca foi visto por alguém. O unigênito Filho que está no regaço do Pai, ele no-lo declarou. (18)
(14) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória; Glória como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (14) Houve um homem enviado de Deus e seu nome era João (6)
(15) João testificou dele e clamou dizendo: “Este era aquele de quem eu dizia: O que vem depois de mim, e antes de mim, porque era primeiro que eu”;(15) Ele veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.(7).
(16) E todos nós recebemos também da sua plenitude e graça por graça.(16) Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.(8)
(17) Porque a lei foi dada por Moisés, a graça e verdade foram feitos por Jesus Cristo.(17) Este era a luz verdadeira, que alumia a todo o homem, que vem ao mundo. (9)
(18) Deus nunca foi visto por alguém. O unigênito Filho que está no regaço do Pai, ele no-lo declarou.(18) João testificou dele e clamou dizendo: “Este era aquele de quem eu dizia: O que vem depois de mim, e antes de mim, porque era primeiro que eu”; (15)
O números em vermelho no final de cada célula na coluna da direita referem-se ao número da célula na coluna da esquerda.
Assim:
– O maçom que lamentamos é aquele que nos iluminaria…
– No princípio era o Verbo… e ele era a luz dos homens…
No início da “lenda”, estamos antes da “queda”; a ordem, a harmonia e a serenidade prevalecem sobre o canteiro (hierarquia piramidal, divisão dos trabalhadores por classe; a existência do mundo é inseparável da sua organização). No Prólogo, o Verbo e a luz iluminam o cosmos (superconsciente). Após o assassinato de Hiram, nós somos mergulhados em trevas; Adão já comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal; Lúcifer aparece em filigrana, o Gênesis subentende o advento da dor patológica que aparece com o ser consciente (consciência do crime, da transgressão). “O Verbo (Deus) simboliza o ato criador, organizador; em nível humano, o organizador do funcionamento psíquico (…) de sua realidade psicológica”.
– Ele (Hiram) pereceu pelo mais detestável dos crimes… (a luz se apagou).
– E a Luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam…
Mas o espírito de Hiram, morto assassinado, persiste na escuridão; ele deixa de ser instintivo se torna diretivo (aquele que dirige) e superconsciente. Assistimos a uma supressão do chamado do Espírito. A “luz que brilha nas trevas” é a verdade eterna que não mais consegue prevalecer, porque o subconsciente, a supressão se opõem ao surgimento e a à influência do superconsciente.
– O sábio rei Salomão tinha projetado o piedoso projeto de levantar ao Grande Arquiteto do Universo um templo, onde somente ele receberia o incenso dos homens…
O rei Salomão não é aqui a personagem histórica, questionável, do Antigo Testamento, mas um símbolo do Bem , personagem mitológico supra-humano, onde ele é o executor.
– Hiram, sabendo todas as artes e especialmente a arquitetura e no trabalho dos metais foi enviada a Salomão (…) para levar adiante este empreendimento…
– Houve um homem enviado de Deus e seu nome era João…
Quem enviou Hiram a Salomão? : Deus (o Verbo). Aqui reencontramos um sentido oculto para todas as mitologias onde o criador (Deus) e o juiz (Salomão) unidos em um único símbolo – o Verbo – significando o mistério da existência. O templo torna-se o centro (a câmara do meio), o lugar do superconsciente (o incenso dos homens).
Vejamos aqui uma anunciação do espírito profético mais consistente com uma leitura mítica do texto que nos diz: “Sejais os profetas de vossa própria vida!” Com efeito, Hiram morre, nós somos convidados à realização psíquica da construção do templo, de nosso eu, de nosso arquétipo, em um reencontro com o Mistério. Nós somos convidados a tomar as mãos. Recordemos aqui as palavras de Jung: “Anteriormente, as coisas vinham a mim; agora sou eu quem quero”; ou ainda: “Enquanto aquele que nega avança para o nada, aquele que obedece ao arquétipo segue os passos da vida até a morte”. Certamente, um e outro estão na incerteza, mas um vai contra o seu instinto, enquanto o outro caminha com ele”.
– Hiram (…) agora ainda os espíritos revoltados (…) quando três companheiros conceberam o projeto horrível de arrancar, por bem ou pela força, a Palavra Sagrada dos Mestres.
– Aquele que diz estar na luz, tendo ódio a seus irmãos… A escuridão cegou seus olhos(Primeira Epístola de João (II/8).)
Os três companheiros odiosos: ignorância, fanatismo e ambição, representam os impulsos inconscientes, descontrolados. O assassinato de Hiram é uma transgressão involutiva, uma forma negativa das intenções da psique; é o fruto proibido do jardim do Éden, o fogo de Prometeu.
No final da lenda de Hiram, depois que o destinatário foi levantado pelos cinco pontos controle perfeito da maestria, o V.. M.`. alegremente anuncia o retorno da luz:
– O M.´. é reencontrado e reaparece mais radiante do que nunca!… É assim que todos os MM.´. Mac.´. emancipados por uma morte simbólica, vêm a se reunir com os antigos  C.´. de seu trabalho e que, todos juntos, os vivos e mortos, garantem a perenidade da Obra!
– Mas a todos aqueles que o receberam (a Palavra), ela deu o poder de se tornar filhos de Deus.
O caminho da harmonia interior está agora traçado
O próprio desenrolar da cerimônia tem um significado simbólico que não convém ignorar: O loja está desorientada; ela está revestida de preto; uma cortina preta espessa isola o De’b’ir do Ehal; o Delta do Oriente permanece aceso, mas não é mais visível, e a Estrela Flamígera no ocidente está fracamente iluminada; a localização das três colunas mudou; o V.´.M.´. já não ocupa a cadeira do rei Salomão, mas está instalado em uma mesa ao pé dos degraus do Oriente. Esta disposição corresponde à imagem do caos psíquico em que se encontra aquele que receberá a luz, algum tempo depois.
Observamos aqui, que uma mesma personagem pode cobrir dois significados antitéticos. O “papel” desempenhado pelo V.´. M.´. se situa em dois níveis:
a) o direção da oficina (Salomão em seu trono);
b) um dos três assassinos de Hiram, na realidade aquele que assassina a arquiteto.
Finalmente percebemos que as leituras analógicas do Prólogo, em seu significado simbólico e a mesma do mito de Hiram, apresentando correspondências flagrantes. Certamente, nenhum milagre vai acontecer sem a vontade à qual a idade do grau dá seu valor e seu alcance. Uma nova luz ilumina o inconsciente.
Iluminismo e Maçonaria
O Humanismo desenvolve-se no início do século XVIII, principalmente na Inglaterra, onde a Royal Society desempenhava um papel proeminente. Em suas Cartas Filosóficas, Voltaire escrevia: “Tudo prova que os ingleses são mais filósofos e mais audazes do que nós. Vai levar algum tempo até que alguma razão e alguma coragem cruze o Pas-de-Calais”. Constatemos o paralelo cronológico entre este novo “caminho real de inteligibilidade” puramente inglês e a criação (também puramente inglesa) da Maçonaria especulativa de 1717. A historicidade da Maçonaria é tão intimamente ligada à do humanismo do Iluminismo, gerador de racionalismos posteriores, tais como o positivismo de Auguste Comte, este que não é o menor dos paradoxos. Com efeito, o humanismo levado ao pé da letra é uma doutrina filosófica que coloca o homem e os valores humanos acima de outros valores, incluindo os do Mistério.
Ora, o simbolismo, tal como deve ser entendido na abordagem mítica da Maçonaria, coloca justamente o homem antes do Mistério. Na verdade, o paradoxo é apenas aparente. Isaac Newton, membro da Royal Society, ela mesmo indiretamente ligada à Maçonaria (lembremo-nos de B. Franklin, ao mesmo tempo membro desta instituição e Maçom), autor dos “Princípios matemáticos da filosofia natural”, introduz o conceito de “Demiurgo”, “o Relojoeiro”, explicando o funcionamento do relógio mundial a partir das leis imanentes e não transcendentes do universo, o mundo fabricado de uma vez por todas e sem intervenção subsequente. O que é precisamente o Mistério.
Seria vazio e estéril refutar de plano, o legado do Iluminismo. Mas forçoso é reconhecer que as doutrinas filosóficas que ele libera (positivismo, estruturalismo, fisicalismo, etc.) procuram demonstrar em vão o indemonstrável.
Maçonaria, por quê?
O desenvolvimento de nossa tese nos convida a refletir sobre os méritos de uma abordagem corretamente entendida e praticada dentro de nossa organização. Não importa a época, toda sociedade cavou sua sepultura para se deitar uma vez morta. Um eterno renascimento da alma revive a fênix das cinzas até que, novamente, ela se recolhe e implode. Sir Thomas More já escrevia no século XVI, em sua Utopia: “O que vocês fazem, então, eu vos pergunto, a não ser fabricar vocês mesmos os ladrões que vocês enforcam em seguida?” Fabricar ladrões para enfocar em seguida beira o absurdo. Barcos livres no oceano da vida, muitas vezes somos mais capazes de encontrar o bom porto. Nosso irmão Jean Servier em sua “história da Utopia” enfatizava apropriadamente: “De que serve bem construir, filosofar, sonhar, orar se o homem não é o objetivo supremo de qualquer abordagem e sua felicidade sobre a terra é mal assegurada”.
Surge então a questão de saber em que consiste a felicidade do homem. A predominância do materialismo de nosso século oblitera o verdadeiro significado da vida, sem levar em conta a constante interinfluência entre os dois fenômenos existentes: espírito e a matéria, levando à reversão do relacionamento, supervalorizando a matéria e tornando inútil o aprofundamento epistemológico (ou Teoria do Conhecimento) que estabelece uma crença em uma Matéria absoluta, em vez de um Espírito absoluto, estabelecendo assim bases falsas para qualquer tentativa de explicação. E esta continua a ser a origem da neurose de que falamos no início do texto.
Em todas as tradições, o quadrado é um símbolo da matéria, o círculo o do espírito. Em nossa tradição maçônica, o quadrado é o esquadro; o compasso, o círculo. Passar do esquadro ao compasso para “tornar-se mais radiante do que nunca” é realizar essa transmutação da matéria em espírito. A trindade maçônica assume assim todo o seu valor simbólico. A dualidade Espírito/Matéria (Compasso/Esquadro) se funde na Palavra (V.D.L.S.) para se reconstituir em um só e único elemento: “Um tudo”. O homem de pé (libertado) tem simbolicamente restabelecida a sua totalidade psíquica.
Vaidade das vaidades, tudo é vaidade“, diz o Eclesiastes; a serpente no jardim do Éden a simboliza. Esta vaidade cega o homem e o leva a um beco sem saída, a um caminho que o leva a nada. Para que sua vida não permaneça um “caldeirão fervilhante de intenções obscuras”, o ser humano deve atingir a clarividência de si mesmo; deve realizar um retorno essencial ao que ele é: entender o significado do cogito ergo sum, não só se limitar a dizer: “Penso, logo existo”; mas pensar-se, perceber que o importante não é saber o que ele é, mas quem ele é, de etapa em etapa (os graus sucessivos de iniciação), elevar-se de forma evolutiva até o homem; construir o edifício de valores (o Templo) chegando a o nível superior do espírito humano.
O falso julgamento focado inconscientemente sobre si mesmo leva a uma supervalorização (ou subvalorização) de si mesmo e ao caos. A verdade superconsciente obscurecida pela vaidade ilusória pode ser descoberta, e a intensa satisfação de si mesmo não é mais vaidade, mas torna-se serenidade, ordem (Ordo ab Chaos). O surgimento de culpa ao olhar para o interior durante a introspecção é também criado de angústia; a descoberta de seu fantasma (de sua sombra) pode se tornar traumática instantaneamente, mas este é o preço da plenitude.
No entanto é preciso que fique claro: A análise do aspecto psicológico do processo maçônico, da forma que tentamos demonstrar nunca representou em si mesma uma forma de terapia particular, tratamento de transtornos mentais, desequilíbrios psicopatas ou depressões profundas. Mas, o espaço sagrado constituído durante os trabalhos é para muitos uma “área de descanso”, um espaço fechado onde se isolam aqueles que buscam uma missão semelhante, uma forma de inconsciente de regresus ad uterum (retorno à matriz)… algo glorioso e ansiosamente esperado para aqueles que erraram e que estão decepcionados (ver acima). Evitemos, no entanto, substanciar o irracional como muitos dos derivados nos convidam! Fiquemos com os pés na terra!
A loja se torna uma verdadeira fraternidade de homens que “deixaram seus metais à porta do templo”; (o conjunto de seus impulsos inconscientes, suas ansiedades, qualquer forma de inibição psicológica, assim como toda aparência social falsificada).
A meio caminho entre o zênite e o nadir, em uma posição equidistante dos quatro pontos cardeais, diante das três grandes luzes que são o Volume da lei sagrada, o Compasso e o Esquadro, sob o olhar mudo do Olho inserido no Triângulo, quinta parte da estrela flamígera, munido das ferramentas simbolizadas que o tornam um construtor de almas, o homem é convidado a refletir.
O Mistério está diante de si, ad vitam eternam. Nenhuma equação demonstrará a existência de Deus, sentimento inefável do mais profundo de seu eu, visão fugaz da pedra escondida anunciada na câmara de reflexão. Incessantemente, incansavelmente:
Visita Interiora Terræ, Rectificando Invenies Occultum Lapidem!
Autor: Ven.´. Irmão Michel Warnery
Vice-Presidente do Grupo de Pesquisa Alpina
Tradução José Filardo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  Grande Loja da Rússia   Acredita-se que a maçonaria chegou à Rússia, no final do século XVII, quando em 1699, o Czar Russo, Pedro I “O Gra...