O MITO DO HERÓI
CONHECER OS MITOS É APRENDER O SEGREDO DA ORIGEM DAS COISAS
Jornadas heróicas conduzem sempre a vales sombrios e a confrontos difíceis mas, ao perseverarmos, alcançaremos um novo estágio de conscientização.
Porém, um mito faz mais do que isso: se aprendermos a ouvir, ele também nos fornecerá informações psicológicas precisas e nos ensinará as verdades profundas da psique.
Quanto a verdade, um mito é verdadeiro, não no sentido exterior, físico, mas é uma expressão exata de uma situação psicológica, da condição interior da psique: Os mitos são como os sonhos e, os sonhos, são os mensageiros do inconsciente e de seus arquétipos. Se aprendermos a linguagem do mito, seus símbolos, entenderemos o que está se passando lá dentro da psique, em um nível inconsciente. Poderemos até descobrir o que fazer a respeito.
Somente atingiremos a totalidade (self) e passaremos para uma nova etapa da nossa evolução de consciência, quando aprendermos a conviver conscientemente com os Mitos - isto é, com as imensas forças psicológicas que ele representa: Na evolução da consciência, nosso maior problema é sempre nossa oportunidade mais preciosa. É quando estamos mergulhados no caos que mais precisamos enxergar as possibilidades de ação.
No caminho de nosso desenvolvimento, sempre chegamos a um problema, um obstáculo tão grande que nem o podemos engolir nem o podemos expelir: Um carvão em brasa entalado na garganta. Esse nó na garganta é um aviso de que um tremendo potencial evolutivo está tentando se manifestar. A humanidade toda está a mercê desta enorme força evolutiva que o mito representa. Todo mito é o registro simbólico de um estágio de crescimento na vida de um povo. Ele não só nos mostra os conflitos e as ilusões, como também as potencialidades contidas na situação existencial presente. |
Quando nós nos recusamos a integrar uma nova e poderosa potencialidade do inconsciente, o inconsciente cobra um tributo, de uma ou de outra maneira: O tributo pode tomar a forma de uma neurose, de um estado de espírito compulsivo, obsessões, doenças imaginárias ou depressão paralisante, medo.
O trabalho do herói é específico: empreender a jornada interior, enfrentar os dragões e gigantes que lá existem e encontrar o tesouro escondido. Qualquer um pode empreender a jornada interior e assumir a tarefa de se tornar completo .
Os mitos estão repletos de paradoxos porque a realidade é, em si, paradoxal: um contra senso. Gostamos de acreditar que já sabemos tudo, que já conseguimos imaginar tudo e é por isso que o verdadeiro paradoxo é sempre doloroso. O paradoxo entra em conflito com os nossos preconceitos, desafia nossas premissas e insulta nossas verdades coletivas. É faltando isso, que gostamos de interpretar os Mitos como sendo fantásticas invenções de mentes primitivas e infantis. Mas, se os considerarmos seriamente, como afirmação da realidade que são, então veremos todos os nossos cômodos chavões, todos os nossos velhos e sedimentados conceitos de verdade serem incomodamente questionados.
Examinar o Mito à procura de sabedoria significa retornar à matéria primordial da psique. Interpretar um Mito, buscando apenas a confirmação de nossas opiniões arraigadas, só nos trará confusão: Os símbolos não fluem do inconsciente para nos dizer aquilo que já sabemos ou queremos ouvir, mas sim para nos mostrar o que ainda temos para aprender. O maior de todos os aprendizados está em conhecer-se a si mesmo. O começo da sabedoria é a real compreensão do óbvio.
Num determinado estágio de nossa evolução, a ligação que mantemos com nossa psique e a que mantemos com a nossa esfera humana externa, entram em terrível conflito e esse conflito é uma prova de fogo para se chegar à conscientização.
É este o poder do Mito. E é em função disso que precisamos da mitologia. Mas não será isso uma afronta à razão ? O que os deuses e heróis da mitologia tem a nos dizer hoje, num mundo informatizado, não está ultrapassado ?
Pensamos que não.
O que muitos não sabem é que os vestígios desses deuses e heróis se alinham, ainda hoje, ao longo dos muros de nosso sistema interior de crenças e valores. E, de mais a mais, a razão há muito já vem sendo desafiada pelas verdades de conveniência e mais, a parafernália tecnológica não vai nos salvar ou sequer, ao menos, nos ajudará a ver melhor a realidade.
A busca do si mesmo nunca estará completa se recusarmos trilhar o caminho do Mito e este passa inexoravelmente por dentro do ser humano, pelas cavernas e grutas do inconsciente. Sem que se estabeleça a ligação do ser humano com seu mundo mitológico arquetípico, de nada adiantará os avanços da ciência e da tecnologia, nem uma e nem outra dará conta da humanização das pessoas, pelo contrário, as robotiza como autômatos.
Temos que confiar em nossa intuição, em nosso verdadeiro Ser e empreender a busca da sabedoria subjacente ao Mito.
É disso que trata a jornada do herói, não é para negar a razão . Trata-se isso sim de ampliá-la para além dos seus próprios limites lógicos. Pela superação das paixões tenebrosas, o herói simboliza nossa capacidade de busca, nossa capacidade de controlar a sombra irracional dentro de nós.
A jornada do herói é vista não como um ato de coragem, mas como uma vida vivida em termos de Auto descoberta. O fim da jornada do herói não é o engrandecimento do herói. O objetivo último da busca não será nem evasão nem êxtase para si mesmo, mas a conquista da sabedoria e do poder que ela confere na busca do auto conhecimento e do conhecimento do mundo.
No princípio era o Caos, abismo insondável, personificação do vazio primordial, matéria eterna, informe, rudimentar, mas dotada de energia prolífica. Do Caos surgiu Geia (Terra), Tártaro (habitação profunda), Eros ( Amor, desejo, daimon), Érebro (escuridão profunda), Nix (noite). Nix gerou Éter (ar) e Hemera (dia). De Geia nasceram Urano (Céu), Montes (montanhas, símbolo da transcendência) e Pontos (mar, símbolo do inconsciente).
Reinado de Urano. À fase de energia prolífica segue-se a primeira geração divina, em que Urano (Céu) se une a Geia (Terra, elemento primordial). Dessa segue-se numerosa descendência. Aqui, porém, chamaremos atenção apenas para alguns descendentes mais significativos, dentre os quais destacamos os Titãs (desejos terrestre) e depois as Titânidas e também Crono, o caçula dos Titãs, a quem coube a tarefa de destronar Urano, seu pai, em consórcio com sua mãe, Geia.
Por solicitação de Geia, Crono (Saturno, deus da revolução) se interpõe entre o Céu e a Terra, castrando a Urano, cortando-lhe os testículos, separando assim céu e terra, criando o tempo.
Do sangue de Urano que cai sobre a Terra nasceram, as Erínias, os Gigantes e as Ninfas; da parte que cai no mar nasceu Afrodite.
Com a castração de Urano, Crono (deus do tempo) assume o poder dando origem à segunda geração divina, mas é destronado por Zeus, seu filho caçula.
Crono se casa com sua irmã Réia, desse casamento nasceram Héstia (fogo central da terra), Hera (a guardiã), Deméter (terra cultivada) Hades (cruel) Posídon (deus do mar) e Zeus.
Segue-se aqui a tradição de o caçula lutar contra o pai pelo poder. E mais uma vez quem trama contra o poder do esposo, é a esposa em consórcio com o filho mais moço. Para tentar evitar o destino, o Pai mata ou manda matar os seus filhos tão logo eles nasciam: Crono engolia sua prole.
Mas, graças a um estratagema de Réia, Crono engoliu uma pedra em vez de devorar o caçula Zeus. Este liberta os Cíclopes que o pai houvera preso e destrona Crono, que vomita os filhos que havia engolido. Segue-se aí uma grande luta entre Zeus e seus aliados, contra Crono.
Terminada a longa batalha, Zeus consolidou seu poder, tornando-se o pai dos deuses, dos homens e organizador do Caos, dando ordem e função a tudo que existia caótica e potencialmente.
Com Zeus, dá-se origem à terceira geração divina. Zeus teve diversas uniões, a primeira delas foi com Métis (sabedoria) mas, grávida de Atená, o deus a engoliu, para que ela não tivesse um filho mais poderoso que o pai. Com isso Zeus poria fim à tradição. Atená porém acabou nascendo da cabeça de Zeus. Dos outros casamentos, Zeus teve uma descendência bastante numerosa. Vamos apenas citar os mais importantes: Horas, Irene (paz), Dique (justiça), as Moiras (destino).
Estar desorientado é entrar no Caos, de onde não se pode sair, a não ser pela intervenção de um pensamento ativo, que atua energeticamente no elemento primordial : Geia.
Breve Comentário Sobre Este Mito.
Este mito nos mostra que é possível por ordem na bagunça, na desordem interna. É possível gerar o Novo a partir da ordenação da matéria e da canalização de energia em sentido unívoco. A luta entre pai e filho com o apoio da mãe é que faz gerar o que Freud chamou de complexo de Édipo. Mas a essência da disputa não era o amor, mas o poder. Arquetipicamente falando, há sempre uma criança se interpondo entre o adulto e a criança de cada um de nós. Estabelecer o diálogo entre essas esferas do nosso inconsciente é fundamental para o equilíbrio no entendimento do Mundo. O Mito nos mostra que essa luta quase sempre é dolorosa, envolvendo sempre a morte como alternativa para a permanência da vida. |
Voltando à questão da fertilidade dos deuses, este era um detalhe de suma importância visto que a fertilidade está diretamente relacionada à proliferação da espécie. É preciso então proteger os recém nascidos da Inveja do pai, para tanto, a Mulher (mãe), símbolo da vida, tem que tramar com o caçula (revolucionário), o fim do Velho para que a vida possa seguir seu curso e povoar a terra.
Foi apenas na terceira geração divina, com Zeus, que se consegue por fim às lutas pelo poder supremo entre o Velho e o Novo. Zeus ordena as coisas e distribui funções específicas para cada um dos deuses mantendo-se soberano.
Muitas vezes precisamos matar nosso pai, as velhas idéias e deixar que a criança, o novo, tenha vez. Ouvir o adulto, o racional de nós mesmos é o melhor caminho para o estabelecimento de um diálogo harmonioso entre os estados do Ego ( infantil, adulto, velho). E saber que do Caos, energia prolífica, é que tudo tomou forma. O Caos não é, portanto, o fim, mas a massa informe, cheia de energia potencial de onde tudo pode ganhar forma, monstros e deuses, a guerra e a paz.
Ordenar o Caos equivale, em linguagem psicanalítica, dar sentido para as coisas do inconsciente. Este foi o trabalho de Zeus, não o de criar, mas por ordem no universo. Este talvez seja também o nosso compromisso.
O casamento entre irmãos no mito é comum. O incesto não era um valor moral entre os deuses. Algo que só veio a ser instituído depois com o advento do monoteísmo e da moral cristã. Sobre o ponto de vista não moral, irmão e irmã são homem e mulher. Família é um conceito social, não psicológico. Porque, do ponto de vista psicológico, o que existe é masculino e feminino, energias opostas que se atraem e que só são freadas pela moral e pela família.
O Caos, o inconsciente, são como que buracos negros, para onde toda energia é sugada, é lá também que essa mesma energia pode adquirir forma e sentido dando significado às coisas que estão lá: por ordem é dar significado para o que existe potencialmente.
Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. A nós cabe tarefa dar sentido para essa transformação.
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ResponderExcluirMy last blog (wordpress) was hacked and I ended up losing months of hard work due to no back up.
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Querido Mestre Edson, obrigado por nos permitir beber da fonte da sua sabedoria, seus textos além de saciar nossa sede nos permite ver mais além.
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