quinta-feira, janeiro 23, 2014



Saber quando parar...


Um dos desafios mais difíceis para um homem ativo é saber parar. Uma das coisas mais descuradas por quem está habituado a assumir responsabilidades é a preparação para a cessação da assunção dessas mesmas responsabilidades. Quem está habituado a fazer tem tendência para alimentar a ilusão de que o seu contributo é imprescindível. Pessoalmente, procuramos combater essa tendência lembrando  frequentemente que o cemitério está cheio de insubstituíveis - e, no entanto, o mundo continua a girar, o Sol continua a nascer todas as manhãs no Oriente e a pôr-se todas as tardes no Ocidente, o mundo e as sociedades prosseguem imperturbavelmente os seus destinos, apesar de os insubstituíveis terem sido substituídos...

Este alerta mental é válido também para uma Loja maçônica. Uma das piores coisas que pode acontecer a uma Loja maçônica é haver irmãos que, qualquer que seja ou tenha sido a sua valia ou importância, se considerem insubstituíveis, necessários, procurando exaustivamente influenciar ou determinar o que na Loja se decide, se projeta, se faz - como se nada se possa  fazer sem que o trigo seja cultivado na sua terra, a farinha moída em seu moinho e o pão cozido no seu forno - embora gostem que haja semeadores para lançar o trigo à sua terra, moleiros para fazer funcionar o seu moinho e padeiros para colocar o seu pão dentro do seu forno e de lá o retirar... Uma Loja subordinada a quem não consegue deixar de nela impor a sua vontade perde inevitavelmente qualidade, capacidade de evolução, criatividade e capacidade de execução.

É por estarmos alerta em relação a isso que , já em conversa de alguns anos, assentamos em que teríamos de estar atentos ao momento em que fosse necessário ir nos discretamente afastando da influência nos destinos da Loja, de modo a não sufocarmos esta na sua evolução, deixando que a nossa contribuição passada seja isso mesmo, Passado, e favorecendo a evolução futura nas mãos de gente tão ou mais bem preparada do que nós.

As circunstâncias têm feito com que, nos últimos três anos, a nossa intenção ainda não pudesse passar disso: num ano fui chamado a desempenhar funções no Quadro de Oficiais, agora  preciso tomar conta prioritariamente da GLRRS, até o fim do mandato. A contribuição nos quadros das  Lojas, como mestre obrigou a que não nos pudéssemos afastar sem auxiliar na reconstituição de uma massa crítica de Mestres, em número e qualidade suficientes para que a Loja funcionasse regularmente. Mas estamos atentos à chegada desse inevitável momento em que devemos iniciar o nosso processo de reforma - para não corrermos o risco de passarmos a ser peso onde antes procuramos ser motor. A influência que vez foi positiva ora resta como um grilhão, segurando a evolução das Oficinas.

Essa foi uma das razões pelas quais no final de uma sessão, propor que seja construída outra Loja, em  outro  endereço, com a finalidade de fomentar a alegria e movimentar as energias estagnadas da Loja.  Tenho ciência que esta ideia traz em si alguma apreensão, pois recomeçar implica em fazer algo sempre diferente do que existia, sem tem a certeza se vai ser melhor ou não. Mas durante muito tempo a administração da GLRRS esteve diretamente ligada com a administração das lojas, tirando autonomia de algumas oficinas e não permitindo que os Veneráveis expressassem seu maior potencial, dadas as influências.  Claro que temos motivos de  satisfação em termos colaborado numa sessão da Loja particularmente bem sucedida, como referi acima. Mas também porque sentimos que o momento em que nos vamos tornar desnecessários está iniludivelmente muito próximo. Não será porventura já para amanhã (pelo menos até ao fim das férias maçônicas e depois até o fim do ano tenho ofício a executar), porém a Loja está a atingir um nível comparável aos seus melhores tempos, reconstituiu (e ainda não terminou o processo) o seu Quadro de Mestres e dispõe agora de um confortável número de jovens e qualificados Mestres, tem as colunas de Aprendizes e Companheiros preenchidas por gente capaz e tem candidatos que bateram à porta e aguardam a sua vez de ser atendidos . Se nada suceder em contrário, se o quadro de obreiros agora se mantiver estabilizado por, pelo menos, dois ou três anos, não tenho dúvidas de que não já  faremos falta nenhuma, como deveremos afastar-nos dos centros de decisão da Loja, de forma a não prejudicar a normal evolução dela com as nossas recordações de tempos passados. A experiência é benéfica, mas para enquadrar a força e o empenho da juventude e a capacidade da maturidade, não para as subjugar ou limitar...  

Parece-me assim que se aproxima a passos largos o momento em que deveremos de vez deixar o exercício de Veneraria em Lojas Ordinárias e também nas Magnas (enfim, uma vez por outra, para substituir alguém, se não houver mais ninguém disponível, pode ser - mas sem abusar...) e, sobretudo, guardarmos para nós as nossas apreciações, para que mais fluidamente se expressem as opiniões e mais livremente se tomem as decisões pela nova geração da Loja. É esta a lei da vida. É assim que os grupos e as sociedades evoluem, cada geração assumindo as rédeas no momento atual.

Então e finalmente nos afastaremos também do Grão-Mestrado e assim poderemos assumir total e completamente o nosso papel de responsável pelo Filosofismo, e,  assistindo ao que se passa do nosso camarote, matutando sobre o que vemos ser feito e resistindo a reconhecer que o que então estiver a ser feito é tão ou mais bem feito do que nós alguma vez fizemos...

Saber a hora de parar é também saber a hora de crescer... Edson Couto -GM 

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