terça-feira, setembro 08, 2015

Demiurgo

INTRODUÇÃO


A maçonaria é para mim repositório de conhecimentos da humanidade, de suas lendas e seus mistérios e isso me fascina. 

A Arte Real é perfeita e nos oferece ferramentas, símbolos e alegorias, que permitem despertar o filósofo que há em cada um de nós, seus obreiros. 

De certa forma poucos são os maçons que se dedicam realmente ao estudo, aprendizado e absorção dos ensinamentos dessa doutrina. Poucos nutrem interesse pela pesquisa e muitos se apaixonam pelos ágapes ou até mesmo se encantam com o exercício do poder, os holofotes. 

A curiosidade dos profanos em relação à Ordem cresce quando vem à tona notícias sobre templários e filmes ao estilo Dan Brown ou Harrison Ford, justamente pelo encanto e pela curiosidade. Fora disso, passa ao largo. 

Preocupa-me observar que muitos maçons não possuem a mínima ideia do que é maçonaria e me preocupa mais ainda a rotina das reuniões enfadonhas sem criatividade e sem incentivo. 

Para aquele em busca da verdade há espaço imenso nos estudos filosóficos que nos conduzem a sonhos magníficos e à realidades muito diferentes sobre a vida e o próprio universo. 

Tenho encontrado pessoas abnegadas que se dedicam a tal mister, mas são poucas, e são justamente essas que ainda mantém de pé e à ordem essa velha tradição. 

Todos os temas colocados, nos mais diversos graus, são oportunidades de crescimento. Não vale apenas a leitura dos textos, mas a compreensão e os ensinamentos que eles transmitem para que possamos continuar desbastando a pedra bruta. 

O Tema desse trabalho, embora pareça de fácil compreensão, quando lemos as obras de Platão, para mim é como se fosse um foco unitário de luz direcionado a um prisma que do outro lado se abre em raios de variados tons. 

Buscarei compreender, através da lógica e da imaginação, o espanto e a admiração do homem mais antigo, em relação às forças da natureza e de sua visão do cosmos. 

Certamente que trago para este trabalho minha visão sobre o Demiurgo de Platão e suas consequências no mundo atual e na própria história da humanidade. 

Espero não decepcionar aqueles com abordagens diferentes. 


DEMIURGO

A palavra demiurgo é derivada do Grego antigo δημιουργός (dēmiourgós, latinizado demiurgus). No Grego Clássico, a palavra Demiourgos significa “artesão” ou “artífice”, literalmente “aquele que trabalha  para o povo”, trabalhador especializado, criador; dēmios (δήμιος) que pertence ao povo; dêmos, “o povo”.[5]

Ao que me consta o uso filosófico e o substantivo próprio aparecem no diálogo do Timeu escrito por Platão em 360 a.C., embora se faça presente em outras obras de sua autoria. É nesse diálogo que Platão expôe a criação do mundo pelo Demiurgo. 

Certamente que esse conceito platônico difere do conceito do deus cristão, pois o demiurgo não pode criar a partir do nada, ou seja “ex nihilo”, diferente da mônada, ou seja, do Deus absoluto, ou para nós, o Grande Arquiteto do Universo. 

Ao que me parece, pelas leituras feitas e pela modesta compreensão, o demiurgo é uma autoridade a quem o deus ABBA, ou Grande Arquiteto, delegou competência para dar forma às coisas materiais. 

Observem que o sistema metafísico de Platão centraliza-se no mundo das idéias: Divino, Perfeito e Imanifesto. A ele contrapõe-se a matéria: uma cópia grosseira, imperfeita, falível e impermanente. Entre a idéia e a matéria está o Demiurgo, o Creador. 

Não sei se posso chamar o demiurgo de personalidade ou de inteligência com atividade creadora, ou ordenador, pois quem cria, no mundo das idéias é Abba. Na verdade, dentro desse princípio, ele é o responsável por transformar o caos em cosmos. Comparando com o hinduísmo ele seria Brahma (O Criador), mas não seria Brahma (O Incriado). 

Platão era um filósofo contemplativo, observava a natureza por um todo e entendia que no princípio do Universo havia a matéria caótica e disforme. Havia também as idéias, que são perfeitas. Havia o espaço e havia o DEMIURGO (deus). Segundo ele, o Demiurgo, entristecido com a desordem, resolve copiar as idéias na matéria. Desse modo, Ele gera os objetos que formam a nossa Realidade e, por isso, o que cria nem sempre é perfeito como as idéias de ABBA, ou do Grande Arquiteto do Universo, e fica por isso separado do Pleroma. Para o DEMIURGO, e em sua concepção, tudo o que Ele criava era perfeito, não aceitando nenhuma contestação dos Arcondes e por isso era um Deus rebelde. 

A nossa abordagem é simplória. Poderiamos analisar os aspectos religiosos de tais implicações relacionando as questões do bem e do mal e as indagações constantes sobre o porquê da existência da dualidade e bem assim o porquê ela existe se Deus é a perfeição. 

Há uma obra interessante de Renèe Guenon, intitulada o DEMIURGO que fala sobre o ternário e nos traz lições muito importantes para que possamos compreender a dualidade. 

Vejam que, em sua obra, Guenon, logo de início, aborda a dualidade e o conceito do bem e do mal: 

“Existem alguns problemas que constantemente vêm preocupando o homem, mas aquele que se há apresentado geralmente como o mais difícil de resolver é o da origem do mal, com o qual se depararam, como se fosse um obstáculo intransponível, a maioria dos filósofos e sobre tudo os teólogos: “Si Deus est, unde Malum”? Si non est, unde Bonum?”(1). Este dilema é, com efeito, insolúvel para aqueles que consideram a Criação como obra direta de Deus, e que, em conseqüência, estão obrigados a responsabilizar-lhe do bem e do mal. Se dirá sem dúvida que esta responsabilidade é atenuada em certa medida pela liberdade das criaturas; mas, se as criaturas podem escolher entre o bem e o mal, é porque tanto um como outro já existiam, ao menos em princípio; e se as criaturas são suscetíveis de decidir-se às vezes em favor do mal em lugar de fazê-lo sempre em favor do bem, é porque são imperfeitas. Como então Deus, sendo perfeito, pôde criar seres imperfeitos? 

“Se chamamos bem ao perfeito, realmente o relativo não é algo distinto, já que em princípio está contido nele; então, desde o ponto de vista universal, o mal não existe. Existirá unicamente se consideramos as coisas sob um aspecto fragmentário e analítico, separando-as de seu princípio comum, em lugar de considera-las sinteticamente como contidas nesse princípio, que é a perfeição. Assim é criado o imperfeito; distinguindo o Mal do Bem se cria os dois por esta distinção mesma, pois o Bem e o Mal são tais se opomos um ao outro e, se não há mal, não há motivo para referir-se ao Bem no sentido ordinário dessa palavra, senão unicamente da Perfeição. É, pois a fatal ilusão do dualismo quem realiza o Bem e o Mal, e que, considerando as coisas sob um ponto de vista particularizado, substitui a Unidade pela multiplicidade, e encerra assim os seres sobre os quais exerce seu poder no domínio da confusão e da divisão. Este domínio é o império do Demiurgo.” 

É uma obra interessante de se ler, e vale a pena! Coisa bem própria do Demiurgo. 

Na maçonaria encontramos determinadas abordagens ritualísticas que não compreendemos e, nas instruções ministradas estamos sempre nos deparando com os conceitos da dualidade, começando com o número dois, na 5ª. Instrução de Aprendiz Maçom, quando a ele nos referimos como sendo “perigoso”. 

Mas, depois observaremos a constante presença do ternário que dá equilíbrio às coisas. O Bem e o Mal não existiriam sem o Ternário, pois estão nele contidos e muitas coisas que entendemos como corretas é apenas interpretação equivocada da realidade. 

Luz e Escuridão caminham juntas, uma é a ausência da outra. O fogo que destroi é o mesmo que aquece e nos protege do frio. 

Sabedoria, Força e Beleza são uma constante entre nós maçons e existem para nos mostrar o equilíbrio. A Sabedoria (do Grande Arquiteto) a Força que cria (do Demiurgo) e a Beleza (do Plasmar). 

Vemos também a questão do PONTO, que é o verbo, o mundo das idéias, (ABBA), a RETA que é o PONTO em movimento (o demiurgo) e retas interligadas que são o PLASMAR das idéias, no mundo material. 



CONCLUSÃO 


Todos os temas apresentados nos Graus Filosóficos são, no meu entender, formas de aprendizado e lições que devemos absorver e colocar em prática. 

Fica bem demonstrado que o Demiurgo não é de todo mal, mas sim um teimoso, um deus que não aceita a opinião dos seus auxiliares, por que se acha acima de todos. 

Quantos DEMIURGOS existem entre nós? 

Eles são muito comuns e designam pessoas que tem a disposição de parecer sempre certas, assenhoradas da Verdade. Pessoas que tudo sabem e que tudo explicam. Além disso, quando confrontadas com seus erros, fazem cara de paisagem. 

Há uma pergunta que os pais sempre fazem aos filhos quando pequeninos e que a resposta é sempre a mesma: “por que você fez isso? E a resposta vem automática e sem maldade: “por que sim”. 

Certamente que os adultos já não possuem a candura para tanto, mas é comum observarmos pessoas de pouca cultura, de pouco conhecimento, se arvorarem em verdadeiros sábios e quando falam não aceitam serem abordados ou corrigidos. São os donos da Verdade. Distorcem a realidade dos fatos. 

Há pessoas que mesmo existindo uma legislação a ser obedecida, regras a serem seguidas, normas a serem observadas, mantém o seu ponto de vista fazendo o contrário de tudo que está implícito como correto, simplesmente por não aceitarem opiniões contrárias. São DEMIURGOS! 

Fica aqui o meu entendimento sobre o que é DEMIURGO e o que pode significar em todos os aspectos do conhecimento inerentes à nossa sociedade. É muito comum encontrarmos DEMIURGOS em todas as atividades profissionais. 

Fica também aqui uma visão mais aprofundada da necessidade do homem por seus deuses como justificativa dos seus atos e, o mais importante, a grandeza de ABBA, ou seja, do Grande Arquiteto do Universo. 


AUTOR:Ir.´.José Roberto Cardoso – GLMDF

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