segunda-feira, junho 25, 2012





"Todas as grandes religiões professam uma filosofia que (...) continua a tratar e a ensinar o Culto Solar e a forma como o Sistema Solar se Comporta.. (...) Hoje sabemos também que a posição do Sol em relação aos outros Eloíns ou planetas também nos afecta e conforme os Anjos, ou ângulos relativamente entre eles, produzem efeitos no comportamento quer ao nível do nosso planeta, quer ao nível do nosso corpo. É claro que em Maçonaria, essas representações Alegóricas tem essas metáforas baseadas em «questões Morais». (...) Eu aceito que o Paulo e outros maçons, não possam falar abertamente sobre estas coisas em público... (...) agora custa-me a aceitar e a perdoar que este conhecimento se mantenha Oculto, tudo fazendo para programar as massas não as educando ou reservando só para si, a chave de muitos problemas que afectam a nossa civilização."
(de um comentário recente do Streetwarrior, que tomei a liberdade de abreviar)

O nosso leitor Streetwarrior apresenta uma série de hipóteses - das quais extrai variadas conclusões - que me pareceram merecer mais do que um mero "comentário ao comentário". Vou tentar contribuir - sucintamente! - com a minha visão do assunto. Comecemos então pelo princípio.

A primeira hipótese é a de que todas as grandes religiões terão a sua origem no Culto Solar, tendo progressivamente divergido umas das outras na forma, mas mantendo a essência e a ancestralidade. Terá havido um "conhecimento ancestral" que se foi degradando com o tempo, e que apenas alguns terão sabido manter na sua integridade. A este respeito pouco haverá a dizer de categórico: não creio que haja documentos que o demonstrem, e tudo o que existe constitui apenas uma série de conjeturas, especulações e extrapolações, forçosamente pessoais e mais do campo da crença do que do da ciência. Assim sendo, é questão que não vou, sequer, tentar discutir: sou absolutamente concordante com a posição da maçonaria a este respeito, de que matéria de crença, fé ou convicção pessoal  são matérias que não devem ser discutidas, mas apenas respeitadas enquanto manifestação da liberdade individual.

A hipótese seguinte - apresentada como facto incontestado - é a de que a posição do Sol  em relação aos outros planetas afete o comportamento quer do nosso planeta quer do nosso corpo. Se virmos esta afirmação numa perspetiva estritamente astronómica e científica - do campo, portanto, dos factos  demonstráveis - dificilmente podemos deixar de a subscrever. Todavia, ao estabelecer um paralelo entre "planetas" e "Eloíns", e entre "ângulos" e "anjos", afastamo-nos do factual, e regressamos ao domínio da crença.

As duas hipóteses anteriores conduziram a uma terceira: de que "em Maçonaria, essas representações Alegóricas tem essas metáforas baseadas em «questões Morais»". Não é novidade que em maçonaria se faça recurso intensivo de símbolos, metáforas e alegorias para se transmitir ideias e princípios. A este respeito, nada de novo. É igualmente conhecido que a maçonaria terá ido "beber" a maior parte da sua simbologia de outras fontes, não criando coisas novas senão esporadicamente. Afinal, torna-se mais simples e eficaz transmitir uma ideia alicerçada sobre conhecimentos já consolidados do que tentar fazê-lo sobre terreno virgem. É verdade que muitos - a maior parte, diria - dos ensinamentos morais que a maçonaria transmite o são de forma alegórica, simbólica ou figurada. Não é por acaso que diz ser a maçonaria "um sistema de moral velado por alegorias e ilustrado por símbolos".

No entanto, não é correto identificar-se a maçonaria com o qualquer "conhecimento ancestral" que terá estado na origem das religiões, a não ser que tal seja feito, eventualmente, numa perspetiva antropológica e sociológica da História das Religiões - que não me parece ser o caso. A maçonaria, a este respeito, pretende apenas promover "a religião com que todos os homens concordam", conceito próximo do da "religião natural", ideia muito em voga no Iluminismo, segundo a qual haveria algumas características da crença religiosa que emanariam da essência da própria natureza humana. Não pretende, de modo algum, constituir ela mesma uma religião, ou reclamar-se detentora de qualquer conhecimento ancestral secreto, mas tão-somente promover a harmonia entre homens de crenças diferentes, na certeza de que o simples facto de terem crenças - mesmo que diferentes - é e deve ser um fator de união e identidade, e não de contenda.

A maçonaria não é detentora de nenhum "segredo oculto" sobre nenhum culto solar, nem detém nenhum conhecimento ancestral sobre o Sol, a Lua, as estrelas, os Astros ou o Zodíaco. Há, sim, símbolos da maçonaria que evocam esses corpos celestes, a começar logo pela questão de se chamar "luz" ao conhecimento. Todavia, são apenas isso mesmo: símbolos, alegorias, auxiliares de memória. Não há conhecimentos ocultos, fórmulas mágicas ou poderes escondidos. Só há trabalho, esforço e vontade de ser uma pessoa melhor - cada um à sua maneira.

É só isto, e não há nada que impeça um maçon de falar disto.

Paulo M.

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