Sinarquia – para além da política
Saint Yves d’Alveydre afirma que a Sinarquia é um governo social e não político. O que isto significa?
Em primeiro lugar, temos que a Sinarquia está encabeçada internamente por Hierarcas iluminados, os quais muitas vezes não exercem diretamente o governo sobre a sociedade, mas elegem ou escolhem as lideranças mais capazes, dentre os seus discípulos provados, os quais desta forma nem ascenderão ao poder por cobiça ou ambição, e nem disputarão entre si postos e cargos políticos, antes estando prontos para obedecer ao sagrado servindo no governo ou deixando de fazê-lo.
E em sua própria esfera, estes mestres não representam categorias sociais, e portanto não acarretam em instâncias de poder. A sua ação é de Conselho e a sua visão é holística e universal, sendo esta então a própria matriz da Sinarquia.
Desta forma, os Hierarcas das Idades pactuaram que deveriam tratar de escolher, idealmente, não apenas um representante para toda a sociedade, mas sim um representante para cada classe social, atuando todos em conjunto pelo verdadeiro bem comum. Esta é a razão horizontal da definição da Sinarquia como “governo conjunto”, ainda que tal coisa alcance também uma verticalidade através do co-governo das Hierarquias espirituais que se acham por detrás deste sistema.
Desta forma, mais que o governo de um árbitro universal, a Sinarquia representa com efeito o governo da Concórdia universal.
Assim, ao invés de haver um governante único supostamente universal, como são os monarcas e imperadores, ou uma ditadura de classes como no comunismo, ou mesmo um “rodízio” potencial de representantes sociais como pode ocorrer na Democracia (e que por vezes não passa de uma sucessão de pequenas ditaduras), na Sinarquia se trata de colocar todas as classes em pé-de-igualdade, não através de algum representante único e universal, mas de maneira formalmente democrática mediante a representação social plural..!
Afinal, por mais que um político eleito afirme que, chegando ao poder, tratará de “governar para todos”, como é costume fazer, na prática ele não pode apagar de supetão o seu histórico e nem esquecer as disputas eleitorais passadas e futuras. Como homem de partido, ele sempre colocará os interesses de sua classe em primeiro lugar.
Muitos de nós já terá se perguntado vez por outra, por que razão os candidatos aos cargos políticos, não se unem para compor um governo único, organizando assim uma plataforma comum com as propostas mais interessantes. É mais ou menos isto o que acontece na Sinarquia.
É certo que, havendo esta pactuação social, as classes sociais e seus representantes, tratarão de ser comedidos nas suas pretensões, buscando respeitar os interesses de todos. Alguns poderão dizer que isto ainda é uma utopia. Que “o homem é o lobo do homem” e que este pacto social é impossível de ser alcançado.
“Significa ademais -perguntarão-, que os trabalhadores se contentarão em servir, ou que a burguesia não desejará o poder, antes respeitando os autênticos ideais militares nacionalistas?” Isto é o que tem acontecido realmente na Índia, onde a casta-de-nascimento (jativarna) determina uma marca indelével no indivíduo.
Mas, não, não é assim, obviamente, que deve acontecer. É certo que a matriz social sinárquica necessita estar pautada pelo direito e pela justiça. Isto significa dizer, que numa sociedade sinarquista, haverá respeito vocacional e mobilidade social –coisas que comumente soam a utopias, com efeito, mas ainda assim habitam os sonhos dos melhores sociólogos...
Contudo, sabemos que mesmo na Índia védica, ou sobretudo no ciclo ariano do Brahmanismo, existiu um sistema sinárquico exemplar inspirado nas Leis de Manu. E que este modelo, com variantes, varreu boa parte da Antiguidade, legando mesmo resquícios nos tempos medievais.
A base das classes sociais, era um sistema de educação permanente chamadovarnashramadharma, a “lei das castas cíclicas”, onde os ashramas eram as etapas de vida capacitadoras das experiências sociais áureas ou ideais. Quanto mais um indivíduo se capacitava a experienciar os padrões ideais, mais ele poderia avançar nas verdadeiras categorias sociais védicas, como ideais consumatórios da experiência humana.
Não obstante, a certa altura esta situação se perdeu, sendo invertida e substituída pela primazia das castas-de-nascimento, coisa até então inexistente na prática.
É certo que tudo depende, acima de tudo, de uma sociedade inspirada, onde a justiça seja uma realidade fática, e não seja distorcida por questões de raça, classe, sexo ou credo.
Na prática, as instâncias de poder também podem ser distribuídas por camadas. Ao invés de dividir a nação entre regiões, ou até por novos países governados por uma ou por outra tendência social como forma de preservar a harmonia, os governantes sinárquicos atuam antes sobre esferas de poder ou de governo.
De tal sorte que o Ministério Espiritual atua a partir do âmbito nacional, o Ministério da Justiça atua a partir do âmbito regional, o Ministério da Economia atua a partir do âmbito estadual, e o Ministério do Trabalho atua a partir do âmbito municipal.
E o tema eletivo pode seguir o mesmo curso, sendo neste caso gradualmente direto do menor para o maior. Os Prepostos supremos, contudo, seriam escolhidos pelas próprias Hierarquias. Com isto, se afasta a idéia de algum “paternalismo” excessivo dos Mestres, atuando eles apenas nas esferas mais espirituais e refinadas da sociedade, e sem nunca substituir a responsabilidade e a ação do ser humano como tal.
Este é, em traços gerais, o governo social que a Hierarquia espiritual oferece de Modelo para a humanidade na fundação dos tempos, como um Ideal áureo e universal.
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